Adib Jatene: cirurgião, inventor, ministro…
Além de ter mais de 20.000 operações no currículo, cardiologista também já ocupou três cargos públicos
O jeitão incansável de quem está sempre procurando problemas para resolver já chamava atenção nos tempos de juventude. “Cruzávamos de carro o estado de São Paulo, íamos ao Rio de Janeiro e a Minas para fazer cirurgias em hospitais que muitas vezes não tinham recursos”, recorda o cirurgião cardiovascular Luiz Carlos Bento de Souza, hoje diretor clínico do HCor. Quem conhece Jatene de perto, portanto, sabia que a fase de repouso não duraria muito tempo. “Já estava cansado de descansar”, diz ele, após uma semana internado na Unidade Coronariana do HCor e outra em casa.
É uma frase coerente com o histórico do médico que, com mais de 20.000 operações no currículo, tem trabalhado há meses na elaboração de um novo tipo de válvula para auxiliar o bombeamento de sangue nos ventrículos. Se funcionar, poderá ser uma das muitas criações de sua carreira.
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Entre outros marcos, ele desenvolveu o primeiro coração-pulmão artificial do Hospital das Clínicas, nos anos 50, um modelo de oxigenador do plasma, na década de 60, e inventou uma técnica de correção de artérias transpostas em bebês, que ficou conhecida mundialmente como Cirurgia de Jatene. Nascido em Xapuri, no Acre, filho de um seringueiro e uma dona de armarinho, foi criado em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Chegou a São Paulo para estudar na USP, onde conheceu seu grande mentor, Euryclides Zerbini (1912-1993), que realizou em 1968 o primeiro transplante de coração no Brasil.
Com diversos convites para ocupar cargos políticos, aceitou três: tornou-se secretário estadual de Saúde, quando o governador era Paulo Maluf, e ministro da mesma área duas vezes, nas gestões Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Foi nos anos FHC que emplacou a ideia da contribuição provisória sobre movimentação financeira (CPMF), para aumentar a arrecadação na saúde pública e, de quebra, coibir a sonegação. Seus múltiplos interesses não param por aí. Vai mensalmente a sua fazenda nos arredores de Catanduva (a 390 quilômetros da capital) para conferir as plantações e a criação de gado.
Dono de uma coleção particular de quadros que inclui artistas como Di Cavalcanti, Alfredo Volpi e Tarsila do Amaral, preside o conselho deliberativo do Museu de Arte de São Paulo (Masp). “Estou sempre procurando mais trabalho.”