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Com vocação turística, Avenida Atlântica, na Zona Sul, sofre com abandono

À margem da Guarapiranga, via tem crise comercial, imóveis desocupados e moradores de rua

Por Carolina Moraes
Atualizado em 14 fev 2020, 16h01 - Publicado em 8 jun 2018, 06h00
 (Mario Rodrigues/Veja SP)
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Tradicional polo de lazer na Zona Sul, a Avenida Atlântica — chamada de Robert Kennedy entre 1979 e 2016, até voltar ao nome original — sofre com imóveis e terrenos descuidados há alguns anos. Mais de sessenta comércios deixaram a via desde 2011 e 37 endereços estão vagos. Com os residenciais, são sessenta locais disponíveis para venda e aluguel, 15% do total do pedaço.

Há casos de imóveis comerciais que demoram até quatro anos para ser ocupados. Essa crise colaborou inclusive para uma pequena queda no movimento imobiliário de Interlagos, o principal bairro do entorno. Ali, o valor do metro quadrado para venda caiu 3,4% entre março de 2017 e março de 2018, chegando a 6 000 reais. No mesmo período, a média da capital ficou estável, segundo o Imovelweb.

Avenida Atlântica
Locais estão em situação de abandono (Leo Martins/Veja SP)

Como não poderia ser diferente, comerciantes sentem dificuldade em manter os negócios abertos. A loja Tom Mármores permaneceu menos de um ano na Avenida Atlântica. “O volume de vendas não era suficiente para cobrir os custos”, diz a gerente Stefany Vieira. A baixa atividade comercial e a alta concentração de imóveis vazios contribuem para a proliferação de esqueletos de prédios pichados com vidros trincados na via, que liga o Largo do Socorro à Avenida Teotônio Vilela.

Fechado desde a década de 80, o Santapaula Iate Clube é um dos principais locais sem funcionamento. O prédio, no quarteirão da Rua Berta Waitman, e a garagem no lado oposto foram idealizados pelo prestigiado arquiteto João Batista Vilanova Artigas. Um projeto para transformar a estrutura principal em centro de convenções e a garagem em restaurante foi aprovado em 2010 pelo conselho municipal de patrimônio histórico (Conpresp), mas não saiu do papel por falta de recursos.

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“Trata-se de uma construção muito importante para a história da arquitetura”, conta o arquiteto Maurício Xavier, responsável pelo plano de revitalização. A situação de abandono tem impacto social. Desde 2015, há concentração de moradores de rua no canteiro central da avenida. A prefeitura regional diz que o número de barracas chegou a cinquenta no fim do ano passado.

Avenida Atlântica
Negócios para locação: pelo menos 37 estão disponíveis por ali (Alexandre Battibugli/Veja SP)

À margem da Represa de Guarapiranga, a então Robert Kennedy viveu uma fase áurea nos anos 60 e 70, quando seus clubes náuticos atraíam muitos paulistanos. “O Santapaula era frequentado pela alta sociedade”, relembra o administrador Robert Smith, morador da região há quase cinquenta anos. Após um primeiro período de decadência, a via teve um momento de ascensão nos anos 80, com o surgimento de casas noturnas. A Reggae Night, que fechou as portas em 2005, chegava a abrigar 4 000 pessoas em uma noite.

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Mas esse sopro de renovação não sobreviveu à década seguinte. Hoje em dia, não existem projetos para recuperar a vocação turística da área, apenas medidas pontuais. Um recente trabalho de recapeamento, por exemplo, melhorou as condições das pistas. “Aqui as coisas ocorrem apenas de forma circunstancial”, lamenta o prefeito regional da Capela do Socorro, João Batista de Santiago. A última intervenção mais profunda remonta a 2005, com a remoção de ocupações irregulares na margem da represa.

Avenida Atlântica
Moradores de rua no canteiro central: cenário desde 2015 (Leo Martins)

“Algumas regiões foram recuperadas, mas é necessário mais fôlego”, diz a arquiteta Regina Monteiro, presidente da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana. Especialistas reforçam a importância do local para o lazer na cidade. “Houve uma mudança no uso do espaço e o poder público precisa estar atento a isso”, diz o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, José Geraldine Jr.

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