Adote um animal de rua: doze organizações que podem ajudar
Eles recolhem os animais da rua, cuidam de sua saúde e os colocam para adoção, sempre depois de castrá-los, tratá-los contra vermes e vaciná-los
VIRA-LATA É DEZ
Nos 100 000 metros quadrados deste abrigo, a 72 quilômetros da capital, vivem 300 cachorros e gatos (visitas podem ser marcadas através do portal da ONG). Outros 430 bichos ficam em sítios ou lares temporários. Fundadora da associação Vira-Lata é Dez, a corretora imobiliária Ana Tancredi gasta 42 000 reais por mês em ração, castrações e salário de funcionários. “Metade desse valor vem da ajuda de associados”, diz ela. O restante sai do bolso dos cinco voluntários da ONG. Para arrecadar fundos, há festas beneficentes com petiscos vegetarianos. Os três berçários contam atualmente com 28 filhotes de cachorro, que crescem gordinhos à base de leite com amido de milho. “São os que têm mais chance de adoção”, conta Ana. “Quanto mais velho, mais difícil.”
https://www.viralataedez.com.br. Taxa de adoção: 30 reais.
ADOTE UM GATINHO
Apaixonadas por gatos desde a infância, as amigas Juliana Bussab e Susan Yamamoto criaram em 2003 a ONG Adote um Gatinho. Em pouco tempo, ela virou referência. Tudo por causa do cuidado com os mínimos detalhes, da captura do animal à avaliação do adotante. Juliana, jornalista, e Susan, que trabalha na área de marketing de uma rádio, em nada lembram o estereótipo das senhoras colecionadoras e protetoras de felinos, conhecidas como gateiras. “Sabemos os nossos limites”, diz Juliana, dona de onze bichanos. Atualmente, 110 gatos vivem em um abrigo na Barra Funda e em lares temporários enquanto aguardam um dono. Mas não é fácil passar pelo crivo das duas. “De cada dez formulários de interessados, descartamos seis”, afirma Susan. O processo de adoção – feito exclusivamente pela internet – pode levar até três semanas e as moças fazem questão de entregar o gato pessoalmente para conferir seu novo endereço.
https://www.adoteumgatinho.org.br. Não cobra taxa de adoção.
QUINTAL DE SÃO FRANCISCO
Fundada em 1957, a ONG Quintal de São Francisco, uma das mais conhecidas associações de proteção animal de São Paulo, anunciou o fechamento de seu abrigo. Até março de 2010, sua presidente, Angela Caruso, fará uma campanha em busca de novas casas para os cães e gatos acolhidos em Parelheiros. “Num universo de 11 milhões de paulistanos, preciso de apenas 250 pessoas dispostas a adotar um animal”, afirma. A ONG passa por dificuldades financeiras e custa a arrecadar os 20 000 mensais de que precisa para se manter. “Não posso chegar ao ponto de deixar os bichos sem comida ou medicamentos”, diz Angela.
Avenida Lins de Vasconcelos, 1667, Aclimação, Tel. 2062-8263. https://www.quintaldesaofrancisco.org.br. Não cobra taxa de adoção.
PROJETO CEL
É em uma casa muito simples no Jardim Maringá, na Zona Leste, que funciona a sede do Projeto Cel – Casa Esperança e Liberdade para Animais Carentes. Cerca de 100 bichos ficam em cercados diminutos espalhados por todos os cômodos. Há até um centro cirúrgico improvisado, onde são realizadas cirurgias emergenciais e de esterilização. Um dos maiores orgulhos de Eliete Brognoli, que fundou a ONG em 2003, é ter como madrinha a apresentadora de TV Luisa Mell. “É um trabalho sério feito por gente que dá a vida por isso”, diz Luisa. Há dez anos, ela adotou Dino, uma cadela vira-lata. Foi seu primeiro contato com o mundo animal. Depois, resgatou bichinhos em situações terríveis e chorou rios de lágrimas no extinto programa Late Show, da Rede TV!. O Projeto Cel realiza feiras semanais no Pet Center Marginal e doa entre cinquenta e setenta animais por mês.
Sábados e domingos, das 14h às 21h. Avenida Presidente Castelo Branco, 1795, Pari, Tel. 2852-8403. https://www.projetocel.org.br. Taxa de adoção: 50 reais.
LOUCOS POR BICHOS
Lucky veio ao mundo em 14 de janeiro. Sua mãe havia sido espancada e foi encontrada dentro de uma caçamba de entulho prestes a dar à luz quatro gatinhos. Resgatada pela aposentada Francisca Carvalho, presidente da ONG Loucos por Bichos, Lucky foi a única sobrevivente. Nasceu com as duas patas dianteiras quebradas. “Será operada assim que ganhar mais peso”, explica Francisca. Mas ela já tem uma família e vai morar na Suécia quando se recuperar. A Loucos por Bichos coordena a feira de adoção da pet shop Cobasi Radial Leste. Por se tratar de um espaço reduzido, ali só são aceitos bichos de pequeno porte. Aos 11 anos, Raquel Bertasi é a voluntária mais jovem do projeto. Foi ela quem batizou Lucky (sortuda, em inglês). “Amo cuidar dos bichinhos”, diz. “Só não venho quando tenho prova na segunda-feira.” Desde outubro do ano passado, 243 doações foram realizadas na feira.
Sábados e domingos, das 11h às 18h. Avenida Alcântara Machado, 4360, Belém. Informações, Tel. 9653-3193. https://www.loucos porbichos.net. Taxa de adoção: 60 reais.
CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES
Há pouco mais de um ano entrou em vigor a lei estadual que proíbe o sacrifício de cães e gatos sadios em canis públicos. Desde então, para evitar sua superlotação, o Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo (CCZ) diminuiu em 50% o recolhimento de cachorros abandonados nas ruas da cidade. Com o objetivo de incentivar a adoção, educar os donos para a posse responsável e elevar a qualidade de vida dos cerca de 400 cães e gatos que vivem no abrigo público, o CCZ criou há um mês o Programa de Proteção e Bem-Estar de Cães e Gatos de São Paulo. “Estamos nos adaptando a essa realidade”, afirma a veterinária Rita de Cássia Garcia, coordenadora do programa. Todos os animais saem de lá com um microchip de identificação.
Rua Santa Eulália, 86, Santana, Tel. 3397-8900. https://www.prefeitura.sp.gov.br/zoonoses. Taxa de adoção: 14,60 reais.
UNIÃO INTERNACIONAL PROTETORA DOS ANIMAIS
Os dados da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa) são preocupantes: entre 2006 e 2008, o número de adoções realizadas por ano caiu de 1 200 para 600. Vanice Teixeira Orlandi, presidente da associação, atribui a queda à crise financeira e ao crescimento dos pontos de adoção. “Outro fator é a seleção rigorosa que fazemos para entregar um bicho”, diz. “Chegamos a desencorajar o candidato para saber suas reais intenções.” Fundada em 1895, a associação abriga 1 500 cães e gatos, distribuídos por 35 canis e um gatil numa área de 9 000 metros quadrados. Diariamente, os bombeiros e a polícia levam animais atropelados ou vítimas de maus-tratos para lá. “Investimos na recuperação do bicho, não importa o estado em que chegue aqui”, afirma Vanice. Porém, os gastos da entidade giram em torno de 80 000 reais por mês. O dinheiro vem da contribuição de 2 000 associados, de doações e das consultas realizadas na clínica veterinária que funciona no local.
Avenida Presidente Castelo Branco, 3200, Canindé, Tel. 3228-1462. De segunda a sábado, das 9h às 17h. https://www.uipasp.org.br. Taxa de adoção: 50 reais.
BICHO NO PARQUE
Mais que a adoção, o foco do projeto Bicho no Parque é a defesa do “gato feral”. Nunca ouviu essa expressão? Trata-se do gato não socializado, arredio ao contato humano e que vive em espaços públicos. “Seria antinatural tirá-lo de seu ambiente”, explica a arquiteta Andrea Podolski, idealizadora e coordenadora do projeto. Os bichanos moradores de parques da cidade são castrados, microchipados e, posteriormente, monitorados por voluntários. Aqueles dóceis e aptos à vida doméstica são encaminhados para adoção. Atualmente, há quarenta felinos disponíveis. “Os adultos, os pretos e os rajados sofrem muito preconceito”, diz a coordenadora. Conscientizar os donos quanto aos cuidados necessários com o bichinho de estimação também está entre as prioridades da equipe. “Em alguns anos, uma gata não castrada pode gerar milhares de descendentes”, calcula Andrea.
https://www.bichonoparque.com.br. Taxa de adoção: 3 quilos de ração premium.
SOLIDARIEDADE À VIDA ANIMAL
Há seis anos, a empresária Arlete Martinez criou o projeto Solidariedade à Vida Animal (Sava), que reúne protetores independentes. Além de resgatar cães e gatos sadios, a ONG dá grande atenção aos portadores de deficiência física. “Muitos foram atropelados ou sofreram maus-tratos”, conta Arlete. “Por isso, ficaram com sequelas graves.” O gatinho da foto ao lado, por exemplo, foi encontrado na rua, com paralisia nas duas patas traseiras. Na primeira feira só de bichos deficientes, realizada no mês passado, quatro deles ganharam uma no–va família.
Feira de Adoção de Animais Especiais. Dia 27 (sábado), das 12h às 16h. Avenida Presidente Tancredo Neves, 580, Ipiranga. Informações, Tel. 9987-4188. https://www.sava.org.br. Taxa de adoção: 2 quilos de ração.
ADOTE UM AMIGUINHO
A veterinária Maria Estrela Felício, portuguesa radicada em São Paulo, é dona de uma pet shop no Real Parque. Seu plantel, predominantemente de cães de raça, convive numa boa com os vinte vira-latas, entre adultos e filhotes, que ficam nos quatro canis construídos nos fundos da loja. Também há um gatil, com quase cinquenta gatos. Na loja, nada de venda de filhotes. “Respeito quem compra, mas as pessoas deveriam pensar mais na adoção”, diz a veterinária. Todos os dias, os cães sem dono são levados para passear. Como a propaganda é mesmo a alma do negócio, alguns deles saem vestidos com roupinhas em que se lê o bordado “Me adote”. A veterinária calcula ter efetuado 1 700 doações nos últimos cinco anos. Moradora do bairro, a assessora de marketing Marot Gandolfi adotou a vira-lata Lollypop Tereza (o segundo nome é uma homenagem à mãe da dona) bem no início do projeto. “Cachorro não precisa ter grife”, acredita.
Rua Luís Gonzaga de Azevedo Neto, 173, Real Parque, Tel. 3755-1037. https://www.adoteumamiguinho.org. Taxa de adoção: 30 reais.
ANJOS DOS BICHOS
Montada no estacionamento de um supermercado da Alameda Madeira, em Alphaville, a feira de adoção dos Anjos dos Bichos atrai curiosos durante todo o sábado. No dia 9 de maio, o comerciante Edimilson dos Santos passou ali por acaso. Acabou encontrando Lost (perdido, em inglês), vira-lata de grande porte e bom cão de guarda. Responsável por cuidar do bicho até então, a psicóloga Tera Leopoldi tentava segurar as lágrimas. “Espero que ele vá para um bom lugar”, disse. Pelo menos sete doações como essa ocorrem durante o evento. A organizadora Renata Buono conta com a participação de quinze anjos, como são chamados os voluntários, a exemplo de Tera.
Sábados, das 10h às 17h. Alameda Madeira, 363, Alphaville, Tel. 9198-4598. https://www.anjosdos bichos.com. Taxa de adoção: 20 reais.
UNIÃO SRD
No mês passado, a tradutora paulistana Roberta Bronzatto recebeu um daqueles e-mails de partir o coração dos amigos de animais. Dois filhotes vira-latas haviam sido largados na Ceagesp e precisavam de um lar temporário. “Ofereci minha casa na hora”, lembra Roberta. É a primeira vez que ela hospeda cãezinhos nesse esquema. O e-mail de apelo fora disparado pelas voluntárias da União SRD, grupo coordenado pela administradora Ruth Madeu e mantido com doações. Como não tem abrigo, Ruth bolou um certo Programa Bolsa Cão de residências provisórias. “A pessoa acolhe um cachorro nosso por um tempo e cobrimos todas as despesas até a adoção”, explica. O anfitrião recebe ainda uma ajuda de custo de 70 reais mensais. Roberta abriu mão do dinheiro, mas teme não conseguir se desfazer dos peludinhos. A União tem 55 cães e sete gatos sem raça definida (SRD, na linguagem veterinária) à espera de uma casa não provisória.
https://www.uniaosrd.com.br. Taxa de adoção: 3 quilos de ração.
Pense bem
Alguns itens para avaliar antes de adotar um bicho de estimação
Todas as pessoas que moram na casa devem estar de acordo.
Crianças pequenas podem não se adaptar aos animais.
Cachorros necessitam de espaço.
Você tem tempo? O ideal é levar o cão para passear pelo menos uma vez ao dia e, não custa lembrar, sempre recolher a sujeira dele da rua.
Para receber um gato, o apartamento precisa de algumas adaptações. Telas de proteção nas janelas e varandas são fundamentais. Quem mora em casa deve tomar cuidado redobrado para não deixar o bicho pular o muro. E prepare-se: ele pode estragar seus estofados.
Nenhum animal nasce educado. É preciso ter paciência e estabelecer limites.
Já é dono de outros bichos de estimação? Então analise se eles conseguirão se adaptar ao novo companheiro.
Animais dão despesa. Um cachorro de porte médio consome um pacote de 3 quilos de ração (cerca de 22 reais) a cada duas semanas. Vacina (45 reais) e vermífugo (15 reais) devem ser administrados uma vez por ano.
Com qual frequência costuma viajar? Considere que será preciso deixá-lo em algum lugar durante sua ausência.
Nunca dê um bichinho de presente sem consultar quem vai recebê-lo.
Um animal é para a vida inteira e sua responsabilidade por ele também. Adotá-lo por impulso pode resultar num futuro abandono.
Fontes: Cynthia Schoenardie e Rita de Cássia Garcia, veterinárias
Especialistas consultados: Alexandre Rossi, zootecnista e adestrador; Edison Vieira, adestrador; Hannelore Fuchs, psicóloga e veterinária; Marco Ciampi, presidente da ONG Arca Brasil; Mauro Lantzman, veterinário; Nina Rosa Jacob, presidente do Instituto Nina Rosa; e Wilson Grassi, veterinário e membro da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa – SP)