Casa de Francisca busca reativar a noite na Sé com novos espaços

Com cine-teatro no porão e bar no térreo, casa de shows dá novo fôlego à recuperação do movimento noturno no Centro

Por Tomás Novaes
16 fev 2024, 06h00
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A Casa de Francisca, com obra da prefeitura ao redor: novidades a partir de março (Leo Martins/Veja SP)
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Casa de shows que resiste há oito anos como um dos poucos ambientes noturnos da região da , a Casa de Francisca, no primeiro andar do Palacete Tereza Toledo Lara, dará mais um passo na ocupação do Centro: a partir de 8 de março, terá um cine-teatro no porão e um bar no térreo, aberto para a rua.

A música não deixará de ser o guia da programação gratuita dos novos espaços. O bar, chamado Largo, funcionará de terça a domingo, dia e noite. “Todo fim de tarde teremos discotecagem em vinil. Diferente dos listening bars, com o ambiente fechado e silencioso, nosso projeto será voltado para a rua, para fora”, conta Rubens Amatto, fundador e curador da casa.

Além disso, o espaço terá comes e bebes e atividades como rodas de samba na calçada aos finais de semana, também ligadas ao porão. “O cine-teatro será um espaço de jogos, com sinuca e pingue-pongue, e também vai abrigar debates, conversas, sessões de cinema, shows e festas.”

A vocação do lugar para a música é antiga. Conhecido como “a esquina musical”, o ponto de encontro entre a Quintino Bocaiuva e a Rua Direita abrigou a Casa Bevilacqua, primeira loja de instrumentos de São Paulo, além da Rádio Record e da editora Irmãos Vitale.

Há pelo menos vinte anos, outras atividades tomaram conta do lugar — o térreo abrigava uma empresa de telefonia, e o porão, o refeitório de loja de calçados vizinha. Em 2016, a Casa de Francisca trocou seu pequeno endereço nos Jardins pelo primeiro andar do palacete. Mas tudo mudou com a pandemia.

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Imagem ilustra como ficará o bar: aberto para a calçada (Matheus Alves/Divulgação)
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“O Centro se transformou, tanto pelo abandono do poder público quanto pelo aumento exponencial de pessoas em situação de rua. Pela primeira vez, começamos a sentir a região mais perigosa — ironicamente, até então havíamos tido mais problemas (de segurança) nos dez anos que ficamos nos Jardins”, conta Rubens.

No período do isolamento, a casa sobreviveu por meio de financiamento coletivo, mas os demais estabelecimentos do edifício não resistiram. Assim nasceu a oportunidade de alugar os espaços, e, com uma linha de crédito do governo estadual, reformá-los.

De um ano para cá, outra mudança intensa aconteceu na região do Triângulo Histórico. “Depois do abandono, houve uma reação muito grande dessa gestão municipal, e a gente quer acreditar que não seja por conta do ano eleitoral. A região central é muito grande e complexa, mas o nosso pedaço está bem seguro, extremamente policiado, dia e noite”, diz Rubens — há anos, a Casa de Francisca mantém uma equipe de segurança privada, e, com os novos projetos, aumentará o seu efetivo.

Coronel Álvaro Camilo, subprefeito da desde fevereiro de 2023, comenta que a principal novidade é o aumento de agentes na Atividade Delegada, que oferece um ganho extra aos policiais militares que trabalharem em dias de folga.

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O porão: espaço de convivência (Matheus Alves/Divulgação)

“Essas vagas dobraram, de 1 200 para 2 400, todas no Centro. A prefeitura também aumentou o valor da diária em 20% em toda a cidade, que soma 30% na região central e 20% à noite. Ou seja, quem trabalhar no período noturno em uma área estratégica, como a Praça da Sé, terá 70% de aumento no valor da diária. Tenho 1 200 vagas hoje (na subprefeitura da Sé), todas preenchidas”, explica, também citando medidas de zeladoria e a retirada de barracas que eram mantidas no marco zero da cidade.

Quem passou pela região nas últimas semanas pôde perceber que o piso do calçadão está sendo trocado. “A pedra portuguesa está sendo substituída por um piso de concreto, semelhante ao da Avenida Paulista. São 23 ruas, com investimento de mais de 60 milhões de reais”, diz o subprefeito.

O uso do calçadão é tema de discordância entre o espaço cultural e a gestão municipal. “A minha ideia, que pedi para ser incluída no Plano Diretor, é que seja permitida a entrada de veículos em toda a região do calçadão, a partir das 20h até de manhã, para fomentar os estabelecimentos a funcionarem até mais tarde”, diz Camilo.

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Rubens discorda da medida. “Isso é uma catástrofe. É o pensamento mais precipitado sobre a cidade, achar que é o carro que traz a segurança. É uma lógica de valets, de frequentar o Centro desde que o carro pare na porta do local”, disse o curador.

Para ele, outras medidas são prioritárias. “A violência que acontece em algumas regiões é fruto de uma metrópole desocupada. As principais cidades do mundo que revisitaram os seus pontos centrais fizeram exatamente o contrário: investiram no transporte público e na segurança para as pessoas ocuparem e transitarem pelas ruas.” ■

Publicado em VEJA São Paulo de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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