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A irmã Gilda Troyano já encaminhou mais de 1 000 crianças para adoção

Freira paulistana ajuda há 55 anos crianças abandonadas a encontrar uma família

Por Fernando Cassaro
Atualizado em 5 dez 2016, 19h27 - Publicado em 18 set 2009, 20h30

Toda vez que o celular toca um som de rock pesado, a freira vicentina Gilda Troyano sabe que o assunto é adoção. São cerca de seis casais por dia que a procuram para encontrar uma criança, além das ligações de mães ou gestantes que querem abrir mão da guarda dos filhos. Com olhos azuis em um rosto sereno de vovó, dona Gilda, como é chamada, passou 55 dos seus 74 anos fazendo essa ponte entre filhos cujas mães se recusaram a assumi-los e casais interessados em adoção. “Meu sonho é que cada criança tenha uma família”, diz a religiosa, que não usa hábito desde a década de 60.

Pilotando o seu Gol prateado cheio de arranhões, vai para todos os cantos de São Paulo. Entra em favelas, hospitais e orfanatos. Quando encontra alguma mãe que renega a maternidade, a freira tenta primeiramente convencê-la do contrário. Se a posição é irredutível, leva o bebê para a Vara da Infância e Juventude (órgão responsável pelos processos de adoção) e passa a disparar telefonemas atrás de casais interessados em crianças com aquela descrição. Segundo ela, todos os casais que buscam um filho adotivo com a sua ajuda já estão na fila de adoção regularizada pela Justiça, mas nem sempre na primeira colocação. Cabe ao juiz, neste caso, acatar ou não o pedido. “Respeito sempre os procedimentos legais”, diz Gilda, que em pouco mais de meio século de trabalho calcula ter encaminhado mais de 1 000 crianças – quando alcançou essa marca, em 1999, foi indicada pelo médico Daher Elias Cutait, então diretor do Hospital Sírio-Libanês, para receber um troféu do Rotary Club de São Paulo por trabalhos prestados na área social.

Paulistana do Tatuapé, a freira teve seu primeiro contato com crianças ao lecionar matemática nas escolas ligadas à ordem vicentina. Como o grupo religioso possuía muitos orfanatos, não foi difícil entender por que ela decidiu se dedicar inteiramente a essa atividade. “Queria acabar com os orfanatos da ordem e fazer com que todas aquelas crianças encontrassem um lar”, diz. “Apesar da estrutura que dávamos a elas, sentia que continuavam desamparadas, sem uma família à qual recorrer após saírem de nossas escolas, aos 18 anos.”

O gerente financeiro Marcos Guimarães e a gerente de qualidade Renata Guimarães adotaram F., há seis anos, graças aos contatos da freira. Uma mãe não quis assumir o filho e o entregou a dona Gilda. Como não conhecia nenhum casal interessado em um recém-nascido com aquelas características, ela o levou à Justiça, que encaminhou a criança justamente aos dois, que eram os primeiros da fila. “Se a dona Gilda não existisse, não teríamos encontrado nosso filho”, diz Renata. “Fiz questão de conhecer essa senhora maravilhosa que salvou o meu menino.” Nem todas as histórias são simples assim. Os professores universitários Brigitte Rieckmann e Augusto Martins dos Santos, antes de adotar A., de 11 anos, ficaram três anos procurando um bebê por meio dos contatos da freira. Chegaram a ver pelo menos dez recém-nascidos, mas todas as tentativas de adoção deram errado. Ou por uma negativa do juiz ou por desistência da mãe biológica. “Nós a conhecemos durante uma missa na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Pinheiros”, diz Santos.

Dona Gilda é madrinha de tantas crianças que já perdeu a conta. Com tamanha experiência, sabe exatamente as perguntas mais comuns feitas pelas crianças adotadas – “filhos do coração”, como ela chama. “Os meninos querem saber se a família era pobre e as garotas sempre perguntam se a mãe biológica era bonita”, conta. Mesmo sem filhos, colocar tantas crianças em uma família faz dona Gilda se sentir completa em relação à maternidade. No próximo domingo, sabe que vai ouvir mais rock pesado do que de costume em seu celular. Será Dia das Mães.

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Os caminhos da adoção

1 – O interessado deve procurar a Vara da Infância e Juventude mais próxima de sua casa. É preciso ter mais de 18 anos de idade e ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho que a criança.

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2 – A partir da inscrição, começa a fase que engloba entrevistas, testes psicológicos, avaliação de conduta e visitas aos pretendentes. Com os documentos em mãos, o juiz decide se o casal está habilitado ou não para a adoção.

3 – Os interessados aprovados entram em uma fila. O tempo de espera depende de vários fatores, entre eles as características da criança desejada pelos adotantes. É um processo que dura, no mínimo, um ano.

4 – Depois de o interessado receber a criança, o juiz determina o prazo da guarda temporária (variável também). Se ao final desse período a criança estiver feliz e adaptada, é dada a guarda permanente.

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5 – Há também a possibilidade de uma mãe biológica querer doar o filho a um casal conhecido (intuito personae). Nesse caso, não existe a fila. Contudo, os interessados na adoção deverão passar pelo mesmo processo de entrevistas e avaliações. O juiz pode acatar ou não o pedido.

Fontes: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e Estatuto da Criança e do Adolescente

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