A festa sem fim dos colunistas sociais
Escritores dos pequenos veículos de comunicação aproveitam o glamour da vida dos ricos e famosos
Ele jura já ter ouvido desabafos do estilista francês Pierre Cardin, levado a atriz Catherine Deneuve para jantar numa churrascaria em São Paulo e visitado o ator egípcio Omar Sharif em Paris. São algumas das celebridades internacionais com quem o colunista social Ovadia Saadia garante trocar confidências. Há mais de trinta anos ele mantém uma seção para detalhar a vida dos ricos e famosos em veículos impressos de circulação gratuita, como “Jornal dos Jardins” e “Shopping News”. “A vida de colunista social é maravilhosa. Não fosse pelo trabalho, eu não teria conhecido gente importantíssima como o Pelé. Se eu o encontrar em qualquer lugar, ele virá me abraçar”, afirma Saadia, que é presidente da Associação Paulista de Colunistas Sociais (Apacos), entidade criada em 1988 com 100 filiados em todo o estado.
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Só na região metropolitana de São Paulo há pelo menos outros trinta desses colunistas que vivem o que chamam de uma rotina “glamourosa” de festas de casamento, lançamento de coleções de marcas que não desfilam na São Paulo Fashion Week, jantares com desconto (ou de graça) em restaurantes, inaugurações de clínicas de estética e outros eventos que agitam a vida social da cidade em menor escala. “Não recuso convite para nada, vou até à eleição da Rainha do Bixiga. Com certeza conhecerei alguém que irá me chamar para outras badalações”, conta o médico Antonio Salani, que após o expediente abandona o jaleco e arma-se com sua câmera para rodar a noite paulistana e alimentar as colunas que possui em jornais de bairro, como o Morumbi News.
Salani, que ganhou fama de bicão nos anos 80 por ir a festas para as quais não era chamado, diz que hoje em dia é convidado para tudo. “Como sempre divulgo as fotos dos locais que frequento, sou muito querido por todos”, acredita. Esta, no entanto, não é sua tática para passar pela portaria. “Às vezes entro porque sou confundido com o Roberto Justus”, admite ele, que, assim como os colegas, vai a pelo menos três eventos por semana.
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Uma vez por mês, os membros da Apacos abdicam de uma noite de badalação para se reunir e trocar experiências sobre a profissão. “A gente joga conversa fora, mas também discute assuntos. importantes para nossa classe”, explica Suely Couto, dona de uma coluna na revista Open, distribuída na região dos Jardins. Entre as causas que perturbam essas figuras sempre sorridentes estão a fama de frivolidade do seu trabalho e… a briga por credenciais para grandes eventos. “Muitos de nós são desprezados pelas assessorias de imprensa, que nos consideram bregas por não sermos da grande mídia”, lamenta Saadia.
“Só ficamos sabendo de algumas festas depois que elas ocorrem, quando recebemos fotos por e-mail.” Outra bandeira desses colunistas é só divulgar notícias que eles consideram positivas. “Nosso foco deve ser alegrar as pessoas, dar uma palavra de incentivo e mostrar histórias de superação”, diz Glorinha Cohen, que por anos teve uma coluna social em periódicos da comunidade judaica e hoje escreve para um site que leva seu nome. “Falar de escândalo e separação de casal é bobagem.”
Se as reivindicações do grupo são bem definidas, a postura sobre aceitar ou não brindes (conhecidos no meio jornalístico como jabás) ainda é obscura. Cada um decide conforme sua consciência. “O máximo que aceito são flores”, assegura Clara Rodrigues Faria, titular desde 1980 de uma coluna no semanário “A Rua”, dirigido às classes A e B de Osasco, Carapicuíba, Jandira, Itapevi e Barueri. Recusar presentinhos, segundo ela, foi um ensinamento do falecido marido, Carlos Alberto de Araújo Faria, jornalista da “Folha de S.Paulo” na década de 70. “Dessa forma não fico comprometida com ninguém.”
Ao contrário dos colegas que gostam de exaltar o oba-oba, Clara também publica notas de política. Evidentemente, vez ou outra, entra uma fofoca. “Tem de colocar uma pimentinha ou a coluna fica sem graça”, diz. Sobre as mais conhecidas colunistas da imprensa diária da cidade, Mônica Bergamo, da “Folha de S.Paulo”, e Sonia Racy, de “O Estado de S. Paulo”, as opiniões dos membros da Apacos divergem. “Com elas, economia e política ganharam importância. Acabou o glamour”, comenta Suely. “O Cesar Giobbi (ex- Estadão) era ótimo, falava de batizado e casamento”, completa. Salani discorda da amiga: “Elas ditam os rumos do jornalismo brasileiro. São visionárias e sabem deixar a assinatura em cada nota que escrevem”. Sonia, que não conhece a Apacos, se diz feliz pelos elogios, mas não pensa em se associar. “Minha coluna é noticiosa, e não de eventos”, resume.
CADÊ O GLAMOUR?
Algumas reclamações dos colunistas
Suely Couto: “Já ganhei sapato, bolsa, bijuteria, mas ninguém nunca me ofereceu um brilhante para aparecer na coluna.”
Clara Rodrigues Faria: “Uma vez, um cara quase me esganou porque publiquei uma foto dele ao lado da mulher com a legenda ‘casal feliz’. Ela tinha acabado de trocá-lo por outro.”
Glorinha Cohen: “Se não fosse aposentada pelo estado, eu teria dificuldades financeiras, pois coluna social não dá dinheiro.”
Antonio Salani: “Todo mundo quer que eu fotografe os eventos, mas ninguém me paga uma passagem.”