CASACOR volta à Avenida Paulista reforçada em artes, gastronomia e verde
Maior evento de arquitetura de interiores das Américas acontece no Conjunto Nacional entre 30 de maio e 6 de agosto
A CASACOR, maior evento de arquitetura de interiores das Américas, volta ao mezanino do edifício Conjunto Nacional, na Avenida Paulista — onde teve recorde de público no ano passado, 115 000 visitantes —, entre 30 de maio e 6 de agosto. Dessa vez, a mostra ocupa também o 2º andar do espaço, onde fica o bar Blue Note, com áreas ao ar livre.
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A atração cresceu. Os 11 000 metros quadrados terão 74 ambientes decorados entre 22 estúdios e lofts, onze casas e catorze jardins, praças e áreas de descanso. A edição também está mais ampla em interesses adjacentes à decoração. Trará uma dose maior de arte, com uma galeria e cinco áreas de exposições e instalações no percurso. A gastronomia ganhou o reforço do vegano Horta e da confeitaria de Isabela Akkari — além da volta do Badebec, do Myk e do bar Caracol. Há ainda uma minifloresta, convidados estrangeiros e uma série de estreantes de destaque — veja uma seleção de projetos a seguir. “O evento será um espaço de permanência, com música, drinques, compras e uma experiência divertida para o público”, diz André Secchin, diretor-geral da CASACOR.
Casas ancestrais
O arquiteto Bruno Carvalho, 47, voltou ao passado para encontrar as referências do espaço de 300 metros quadrados que exibe na CASACOR 2023, um dos mais amplos da mostra. As cores e texturas remetem a moradias primitivas como as escavadas nas rochas de Uçhisar, na Turquia, os templos avermelhados nas montanhas de Petra, na Jordânia, e as tradicionais casas de terracota colombianas. “São nossas moradas ancestrais. Fizemos uma pesquisa aprofundada, muito além do debate entre bonito e feio”, ele diz.
O ambiente mistura memória e futuro ao abrigar itens high-tech da LG, marca que patrocina o projeto. Também inclui um belo garimpo de móveis, como uma icônica cadeira de balanço de Michael Thonet do século XIX, uma mesa de jantar portuguesa do mesmo período, uma cadeira de Michel Arnault — um clássico modernista — e poltronas de tecido da premiada marca italiana Cassina. Já o sofá (na foto acima) é bem contemporâneo, com design da Brentwood. O destaque arquitetônico é a “caixa” do apartamento, em forma de uma estrutura quadriculada que delimita parte do teto (foto). Tem a volumetria inspirada em projetos do mexicano Luis Barragán.
Olhar estrangeiro
O casal de peruanos Santiago Roose, 48, e Augusta Pastor, 37, quebram uma escrita ao participarem da CASACOR de São Paulo, que não costuma ter escritórios estrangeiros na programação. Sócios do estúdio de design Allá, em Lima, foram convidados para a mostra após receberem três prêmios na CASACOR peruana no ano passado.
Na capital paulista, vão exibir uma espécie de instalação arquitetônica: um terrário com plantas resistentes que serve como parede do ambiente. Mandacarus, bromélias, cactus e outras espécies brasileiras ficam iluminadas entre as folhas de vidro. Ao centro, uma mesa de cozinha toda espelhada tem acoplada, em uma das pontas, uma pequena mesa de jantar para dois. Nas andanças pela região da Avenida Paulista, onde acontece o evento, Santiago viu as belezas — e não deixou de notar as agruras — da metrópole. “São Paulo tem prédios lindos. Mas fazem um contraste com a alta quantidade de moradores de rua, algo que não existe em Lima”, ele afirma. “O mezanino do Conjunto Nacional (sede da CASACOR) é um lugar muito especial, o que nos deixou feliz em participar da mostra”, diz.
Escultura no jardim
Um dos mais disputados paisagistas do país, Alex Hanazaki, 47, instalou uma escultura em meio ao jardim que trouxe à CASACOR de 2023. Os volumes retangulares, feitos de porcelanato (a fabricante Portinari patrocina o espaço), são uma referência ao horizonte de São Paulo. Também usou o material em uma parede inspirada nos cobogós (na foto, ao fundo e à dir.), projetada em tons bordô, bege e verde-oliva. Hanazaki relembra a importância da primeira CASACOR da qual participou, em 2002. “Minha carreira se consagrou a partir daquele momento”, ele diz, presente pela sexta vez no evento.
Hoje, o profissional comanda um escritório com mais de trinta arquitetos e paisagistas que, baseado em São Paulo, faz jardins pelo mundo — de mansões em Dubai a vilas europeias. “Estamos com um projeto que vai abarcar uma ilha inteira na Grécia”, conta. Em breve, a marca estreará em outro segmento: o urbanismo. O escritório vai participar da reurbanização de parte da orla da Praia Brava de Itajaí, em Santa Catarina, uma iniciativa bancada por uma parceria entre investimentos públicos e de empresas.
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A casa da artista
Estreante na CASACOR, a arquiteta Stephanie Ribeiro, 29, criou um estúdio “que é quase uma segunda pele”, como define — proposta que combina com o tema do evento neste ano, “Corpo & Morada”. O projeto foi feito em parceria com José Carrari Filho, 31, e Gabriel Ramires, 30, ex-colegas de faculdade e sócios da profissional no coletivo Isso não é um estúdio. Tons terrosos, móveis delicados e formas curvas nas paredes e janelas trazem uma sensação de acolhimento ao espaço. “As curvas ‘roubaram’ parte da área do ambiente, mas abrimos mão disso para defender uma ideia — de que a arquitetura pode ser usada como decoração”, explica a arquiteta.
Nascida em Araraquara, no interior paulista, Stephanie brilhou nas últimas temporadas do programa Decora, da GNT. “No momento, as gravações estão em pausa”, conta. No début da CASACOR, os autores imaginaram um estúdio feito para ser habitado por uma artista — para isso, lançaram mão de um mobiliário bastante artístico. Um dos destaques é o móvel artesanal (foto abaixo) feito por Maria Fernanda Paes de Barros, que produziu apenas sete exemplares do item. Nas paredes, além de quadros e esculturas de viés feminino, há uma sequência fotográfica da premiada artista brasileira Gretta Sarfaty, de 1978. Nos cantos, usados como esculturas, ficam vasos de alto padrão da grife Organne.
Eficiência em 34 m2
Moradora do Jardim Colombo, uma comunidade de baixa renda perto da Vila Sônia, na Zona Sul, a arquiteta Ester Carro, 28, tem uma parceria socioambiental com a CASACOR desde 2020. O projeto dela no bairro, chamado Fazendinhando, reutiliza sobras de revestimentos e outros materiais do evento para requalificar as casas dos moradores. “Já reformamos 85 ambientes”, ela diz. Além disso, a iniciativa capacitou mais de 150 mulheres da região para trabalhar em obras.
Em 2023, a profissional estreia na programação da CASACOR com um ambiente batizado de Motirõ — a pintura e a instalação dos revestimentos foram feitas por mulheres da comunidade. Com 34 metros quadrados, o projeto reúne de maneira eficiente todas as funções de uma moradia, como quarto, sala, banheiro, cozinha e um hall de estudos. “A ideia é mostrar que mesmo casas simples podem ter tudo”, diz. Além disso, Ester prova que a arquitetura pode ser cuidadosa e atenta a problemas reais. “O beliche tem uma cama menor, onde a criança dorme separada dos adultos, para prevenir assédios.”
Florestas urbanas
O casal Ricardo e Alessandra Cardim, 44 e 47, ficou conhecido pelas iniciativas de reflorestamento urbano que trouxeram milhares de árvores nativas a São Paulo de 2016 para cá — algumas então extintas na cidade. “Cerca de 90% dos projetos de paisagismo do país usam espécies estrangeiras, o que é um absurdo dada a biodiversidade do Brasil”, afirma o botânico e paisagista. Entre as empreitadas na cidade, destacam-se a floresta do Parque Global (megaempreendimento perto do Morumbi), o Parque Gamaro (no Brooklin, que terá mais de sessenta araucárias em um bosque aberto) e as duas “Florestas de bolso” atrás da igreja de Pinheiros, na Zona Oeste. Estreantes na CASACOR, terão dois espaços no evento: um jardim ornamental na entrada, com guaimbés e araucárias jovens, e uma minifloresta de 300 metros quadrados com jequitibás e árvores frutíferas da Mata Atlântica. “Muitos acham que São Paulo não tinha araucárias, mas havia até na Avenida Paulista”, diz a arquiteta.
Nem só o cangaço
A ancestralidade de Gleuse Ferreira, 41, está nos livros de história: a arquiteta é bisneta do casal Lampião e Maria Bonita, os líderes cangaceiros do início do século 20. Os projetos dela, no entanto, têm ares contemporâneos. “Minhas referências são urbanas, gosto de museus, galerias. Nada de caricato, de ‘casinha de taipa’”, diz. Após estudar em países como Espanha, Alemanha e Inglaterra, Gleuse voltou a Aracaju e abriu um escritório de arquitetura, em 2014. Em dezembro, ela alugou um apartamento em São Paulo, onde pretende inaugurar uma filial da marca em breve. Estreante na CASACOR, ela vai ocupar um dos espaços de passagem dos visitantes, onde instalou um painel de 35 metros da designer Jade Marangolo — um terço dele é pintado, o resto, estampado em papel de parede.
Os móveis que decoram o corredor são do premiado designer catarinense Jader Almeida, como o banco Basso e a mesa Jardim (na foto acima), além das trinta luminárias fixadas sobre o painel. “Jader criou uma nova versão da icônica mesa Jardim para a CASACOR, que consegue recarregar celulares apoiados sobre ela, por indução eletromagnética. É para incentivar as pessoas a pararem um pouquinho por ali”, diz a arquiteta.
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CASACOR 2023 — Conjunto Nacional, Avenida Paulista, 2073. Ter. a sáb., das 12h às 22h; dom. e feriados, das 11h às 21h.♿ 101 reais (inteira) e 51 reais (meia), com pacotes promocionais. Compre aqui.
Publicado em VEJA São Paulo de 31 de maio de 2023, edição nº 2843