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Associação Fernanda Bianchini: 41 bailarinas cegas

Grupo formado há quase doze anos coleciona histórias de superação

Por Edison Veiga
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h35

Três vezes por semana, 41 meninas carentes entre 3 e 25 anos se reúnem para aulas de balé clássico num amplo salão na Vila Mariana. Deficientes visuais, elas colecionam histórias de superação. “Caí diversas vezes nos treinos por falta de equilíbrio”, conta Marina Alonso Guimarães, de 20 anos, há dez no grupo. “De tanto dançar com um copo de plástico com água na cabeça, acabei conseguindo.” As aulas são baseadas no toque. A professora faz os movimentos, e as alunas aprendem a posição passando as mãos pelo seu corpo. Em seguida, tentam imitá-la e recebem instruções para corrigir o que houver de errado. Por não enxergarem, demoram para aprender a se deslocar pelo palco. “Sempre quis que elas fossem aplaudidas não só pelas dificuldades, mas pela qualidade de sua dança”, diz a fisioterapeuta Fernanda Bianchini, professora e fundadora da associação que leva seu nome. Bailarina desde os 3 anos, Fernanda começou a conviver com cegos quando seus pais trabalhavam como voluntários no Instituto Padre Chico, no Ipiranga. “Em 1995, eu soube que algumas meninas tinham vontade de fazer balé e encarei o desafio”, lembra.

Hoje, o grupo realiza apresentações principalmente em empresas e escolas. Cada garota recebe de 600 a 1 000 reais mensais. Suas performances, aliadas às trajetórias pessoais, funcionam como motivação para o público. “O mais difícil foi que elas aprendessem a representar, no palco, sentimentos de tristeza, surpresa e alegria”, relata Fernanda. Para isso, a professora contava-lhes histórias que atiçassem tais lembranças. “Sorrir do jeito que a Fernanda queria era bem difícil para mim”, conta Aldenice Sousa Moreira, 21 anos. “Não fico mais de cabeça baixa. Aprendi a olhar para as estrelas.” Das alunas da associação, 25% são cegas de nascença. “Elas não possuem memória do corpo no espaço, o que dificulta um pouco”, explica Fernanda. “Mas, depois de dois anos de trabalho, dançam com desenvoltura.” De qualquer forma, antes de cada apresentação as bailarinas cegas precisam reconhecer o palco e memorizar todo o seu posicionamento. Vindas de famílias carentes, quase todas as meninas usam seu cachê para ajudar no orçamento doméstico. E demonstram muita força de vontade para conseguir ensaiar, no mínimo, dez horas por semana. “Levo três horas da minha casa até a associação”, conta Lucimara Gonçalves Pereira, que mora em um sítio em Embu-Guaçu e, para chegar até a Vila Mariana, usa charrete, ônibus e metrô. A recompensa vem com os aplausos do público.

Associação de Balé e Artes para Cegos Fernanda Bianchini. Rua Humberto I, 298 (fundos), Vila Mariana, Tel. 5575-9898.

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