Da palha ao ouro de 18 quilates
Seja com matérias-primas pouco nobres, seja com metais preciosos, o talento de Salvatore Ferragamo para calçar estrelas permanece
Ele não queria que a irmã fizesse a primeira comunhão de chinelos. Pediu um pedaço de couro ao sapateiro vizinho de sua família — eram catorze filhos — e criou um calçado para a cerimônia religiosa. Tinha apenas 9 anos de idade, cabe ressaltar. Assim começa a história de Salvatore Ferragamo, um dos maiores sapateiros do século XX, que saiu de Bonito, vilarejo no sul da Itália, para o topo da lista de queridinhos das estrelas de Hollywood. Nas quatro décadas seguintes, atendeu Marilyn Monroe, Audrey Hepburn, Carmen Miranda, Sophia Loren, Greta Garbo… Todas, todinhas elas. Tinha obsessão por criar o sapato mais confortável do mundo. E conseguiu grandes avanços ao aliar desenhos originais a modelos desenvolvidos para combinar com a anatomia do pé humano — o peso do corpo ereto recai sobre o arco dos pés, por isso ele fabricou calçados que suportavam a curvatura.
Depois de conquistar a clientela mais cobiçada dos Estados Unidos, voltou à Itália. Em 1938, onze anos depois de ter se estabelecido, comprou o Palazzo Spini Feroni, que hoje abriga o Museu Ferragamo, em Florença. Durante a II Guerra, a posição política da Itália restringiu o acesso ao couro, sua principal matéria-prima. Como ocorre com toda pessoa de talento, isso não o impediu de crescer: ele quebrou a cabeça para fazer sapatos atraentes à base de náilon, feltro, palha e cortiça. Uma década mais tarde, a imaginação permanecia, mas o material… Quanta diferença! Ferragamo fabricou uma sandália com ouro de 18 quilates.
Quando o designer morreu, em 1960, aos 62 anos, sua empresa tinha 700 funcionários que faziam manualmente cerca de 350 sapatos por dia. O negócio passou a ser tocado por sua mulher, Wanda, e pelos filhos — tiveram seis, ao todo. Nas oficinas da grife, que hoje produz, além de calçados, todo tipo de roupa e acessório, fabricam-se atualmente 11 000 pares por dia, que custam a partir de 1 390 reais aqui em São Paulo.
“ESSES SAPATOS SÃO COMO ANOUK AIMÉE”
A frase é da princesa Caroline de Mônaco a uma amiga, comparando um par de escarpins Christian Louboutin à chiquérrima atriz francesa. O famoso solado vermelho ainda não estava ali — só apareceria a partir da terceira coleção —, mas Caroline garantiu sozinha, como uma das primeiras clientes, a explosão de vendas da grife do sapateiro francês. Duas décadas depois, os calçados continuam feitos a mão numa fábrica da Lombardia, na Itália, ou nos ateliês da maison, em Paris.
“Não há elegância possível sem sapatos sob medida.”
Karl Lagerfeld, estilista
4 600 REAIS
é o preço mínimo de um par de sapatos femininos feitos sob medida e 100% a mão no ateliê Massaro, desde 1894 estabelecido no número 2 da Rue de la Paix, em Paris. A casa assina os sapatos Chanel e Azzedine Alaïa e, desde dezembro de 2009, confecciona também modelos masculinos. Esses últimos, chamados de prêt-à-chausser (prontos para calçar), custam 2.200 reais.
230 REAIS
é quando custa mandar restaurar sapatos oxford na Church’s — não importa que eles estejam desmilinguidos e tenham mais de duas décadas de uso. O valor equivale a um quinto do preço original de um par e eles voltam da recauchutagem novos em folha. Fundada em 1873 e parte do grupo Prada desde 1999, a Church’s mantém uma linha de produção artesanal, com 250 etapas para montar um par em oito semanas.
8 000 REAIS
é o preço mínimo pago por um par de sapatos masculinos encomendados na John Lobb. Fundada em 1866 e hoje parte do grupo Hermès, a marca faz modelos sob medida e a mão. Mantém no arquivo, entre outros moldes estrelados, as fôrmas do cantor Frank Sinatra, do estilista Calvin Klein e de Hosni Mubarak, presidente do Egito.
11,5 CENTÍMETROS DE ALTURA
é o máximo que um salto pode alcançar sem prejudicar a caminhada, garante Manolo Blahnik, famoso por criar modelos confortáveis há mais de três décadas.
10 500 ANOS
é a idade do mais antigo sapato já encontrado. Foi na caverna de Fort Rock, no estado americano do Oregon, em 1938. Feito com fibra de casca de artemísia, está preservado (apenas um pé, não o par) no Museu de História Natural e Cultural da Universidade do Oregon.