Bob Wolfenson, conhecido pelos ensaios de moda e nus, lança livro sobre apreensões
Fotógrafo registrou itens recolhidos pela polícia estadual em seis cidades do país
No escritório de Bob Wolfenson, localizado em seu estúdio na Vila Leopoldina, retratos ampliados da modelo Gisele Bündchen e do cantor Caetano Veloso dividem espaço com a imagem de um carrinho de supermercado cheio de metralhadoras. Intrigante em um primeiro momento, a contradição define a carreira do fotógrafo paulistano, mais conhecido pelos trabalhos com moda e publicidade, além dos ensaios de mulheres nuas. Ao mesmo tempo, Wolfenson, de 55 anos, mantém uma respeitada produção paralela, de cunho mais autoral. Depois de clicar cenários lúgubres de Cubatão em ‘A Caminho do Mar’, captar prédios paulistanos degradados em ‘Antifachada’ e retratar famílias em ‘Encadernação Dourada’, ele retorna com uma nova série, ‘Apreensões’. O conjunto foi reunido pela Cosac Naify em livro com lançamento previsto para sexta (10), às 19 horas, durante a feira SP-Arte/Foto, e fica em cartaz até 10 de outubro no Centro Universitário Maria Antonia.
‘Apreensões’ surgiu da admiração de Bob Wolfenson pelo canadense Robert Polidori. Colaborador da revista ‘New Yorker’, Polidori registra cenários devastados por grandes catástrofes, a exemplo de Chernobyl e de Nova Orleans logo após a passagem do furacão Katrina. “Ele me tocou ao jogar luz nova sobre as paisagens. Conseguiu fazer as pessoas olharem aqueles destroços de outra maneira”, diz. A partir daí, Wolfenson resolveu fotografar itens recolhidos pela polícia estadual em seis cidades do país — São Paulo, Belo Horizonte, Juquitiba (SP), Cuiabá, Sinop e Guarantã do Norte (todas em Mato Grosso) —, de armas e balas a animais silvestres, passando por telefones celulares, carros roubados e máquinas caça-níqueis. O resultado impressiona pela crueza e pelo distanciamento frio e proposital do fotógrafo. “Na montagem da exposição fiz questão de empilhar as obras, não pintar as paredes, estimular a bagunça. Não era para ser uma mostra de bom gosto, estilizada e bela”, afirma. “Viajava centenas de quilômetros de avião para chegar aos lugares mais sórdidos e fazer as fotos. Era o anti-glamour total.”
Wolfenson começou a fotografar aos 16 anos, quando se tornou estagiário de um estúdio da Editora Abril, que publica VEJA SÃO PAULO. Três anos depois, ingressou no curso de ciências sociais da USP, que não completou. “Como filho de comunistas radicais, eu militava por arte engajada durante as aulas”, conta. “No trabalho, tinha a impressão de que fazia apenas coisas frívolas para as revistas femininas.” Logo a contradição parou de incomodar, e ele resolveu investir na carreira voltada para a moda. No início dos anos 80, foi assistente do cultuado fotógrafo Bill King, em Nova York. Voltou para o Brasil um ano e meio depois e não parou mais.
Nunca chegou a contabilizar quantas capas fez para PLAYBOY. Foram 31 — a mais recente, a da atriz Cleo Pires, no mês passado. Considera seus ensaios mais marcantes os de Maitê Proença (1996) e Alessandra Negrini (2000). Quem ainda gostaria de fotografar? “Ronaldinho Gaúcho”, declara, depois de pensar por algum tempo. Editor da publicação semestral ‘S/N’, Wolfenson ainda não sabe qual será o próximo projeto autoral. Mas ele virá. “Essa tensão entre dois universos é a mola propulsora da minha produção. Tenho horror a guetos.”