Pais levam bebês a teatros e casas de espetáculos
Ideia é inserir os pimpolhos na vida cultural cada vez mais cedo
Todo sábado e domingo, pela manhã e à tarde, são encenadas na cidade cerca de sessenta peças infantis (VEJA SÃO PAULO publica em média vinte delas a cada edição no Roteiro da Semana, em sistema de rodízio). A maioria dessas montagens destina-se a meninos e meninas com 3 anos ou mais, faixa etária em que eles começam a ocupar uma poltrona — e a pagar pelo ingresso. Há raríssimas opções para os menorzinhos, mas isso não reprime os pais paulistanos quando o assunto é diversão. Sempre foi comum que crianças de colo acompanhassem a família no programa voltado ao irmão mais velho. O cenário, entretanto, tem mudado, e cada vez mais se veem nas plateias pais apenas com filhos beeem pequenos.
Em algumas sessões da sala B do Teatro Alfa, eles somam 5% do público (ou dez bebês). O Teatro Folha, que costuma improvisar um “estacionamento” de carrinhos na entrada da sala, recebe até quinze espectadores de fraldas nas sessões do musical “Os Saltimbancos”. Nada se compara ao movimento em frente a um galpão na Mooca, sede do Grupo Sobrevento. Nos fins de semana, forma-se uma grande fila para disputar as setenta vagas (35 bebês e 35 adultos por sessão) para “Bailarina” e “Meu Jardim”, as duas peças bacanas para nenês em cartaz ali.
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Responsáveis pela trupe, o carioca Luiz Cherubini e a chilena Sandra Vargas pesquisaram o gênero “teatro para bebês” durante seis anos, em conjunto com a companhia espanhola La Casa Incierta. As mimosas montagens trazem músicas delicadas, gestos calmos e cores suaves. Os frequentadores de chupeta são acomodados em encostos de espuma e ficam vidrados a cada movimento dos atores. Até o saguão do espaço foi preparado para recebê-los, com brinquedos de madeira, pufes coloridos e fraldário. A dona de casa Sonia Barone, avó de Nina, de 1 ano, levou a netinha para as duas sessões. “Ela prestou muita atenção e saiu imitando a bailarina”, conta. O italiano Samuel Perrella e a islandesa Signy Valbjorg, pais de Aron, de 4 meses, junto com a atriz Gina Monge e a bióloga Viviane Schuch, mães de Amaya e Nicolas, ambos de 3 meses, também aprovaram o passeio. “As pessoas não costumam ser muito tolerantes com bebês por aí”, diz Gina. “Por isso, sempre procuro espetáculos assim.”
Em geral, as famílias mostram-se muito ansiosas por iniciar logo a meninada nos programas culturais. A primeira vez que a arquiteta Fernanda Costa Passos e o marido, Oliver Scheepmaker, levaram Felipe ao teatro ele tinha 6 meses e sua irmã Luiza, 2 anos e meio. Hoje com 1 e 3 anos, respectivamente, eles já viram shows do Pequeno Cidadão e do Palavra Cantada, as peças “Peter Pan”, as duas montagens do Grupo Sobrevento e “Os Saltimbancos”. “Acho importante trazê-los desde cedo e criar um repertório cultural”, diz Fernanda. “Aos poucos eles vão aprendendo a prestar atenção.”
Por tornarem a prática recorrente, alguns papais e mamães se descuidam e não mantêm os rebentos concentrados e quietos na poltrona. O ambiente escuro e desconhecido do teatro pode fazer o bebê abrir um berreiro durante o espetáculo, constranger os acompanhantes, incomodar os demais espectadores e até desconcentrar o elenco. “Se o filho não se comportar, levante-se e saia da sala”, afirma o jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto, crítico de teatro infantil há mais de vinte anos. Deve-se evitar também explicar passo a passo o enredo à garotada. “Em muitas situações, quem atrapalha são os adultos cochichando no ouvido do filho. O que importar para a criança ela vai entender, e isso já vai fazer valer o ingresso.”
Gabriela Romeu, editora assistente do suplemento Folhinha, do jornal “Folha de S.Paulo”, acompanha o nicho há oito anos e já presenciou situações nas quais os mais inquietos conversam incessantemente com os atores no palco ou fazem ruídos abrindo embalagens de balas, chocolates ou salgadinhos sem ser repreendidos pelos adultos. “A criança começa a achar que o espetáculo é ela”, diz. “Não dá para conversar ou comer dentro da sala, pois estão contando uma história e temos de parar e ouvir.” Levar os pequeninos a apresentações musicais pode ser um bom caminho para começar, defende Sandra Peres, da dupla Palavra Cantada. “Numa peça, talvez os menorzinhos não entendam o contexto e as palavras, mas em um show eles reconhecem a música e interagem mais”, acredita. A pedagoga Carol Barretti e seu marido, Daniel, se programaram para levar Francisco, de 5 meses, ao teatro pela primeira vez para ver o grupo musical Tiquequê. O menino conhecia as canções e ficou vidrado. Bastou Carol perceber a agitação do filho para se levantar e sair da sala B do Teatro Alfa. “Ele não chorou, mas não iria aguentar ficar o tempo todo lá”, disse. Como se vê, não precisa forçar a barra.
Dicas para uma estreia tranquila
Celular
O programa é para a garotada. Mas isso não quer dizer que adultos possam ficar checando e-mails e lendo mensagens no celular.
Hora do lanche
Não deixe a meninada comer dentro do teatro e não abra embalagens que façam barulho.
Tim-tim por tim-tim
Evite descrever cada cena do espetáculo no ouvido da criança. Vivenciar a experiência, mesmo que a atenção esteja voltada para cores, luzes e músicas, já faz valer o ingresso. Além disso, os cochichos atrapalham.
Brinquedos
Jogos, chocalhos, ursinhos e bonecas são diversão para outra hora. No teatro, deve-se prestar atenção no que acontece no palco.
Centro das atenções
É comum a criançada se empolgar ao ser convidada para interagir. Alguns já meio crescidinhos, no entanto, falam mais que o próprio elenco e desviam a atenção da peça. Nesse momento, cabe aos adultos impor limites