Arte Espiritualidade abre as portas do Mosteiro de São Bento
Três artistas brasileiros, incluindo um monge, levam artes plásticas e videoarte para dentro do mosteiro, incluindo salas geralmente restritas ao público
Um dos principais endereços paulistanos do catolicismo, o Mosteiro de São Bento começou o ano com uma bela surpresa: a exposição Arte Espiritualidade, que reúne pinturas, fotografias, vídeos e instalações de três artistas brasileiros atuais. As obras ocupam dezesseis ambientes do prédio, inclusive alguns normalmente restritos ao público, a exemplo dos parlatórios e de uma capela. Segundo um dos participantes, o também monge Carlos Eduardo Uchôa — os outros são Marco Giannotti e José Spaniol —, mesmo as pessoas sem relação com a arte têm acolhido bem a iniciativa. No teatro do mosteiro, Spaniol e Giannotti montaram a videoinstalação Vigília. Nela, uma câmera transmite as imagens de velas queimando em tempo real e que dão a sensação de suspensão temporal.
Outros trabalhos estimulam a impressão de passagem dos anos. É o caso da série de óleos de Giannotti, exercícios de variação cromática influenciados pelo expressionismo abstrato de Mark Rothko (1903-1970), ou das telas com a interpretação subjetiva de Uchôa para a via-sacra. Na capela encontra-se a obra máxima da mostra, intitulada Redenção. Ali, o monge-artista espalhou livros de orações pelos bancos e, no corredor central, colocou uma manta. Enquanto caminha em direção ao altar, ao som de uma sonata de Bach, o espectador assiste a um vídeo dos espectrais meninos da Cracolândia num fim de tarde chuvoso. Difícil não ficar comovido ao pensar que a violência urbana fica tão próxima da paz do mosteiro.