Aumenta número de casos de prédios infestados por urubus
Condomínios residenciais sofrem com a presença da ave que se alimenta de carniça e materias em decomposição
Logo pela manhã e à tardezinha, dezenas de urubus se concentram no Parque do Ibirapuera. Atraídos pelo lixo deixado pelos visitantes e pelos prédios altos da região, onde costumam botar seus ovos, eles estão sempre ali, enfeando o pedaço. A cena já é conhecida dos paulistanos. Neste ano, no entanto, os urubus ampliaram sua área de atuação. Passaram a fazer ninhos em sacadas e coberturas de prédios residenciais da cidade, principalmente nos bairros de Higienópolis, Alto de Pinheiros e Horto Florestal. O biólogo Randy Baldresca, proprietário da Biópolis, localizada no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (Cietec-USP), atendeu a seis condomínios cujas torres foram infestadas pelos animais. Um aumento de 50% em relação ao ano passado. “Trata-se de uma ave oportunista”, afirma Baldresca, que calcula existirem cerca de 300 urubus em São Paulo. “Transformam os prédios mais altos em poleiros.”
Símbolo de mau agouro, o Coragyps atratus, ou urubu-de-cabeça-preta, alimenta-se de carniça e outros materiais em decomposição. A prefeitura reconhece o problema. “De fato, a quantidade de urubus aumentou na cidade”, diz Vilma Clarice Geraldi, da divisão de fauna da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. “Mas não podemos fazer nada, além de tentar manter essas regiões limpas, já que são animais silvestres protegidos pela Lei de Crimes Ambientais.” Matar um urubu pode resultar em multa e até um ano de prisão. “Sem contar que eles são necessários porque retiram do meio ambiente material em decomposição, como animais mortos e lixo orgânico.”
O piloto de helicóptero Adriano Cersosimo depara, quase diariamente, com esses bichos pousados na laje de seu prédio, no Horto Florestal. “Eles representam um perigo em potencial para a aviação”, diz Cersosimo, que já teve de desviar sua rota para não trombar com uma dessas aves. “O impacto de um urubu numa hélice ou turbina pode derrubar uma aeronave.”
Sem predadores naturais, o urubu tem o hábito de colocar seus ovos em locais altos. Põe dois ovos por vez. Após o nascimento, o filhote leva cerca de dez semanas até seu primeiro vôo. Não é fácil nem barato se livrar dessas aves indesejadas. Uma forma de espantá-las é afixar espinhos de metal ao longo da borda das varandas. Desse modo, elas não terão onde pousar. “Cobro 3 000 reais para fazer essa instalação em uma sacada de 100 metros quadrados e depois mantê-la limpa”, diz Baldresca, que, diferentemente da maioria dos paulistanos, se refere com carinho aos urubus. “São os meus bichos.”
Você sabia que os urubus…
…podem localizar um objeto de 1 metro a 1 200 metros de altura?
…são capazes de ficar dias sem comer e voar até 300 quilômetros atrás de alimento?
…botam quatro ovos por ano, dois de cada vez?
…pesam em média de 2 a 3 quilos?
…vivem até trinta anos?
…já apareceram nas obras de Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Mário de Andrade e Augusto dos Anjos, autor da frase “Ah! Um urubu pousou na minha sorte”?