Alto-falantes castigam passageiros de Congonhas
Não bastassem apagões e atrasos, clientes sofrem com o barulho insuportável dos anúncios no saguão de embarque
Os 50.000 passageiros que passam diariamente pelo Aeroporto de Congonhas já enfrentam, há meses sem fim, problemas suficientes para lhes tirar o humor com apagões aéreos e imprevisíveis atrasos nos vôos. Mas há outro aborrecimento que os atormenta em qualquer circunstância, mesmo quando os aviões, milagrosamente, saem no horário. É a poluição sonora no aeroporto. Não, não se está falando do ruído dos jatos que decolam e aterrissam. Trata-se do infernal barulho dos alto-falantes nas salas de embarque e no check-in.
Dia e noite, minuto a minuto, os viajantes são submetidos a uma contínua tortura que chega a ultrapassar 80 decibéis (o recomendado pela Organização Mundial de Saúde para ambientes fechados são 55 decibéis). Todos têm de ouvir anúncios repetitivos, monótonos e previsíveis, como “embarque quando autorizado”, “aguardem acomodados junto ao portão 3”, “mudança de horário”, “reposicionamento da aeronave”, “clientes Gol para cá”, “portadores de cartão Diamante para lá”, primeiro em português afetado, depois em um inglês muitas vezes difícil de compreender.
Por todo o aeroporto, há modernos painéis que dão exatamente as mesmas informações em tempo real, acessíveis a qualquer passageiro vidente e alfabetizado, mas os alto-falantes não param quietos. “É azucrinante: uma mensagem atrás da outra, sem piedade para com nossos ouvidos. Impossível ler, relaxar, dormir, sonhar, o que for”, escreveu recentemente na Folha de S.Paulo o jornalista e escritor Ruy Castro, usuário freqüente da ponte aérea. A poluição é de dois tipos. Há os avisos gravados, desde o início dos anos 80, na voz doce da atriz Iris Lettieri. E há os feitos junto aos portões de embarque, audíveis não apenas por quem está ali ao lado, esperando o momento de ser chamado, mas por todos os que se encontram no saguão inaugurado em 2004. No Aeroporto de Guarulhos, usa-se um sistema diferente. Lá, a maioria dos informes é via quadros digitais. Em outros aeroportos internacionais, também. “Em Amsterdã, por exemplo, avisos sonoros só em casos excepcionais, como quando um passageiro está atrasado para um vôo”, diz o consultor em aviação Gianfranco Betting.
A explicação da Infraero para a gritaria é a falta de quadros de avisos e a arquitetura. Como o projeto de Congonhas é antigo, a acústica seria ultrapassada. Não é só isso. “Os anúncios são feitos de última hora e muitas vezes te mandam para o portão de embarque errado”, afirma o especialista em aviação Carlos Spagat, editor da revista Flap Internacional, que já visitou mais de quarenta países e fez 2.500 vôos comerciais. “Perdi dois vôos em Congonhas por esse motivo.”