Casa de jogos na Santa Cecília é investigada por máquinas que lembram caça-níquel
Donos afirmam que equipamentos estão dentro da lei
Fachada emoldurada em madeira e, do lado de dentro, nove máquinas modernas, que aceitam notas em dinheiro, contam com painel touch screen e uma roleta na tela, que gira e dá mais ou menos pontos, a depender da combinação das três figuras no visor. O espaço em questão, a Arena Skill, fica na Alameda Barros, Santa Cecília, e ficou aberto por dois meses até ser fechado no dia 25 de julho: a polícia visitou o local e recolheu todos os equipamentos do endereço para perícia.
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As máquinas, segundo a Skill Games, dona do local, operam dentro da lei e são diferentes de um caça-níquel, ilegal no Brasil. “Você tem a opção de subir e descer qualquer uma (das três figuras centrais). Tem sistema de bonificação extra, carta curinga. É preciso pensamento rápido, uma agilidade do cliente”, afirma Jefferson Voigtlander, diretor-executivo da empresa, que defende que os equipamentos oferecem jogos de habilidade (permitidos), e não de azar.
A reportagem visitou o endereço em 20 de julho e pediu informações após se apresentar como possível cliente. Além da explicação parecida com a de Voigtlander, a funcionária afirmou que o interessado pode resgatar os pontos adquiridos. “Se eu coloquei 20 reais e agora está (o equivalente a) 300 reais (na pontuação), vou te pagar os 300”, disse a mulher. “Se o cliente quiser resgatar, a empresa analisa, verifica se cai no imposto de renda, senão, já faz o depósito”, diz Voigtlander.
“O que vai determinar a licitude é a análise do que determina a vitória. Tradicionalmente um caça-níquel é uma máquina que se pratica jogo de chance”, afirma o advogado Fabiano Jantalia, do Jantalia Advogados. “Salvo melhor juízo, nesse caso ainda assim o resultado não depende somente da habilidade, mas pode ser ditado pela sorte”, analisa o advogado Fabricio Posocco, do Posocco & Advogados.
A empresa importou os equipamentos dos Estados Unidos: a Skill faz parte de um grupo chileno. Segundo Voigtlander, o endereço na Santa Cecília é um protótipo, o primeiro no país da empresa, que quer expandir. “Temos um plano de franquiar o nosso negócio”, diz o diretor-executivo.
E as apreensões da polícia? “Temos laudos a favor (da legalidade). Não entendemos por que isso está acontecendo”, afirma Voigtlander. A Skill encaminhou para a reportagem documentos relacionados à importação das máquinas, da Receita Federal, e um laudo do Instituto de Criminalística de São Paulo, de 2021. Procurada, a Receita afirmou que as informações são “protegidas por sigilo fiscal”. A Polícia Civil, que apreendeu equipamentos no local em junho e, em julho, retornou ao endereço e recolheu o restante, diz por meio da Secretaria de Segurança Pública (SSP) que as máquinas foram levadas para perícia técnica e que elabora novos laudos para “identificar se há alguma atividade ilícita” nos equipamentos.
Publicado em VEJA São Paulo de 9 de agosto de 2023, edição nº 2853