“O jornalismo não é página virada para mim”, diz Maria Lydia
Ao completar 40 anos de carreira (28 deles, na TV Gazeta), a âncora se afasta para ter mais tempo em sua vida pessoal

Na próxima terça-feira (30), a jornalista Maria Lydia Flandoli encerra um ciclo de 28 anos à frente dos principais programas da TV Gazeta. “Pedi afastamento por uma questão existencial, queria mais tempo para mim”, diz a apresentadora, que tem 75 anos de idade e quatro décadas dedicadas ao jornalismo.
A seguir, ela conversa sobre sua decisão:
Por que sair do ar neste momento?
Foi uma decisão minha, tudo muito bem pensado há pelo menos um ano. Percebi que com o compromisso diário de horário fui ficando sem disponibilidade para a minha vida pessoal, para meus projetos. Embora muito satisfeita com a minha carreira e com a emissora, entendi que precisava mudar o esquema, ter mais tempo para mim. Segui o rumo apontado pela minha bússola interior e comuniquei a direção sobre minha saída no mês passado.
Mas a senhora vai deixar o jornalismo? Como será seu futuro profissional?
De forma alguma, o jornalismo não é uma página virada para mim. Já faço apresentação de eventos, mestres de cerimônias e dou palestras sobre cidadania, responsabilidade social. Não sei se vou entrar no YouTube… Não me antecipei aos fatos e estou aberta ao que vai acontecer.
Como vê o jornalismo atualmente?
Nos últimos anos, passava horas da minha vida apurando o que é fake ou verdadeiro. Isso é bem desgastante. Agora, não terei mais esse exercício. Seguirei me informando, claro, porque o jornalismo está em mim, mas com mais tempo para meus prazeres que ficavam um pouco de lado. Poderei ler a pilha de livros acumulados na minha cabeceira ou voltar a estudar francês, uma paixão.
Nesses quarenta anos de jornalismo, qual a sua maior saia justa?
Amava apresentar o jornal Gazeta Meio Dia, em que havia debates. Ficou no ar doze anos e foi um ponto alto da minha carreira. Muitas vezes, a temperatura esquentava na bancada. Uma vez, os deputados Roberto Cardoso Alves, de direita, e Aldo Rebelo, de esquerda, começaram a brigar tanto, que temi trocarem socos ao vivo. Tive de interferir e disse: “Os senhores são representantes do povo, por favor, comportem-se como tal”. Não sei de onde tirei forças para falar alto dessa forma, mas eles ficaram quietinhos (Risos). Outra vez, o Enio Mainardi ficou muito estressado com um convidado. Ele simplesmente levantou e foi embora do programa, deixando a cadeira vazia. Eu pedia: “Por favor, reconsidere”, mas Enio foi embora, mesmo assim. Segui o programa como uma entrevista. Não sou de tomar calmantes, mas naquela tarde, cheguei em casa e tomei um belo copo d’água.
Qual será a sua primeira ação após sair da Gazeta?
Marquei uma viagem de um mês para conhecer a região de Piemonte, na Itália. Em junho, estarei de volta. Seguirei minhas caminhadas pelo meu bairro, Higienópolis, onde moro há 40 anos. Sou uma cidadã consciente, daquelas que dá bronca quando vê vizinho lavando a calçada (Risos)