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Roubo de alianças cresce 36% na capital em meio a aumento no preço do ouro

A média é de cerca de dezoito alianças roubadas por dia em 2025; polícia investiga onze lojas da Rua do Ouro possivelmente relacionadas à 'mainha do crime'

Por Ana Mércia Brandão
17 Maio 2025, 07h00
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Apreensão de joias feita pelo Deic: alianças são as mais visadas (Deic/Divulgação)
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Um passeio com a tia se tornou um evento traumático para a consultora de RH Alexsandra Ganzer, 54. Eram 17h de uma sexta-feira de janeiro deste ano quando ela, ao parar no sinal vermelho, foi surpreendida por batidas ininterruptas no vidro de seu carro. A via — a Avenida General Mac Arthur, no Jaguaré, próxima ao cruzamento com a Avenida Corifeu de Azevedo Marques — estava cheia. As batidas logo revelaram ser vindas da arma de um assaltante, utilizando uma bolsa de delivery de aplicativo. O pedido do homem foi apenas um: “Passa a aliança!”. Como Alexsandra, pelo menos 1 671 pessoas tiveram esse item roubado ou furtado na capital paulista neste ano. É o que mostram dados colhidos por Vejinha no Portal da Transparência da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP).

O número revela um aumento de 36% nos roubos de aliança em relação ao primeiro trimestre de 2024, quando foram subtraídos 1 188 desses itens. O aumento pode ser explicado pela alta do valor do ouro, cujo grama figurava na casa dos 400 reais em 2024 e, agora, chega a quase 600 reais. “Ele aumenta de valor principalmente por causa das depressões econômicas. Quando o dólar passa a não ser uma moeda tão confiável, o ouro ganha valor. A tendência é chegar a 1 000 reais até o fim do ano”, explica o delegado Fernando David, da 3ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Fraudes Financeiras e Econômicas, da Divisão de Investigações Gerais (DIG).

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Alexsandra e a aliança original: agora, usa uma falsa (Leo Martins/Veja SP)

A aliança é o item mais registrado em boletins de ocorrência dentro da categoria de joias da SSP, mais que o dobro do segundo colocado (veja abaixo). “Mesmo que seja uma aliança de namoro ou de noivado, a tendência de ser de ouro mesmo é muito grande, e ouro de melhor qualidade, muito maior do que em um colar, um bracelete ou até mesmo em um relógio. E o roubador precisa de velocidade. Ele sabe que, se levar a aliança, o peso do objeto tende a ser convertido em porcentagem maior de ouro muito mais fácil”, afirma Fernando.

São cerca de dezoito alianças roubadas por dia na capital em 2025 e um total de 3 674 joias nos três primeiros meses do ano, 518 a mais que no ano passado. Vale ressaltar que o número real pode ser maior, uma vez que são contabilizados apenas os roubos registrados em boletim de ocorrência.

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Outra hipótese da investigação conduzida pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), como parte da Operação Ouro Reverso, que explica esse aumento é a facilidade e a velocidade com que o ouro é destinado à revenda. “Principalmente alianças, são rapidamente derretidas, transformadas em materiais novos e revendidas, sem nota fiscal muitas vezes”, diz Fernando. A rapidez faz com que roubar essas joias possa ser mais vantajoso até que roubar um celular, por exemplo. “O celular, agora, tem mecanismos de travamento e rastreabilidade”, explica o delegado. Ou seja, é mais fácil de ser recuperado pela polícia.

Ao somar cerca de 50 000 reais em joias roubadas — quatro anéis de ouro, aliança, colar e relógio — em um assalto à mão armada em julho de 2023, em uma rua de casas no Brooklin, juntamente com seu celular, a empresária Mayara Corrêa, 35, prontamente fez o boletim de ocorrência. O aparelho foi recuperado, mas as joias nunca mais foram vistas. “Estou começando a perder o medo e de vez em quando saio com joia de novo”, conta.

Alexsandra nunca mais usou sua aliança na rua. Ao abrir o vidro para o assaltante em meio ao trânsito das 17h no Jaguaré, ela removeu o anel de ouro que usava por cima da aliança, mas a joia se recusava a sair. “Ela estava apertada. Ele pedia para eu cuspir no meu dedo: ‘Você não quer que eu atire aqui, não é?’ Até que, depois de quase um minuto, ele desistiu, foi embora, eu fechei o vidro e comecei a chorar.” O objeto agora fica guardado em casa e ela usa uma falsa, de bijuteria. “Na hora que começa a ficar feia, compro outra e coloco no lugar. Não consigo ficar sem. É mais do que você ser roubado, quando roubam sua aliança. Celular, amanhã você compra outro. Aliança, não. Vem junto com o momento, com uma experiência que você teve. Não tem preço.”

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Neste mês, policiais do Deic prenderam o principal negociador de ouro e joias furtadas e roubadas da organização criminosa que era liderada pela “Mainha do crime”, detida em fevereiro e apontada como financiadora de crimes como o latrocínio que vitimou o ciclista Vitor Medrado, no Parque do Povo, no mesmo mês. O negociador recebia as joias roubadas e vendia para lojas. Atualmente, a polícia investiga onze lojas ligadas a esse homem, de 37 anos, a maioria no centro da capital, na chamada “Rua do Ouro”. Lá, foram apreendidas dezesseis alianças, que podem ser vistas no site da SSP e reconhecidas na sede do Deic, no Carandiru.

Quais as joias mais roubadas ou furtadas em São Paulo no primeiro trimestre de 2025

  1. 1 671 alianças
  2. 689 colares/gargantilhas
  3. 516 anéis
  4. 283 relógios
  5. 210 brincos
  6. 137 pulseiras/braceletes

Publicado em VEJA São Paulo de 16 de maio de 2025, edição nº 2944.

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