Baladas sofrem com superlotação, filas e falta de infraestrutura
Nos últimos tempos, cair na farra tem demandado uma dose generosa de paciência por parte dos baladeiros paulistanos
O designer Bruno Grandino chegou à festa mensal PostiT, no clube Vegas, na Consolação, por volta da meia-noite do dia 16 de janeiro. Os relógios marcavam 3 horas da manhã e o rapaz de 22 anos ainda aguardava na fila. Até que desistiu. “Fui desrespeitado”, afirma. Nos últimos tempos, cair na farra tem demandado uma dose generosa de paciência por parte dos baladeiros paulistanos. Na PostiT, por exemplo, é tanta gente que a fila bloqueia toda a calçada do número 765 da Rua Augusta. Além disso, o aglomerado invade também uma das faixas da via, atravancando o trânsito. Lá dentro, reina um calorão, que faz com que os dançarinos mais empolgados cheguem em casa cobertos de suor. Na hora de pagar, adivinhe: mais irritação e filas de espera. Não é só no Vegas que isso acontece. Essa é apenas uma das muitas boates da cidade — no total são 2 000 estabelecimentos desse tipo, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) — que apresentam empecilhos para a diversão de seus frequentadores. Para avaliar quesitos como filas, serviço e instalações, percorremos nove baladas entre os dias 15 e 30 de janeiro.
Cida Souza
Burburinho em frente ao Villa Country, na Barra Funda: sistema eficiente de ingresso pré-pago
O concorrido Kia Ora, misto de pub e casa noturna no Itam Bibi, é um dos campeões de reclamação, por causa de sua fila de dobrar o quarteirão. A professora Luciana Schaefer já amargou mais de duas horas na rua e resolveu adotar uma nova tática: chegar cedo, por volta das 20 horas, horário em que as portas são abertas. “Pago mico de ficar aqui sem ninguém, mas pelo menos garanto meu espaço”, diz ela, entre esbarrões e empurrões, comuns no lotado ambiente. Conseguir um drinque também pode ser desafiador. Banquinhos em frente ao balcão dificultam a passagem. O sócio César Ranieri afirma que depois de o Kia Ora atingir a lotação máxima de 450 pessoas não há solução: é necessário esperar que alguém saia para dar lugar a outra pessoa, num sistema de rodízio. “Quanto mais gente, melhor seria para nós. Mas não podemos prejudicar o conforto de quem está lá dentro.”
Além da falta de infraestrutura, um serviço desencontrado faz com que alguns lugares percam pontos. O refinado Cafe de la Musique, no Itaim, peca pela quantidade de mesas na pista (por volta de dez). Esses obstáculos fazem com que os garçons circulem com dificuldade. O chão é imundo. Copos quebrados e guardanapos estão por toda parte. “A equipe é bem treinada, mas fica difícil localizar a sujeira”, afirma a coordenadora de marketing Cláudia Gomes. Em Pinheiros, na Gambiarra, que rola semanalmente no Open Bar Club, há goteiras, o chão do mezanino treme com movimentos mais bruscos e o ambiente é para lá de abafado. São três saídas diferentes, com seis caixas no total — insuficientes para atender adequadamente os cerca de 1 000 frequentadores. O sistema de compra antecipada de ingressos ajuda a fluidez na porta do Villa Country, na Barra Funda, que recebe em média 2 000 pessoas por noite. Porém, a Avenida Francisco Matarazzo sofre com o movimento intenso do reduto sertanejo e de mais duas casas coladas a ele. Uma de suas faixas fica completamente bloqueada por um punhado de jovens, comprometendo o tráfego local.
Cida Souza
Bagunça na saída da Gambiarra, no Open Bar Club: apenas seis caixas para atender cerca de 1 000 pessoas
Depois de instaurada a lei antifumo, alguns empreendimentos adotaram novos sistemas para facilitar a vida dos fumantes. Um deles é o Hot Hot, na Bela Vista, adepto da comanda pré-paga. Para ir embora é uma beleza, porém se o cliente quiser de volta parte do valor que carregou no cartão não há jeito. A boate não restitui o dinheiro, mas possibilita o uso em outra visita. “Não somos um banco”, afirma uma das donas, Flávia Ceccato. “Pagamos taxas a cada compra.” O advogado especialista em direito do consumidor Sergio Tannuri afirma que o procedimento é legal. “Foi uma opção do cliente depositar determinada quantia.” Algumas práticas facilmente encontradas pelos clubes afora, no entanto, são ilegais. A consumação mínima, por exemplo, é uma delas. Ninguém deve se sentir obrigado a comprar algo que não queira. Cobranças de valores aleatórios pela perda da comanda também são injustificadas. “É dever do prestador de serviço ter um controle do gasto de cada cliente”, diz Tannuri.
Casa noturna
Fila para entrar
Instalações
Serviço
Fila para pagar
CAFE DE LA MUSIQUE
Apesar da aglomeração em frente à casa, a hostess simpática e eficiente conseguia agilizar o acesso
Mesas no meio da pista atrapalhavam a circulação
Funcionários responderam com má vontade a perguntas sobre a casa e o local da saída
Seguranças não conseguiam conter o empurra-empurra. Houve espera de trinta minutos
OPEN BAR CLUB (GAMBIARRA
Apesar dos três acessos bem sinalizados, a espera chegava a quarenta minutos
A casa tem goteiras e ar-condicionado que não dá conta do recado. No mezanino, o chão treme quando os frequentadores se empolgam na dança
Os atendentes foram simpáticos e prestativos, tanto no bar quanto na recepção
Há apenas seis caixas para uma festa que recebe cerca de 1 000 pessoas. A espera foi de quase uma hora
GLÓRIA
Não é o tipo de casa em que se passa mais tempo fora aguardando do que dentro se divertindo. A espera, bem organizada, foi de apenas quinze minutos
Grandes sofás, temperatura amena e banheiros limpos. O único senão é que, de tão abarrotada, é impossível ver o chão na área externa
Os bartenders foram velozes e os seguranças, atentos e gentis. Havia funcionários ranzinzas no caixa
A espera foi de vinte e cinco minutos. O pagamento é feito num local isolado do auê
HOT HOT
Apenas quinze minutos de espera, mas alguns clientes tiveram difi culdade com o sistema de pagamento da casa, de comandas pré-pagas
Com pista espaçosa e lounge confortável, a casa acolhe três máquinas de docinhos e bebidas
Os funcionários do bar foram prestativos e rápidos
Apesar de polêmico, o sistema pré-pago tem a vantagem de diminuir a demora ao sair
KIA ORA
Dava a volta no quarteirão. Houve quem amargasse duas horas de espera
Havia mesas de sobra para descansar, mas, por causa de alguns banquinhos, o acesso ao bar era desafiador
Havia atendentes solícitos e em quantidade suficiente para servir o público
Por ocupar um espaço de passagem, a fila da saída se transforma em uma bagunça. A espera foi de trinta minutos
SONIQUE (CAFÉ COM VODKA)
A entrada estava livre e a hostess foi muito educada
Na noite GLS, os homens dominavam os banheiros femininos e o pessoal no salão lembrava sardinha enlatada
Funcionou até que o local começou a encher, quando os garçons se perderam na multidão
Mesmo no horário de pico, era possível sair sem grandes dores de cabeça. A espera foi de quinze minutos
VEGAS (POSTIT)
O amontoado de gente chega a invadir uma pista da Rua Augusta. Isso atrapalha o trânsito e põe em risco a clientela
Muito, mas muuuito calor. Pouco, beeem pouco espaço para dançar
Não falta boa vontade aos atendentes do bar. Mas eles não dão conta da quantidade de pedidos
Quem entra, quem sai e quem quer recarregar a comanda fica preso num bololô de dar nos nervos. Houve espera de uma hora e meia
VILLA COUNTRY
Mesmo vagarosa, a fila fluía bem, devido ao sistema de venda antecipada de ingressos
Há quatro ambientes espalhados por confortáveis 12 000 metros quadrados. Exceção: um chafariz dificulta a passagem na pista menor. O chão brilhava
Há seguranças competentes de sobra
Os cowboys utilizavam um eficiente sistema de fichas pré-pagas
THE WEEK
Os acessos para carros e pessoas eram bem organizados e sinalizados
Há pistas de dança amplas. A área a céu aberto facilita a vida dos fumantes
Mesmo com muita gente em volta, era fácil conquistar a atenção do barman para fazer um pedido
Com filas que serpenteiam, os baladeiros podem optar por caixas para pagamentos com cartão ou dinheiro. A espera foi de meia hora
Pésimo
Regular
Bom
Muito bom