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Importante é salvar vida, não reabrir cinema, diz dono do Reserva Cultural

Jean Thomas Bernardini teve de demitir quase 50% dos funcionários e prevê volta com uso de máscara e medição de temperatura

Por Miguel Barbieri Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 Maio 2020, 10h21 - Publicado em 1 Maio 2020, 06h00

O francês Jean Thomas Bernardini, dono do complexo de cinemas Reserva Cultural, de São Paulo e Niterói, de bistrôs e da distribuidora de filmes Imovision, já teve de demitir quase 50% dos funcionários.

Qual foi sua primeira providência após o decreto do fechamento de cinemas e restaurantes?

Não deixar os funcionários sem recursos. Infelizmente, não tínhamos condições, após o mês de março, de pagar o salário integral de todos. Eram 151 empregados. Desses, 72 foram demitidos e 38 entraram em férias ou licença. Quanto aos outros, reduzimos 50% do salário e da jornada, conforme o plano do governo. Tomamos essa decisão porque não sabemos quando voltaremos ao normal. Minha intenção é recontratar os demitidos, mas tudo vai depender de quando será a reabertura.

Quando prevê que os cinemas voltem a funcionar?

Vai depender de cada estado. Em São Paulo está muito mais complicado do que em Niterói. Lá, a nossa pizzaria está funcionando no esquema de delivery e, com o faturamento, dá ao menos para pagar aos funcionários. Em São Paulo, se o governo quiser que os cinemas reabram em meados de maio, o Reserva não vai reabrir. O mais importante é salvar vidas.

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O que dizem os especialistas com quem você tem contato no exterior?

Falo direto com distribuidores dos Estados Unidos e da Europa. Está todo mundo perdido. Dizem que vai depender da regressão da pandemia. Temos de acompanhar a ciência, mas, se demorar mais de um ano para a situação se normalizar, será uma catástrofe.

Será que as pessoas vão ter vontade de ir ao cinema, mesmo com a pandemia controlada?

É impossível que elas se sintam confortáveis para voltar ao cinema. Terá sido um isolamento de meses, e a primeira coisa a fazer não será ficar confinado num cinema, infelizmente.

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“A primeira coisa que a pessoa fará após o isolamento não será ficar confinada numa sala”, conta (Divulgação/Divulgação)

O Reserva Cultural tem um público de idosos, o grupo mais vulnerável. Será ainda pior?

Pelo contrário. Minha aposta é que eles sejam os primeiros a voltar, já que têm uma tendência a sair de casa, começaram a curtir mais a cultura na aposentadoria e usam menos as plataformas digitais que os jovens.

A sua distribuidora, Imovision, tinha mais de trinta filmes para estrear em 2020. Por que não adiantar o lançamento de alguns títulos no streaming?

Quando um filme vai bem no boca a boca no cinema, a renda da bilheteria é muito superior à do VoD (aluguel nas plataformas digitais). Mas estamos pensando em fazer uma tentativa com Transtorno Explosivo (System Crasher), que foi o candidato da Alemanha ao Oscar 2020.

Como estão as vendas da loja de DVDs pela internet?

A abertura foi muito recente, mas nos três primeiros dias vendemos 451 unidades, um número bastante promissor. Muitos cinéfilos estavam com saudade da mídia física, e o mercado mudou de uma hora para outra. É uma tentativa de ter um faturamento e usar a mão de obra da nossa equipe. Agora, podemos oferecer um produto que quase ninguém mais pensava em lançar.

Não teme que, na reabertura dos cinemas, o público, já com menos dinheiro, priorize filmes badalados, como o novo 007, que não são os que você exibe?

Muitos blockbusters foram e serão adiados. Acredito que veremos grandes lançamentos só a partir de janeiro de 2021. Com isso, abre-se uma brecha para os filmes “menores”. Talvez até as grandes redes de cinemas nos shoppings, como não terão estreias famosas, se interessem pelos títulos independentes, já que haverá falta, e não fartura, de filmes.

Mesmo sentindo o impacto da economia em seus negócios, é favorável ao isolamento social?

Eu, meus amigos e meus pais, de 94 e 93 anos, fazemos parte do grupo de risco. Mas, independentemente disso, sou totalmente a favor. Só vou sair do isolamento social quando o número de casos dos curados for superior ao dos infectados e quando houver sobra de respiradores e leitos nos hospitais.

“Temos de acompanhar a ciência, mas, se demorar mais de um ano para a situação se normalizar, será uma catástrofe”, conta (Rogerio Pallatta/Veja SP)

Vai conseguir superar a crise?

Será difícil, mas não impossível. Prevejo que, na reabertura, será obrigatório o uso de máscara e, para deixar as pessoas mais tranquilas, deveremos fazer a higienização das salas após cada sessão e, quem sabe, também medir a temperatura dos clientes. os custos serão maiores, não só de funcionários como de produtos e equipamentos. Nunca tivemos o patrocínio de marcas, ao contrário do Espaço e do Belas Artes, mas penso que, durante um ano, seria ótimo ter um parceiro para cobrir algumas despesas.

Você é muito ativo. Como cumprir a quarentena?

Trabalho com aquilo de que gosto, das 8 da manhã às 10 da noite. Mas dois problemas de saúde me fizeram entender melhor o isolamento. Aos 10 anos, tive reumatismo articular agudo e fiquei sete meses sem sair de um quarto. Quando jogava futebol na França, um acidente grave me deixou hospitalizado durante meio ano. Recentemente, tive sintomas gripais, fiz o teste para a Covid-19 e deu negativo. Não estou imune ao vírus, e essa doença não escolhe classe social nem faixa etária. Não dá para acreditar que é uma “gripezinha” diante de tantos óbitos no país e no mundo.

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 6 de maio de 2020, edição nº 2685.

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