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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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#SPSonha: NY faz fortuna com prédios sobre pátio de manobras para trens

Inaugurado em março, o Hudson Yards é um complexo imobiliário multibilionário que serve de exemplo para a capital

Por Ricardo Chapola
Atualizado em 24 ago 2019, 10h36 - Publicado em 23 ago 2019, 06h00

Um pátio de manobras para trens, similar aos que existem na Barra Funda, na Lapa e na Mooca, abriga hoje o empreendimento imobiliário mais caro de Nova York. Inicialmente, o espaço seria ocupado pela construção do Estádio Olímpico, mas a cidade foi derrotada na disputa pelos Jogos de 2012, e a arena foi arquivada. A prefeitura, porém, decidiu manter a ideia de uma enorme laje cobrindo a área dos trens e construir algo em cima. Ali, foi aberto em março o chamado Hudson Yards. Trata-se de um bem-sucedido exemplo de recuperação de uma área ociosa da cidade, sem o uso direto de dinheiro público, apenas incentivos fiscais para quem decidisse ocupar o espaço, entre as ruas 30 e 34, na parte oeste da ilha de Manhattan. O investimento estimado no complexo é de impressionantes 25 bilhões de dólares (mais de 100 bilhões de reais — ou o equivalente a quinze vezes o custo do Jardim das Perdizes, na Barra Funda). A quantia veio de duas poderosas empresas do setor imobiliário, a The Related Companies e o Oxford Properties Group.

Durante sete anos, criou-se o novo bairro, que ocupa uma área de 113 000 metros quadrados, correspondente a um Estádio do Pacaembu e meio. Nesse período, o pedaço se valorizou e virou ponto nobre da cidade. O que antes era uma vizinhança formada por estaleiros e construções de menor porte, agora ostenta arranha-céus espelhados de 100 andares a poucas quadras do High Line, parque suspenso construído em cima do que sobrou de uma linha férrea desativada no pedaço.

Projeto do paulistano Parque Global: modelo de revitalização de área de Manhattan (Divulgação/Divulgação)

A iniciativa prevê a construção de dezesseis edifícios. O resultado esperado é o surgimento de cerca de 4 000 apartamentos (400 deles com aluguel subsidiado) e 55 000 postos de trabalho, além da oferta de serviços como restaurantes e cafés, de maneira a criar alternativas para que as pessoas não precisem sair dali para encontrar o que desejam. “Queríamos que o projeto fosse mais do que um centro comercial”, afirma Kenneth Wong, diretor da The Related Companies. Segundo ele, o complexo já atraiu empresas como L’Oréal, WarnerMedia, HBO e CNN. Por ora, o Hudson Yards conta com sete edificações prontas: duas residenciais, duas comerciais, uma de uso misto, um shopping center com 100 lojas de luxo (a exemplo de Cartier e Dior) e um centro cultural, mais uma mega escultura — esses dois últimos, um atrativo sobretudo para turistas. De março a junho, o complexo recebeu 6 milhões de visitantes.

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Batizado de The Shed, o centro cultural projetado pelo escritório Diller Scofidio + Renfro surpreende pela capacidade de transformação conforme o uso proposto. Avaliado em 500 milhões de dólares (cerca de 2 bilhões de reais), o prédio traz uma cobertura móvel que desliza para o lado, criando um novo ambiente para shows e peças de teatro. Por meio desse mecanismo, proporciona performances para 1 200 pessoas em local protegido pela estrutura. Quando não há nada em cartaz, a “capa” se recolhe e a área abaixo vira uma praça.

Outro atrativo é o The Vessel, obra do arquiteto e designer inglês Thomas Heatherwick, uma escultura-escada inspirada em um favo de mel, encravada no meio das torres do local. A estrutura de aço forma 154 lances de escada e virou ponto favorito para as selfies dos turistas. No meio, aparece um recinto de convivência, cuja missão foi neutralizar a carga de concreto e ferro a partir do plantio de árvores.

The Vessel: escultura-escada “instagramável” (Divulgação/Divulgação)

Para quem defende o Hudson Yards, a cidade otimizou um local desperdiçado, criou necessários edifícios corporativos mais modernos, além de ter reforçado bem o caixa da prefeitura. Há, porém, quem veja o projeto com ressalvas. Em um artigo publicado no The New York Times em março, o crítico de arquitetura Michael Kimmelman reprova a estética de shopping center, alheia a Manhattan, diz que os prédios dão as costas para a cidade e que o espaço não seguiu o modelo dos quarteirões menores comuns por lá. Chama o empreendimento de “o maior e o mais novo condomínio fechado de Manhattan”, voltado para 0,1% da população. Um apartamento, com 300 metros quadrados, pode custar 12 milhões de dólares. Mesmo reconhecendo o valor arquitetônico das edificações, Kimmelman sustenta que falta senso urbanístico. “Arquitetura sem design urbano é só escultura”, escreve o crítico, citando o Rockefeller Center como referência da boa relação das obras com o entorno do espaço público.

A iniciativa bilionária americana tem sido usada como espelho por empresários paulistanos que desejam levantar um megaempreendimento, estimado em 8 bilhões de reais, em uma das áreas mais nobres da capital, próxima ao Parque Burle Marx, às margens do Rio Pinheiros. As obras do luxuo so complexo Parque Global devem ser retomadas em outubro, depois de cinco anos embargadas pela Justiça por questões ambientais e urbanísticas. Em 218 000 metros quadrados, promete-se a construção de torres residenciais, shopping, hospital, teatro, creche… A previsão é que tudo fique pronto em oito anos. “O Parque Global será o condomínio mais aberto ao público de São Paulo”, sonha Adalberto Bueno Netto, o presidente do grupo Bueno Netto, uma das incorporadoras do empreendimento. A promessa é a ligação com a Linha 17 – Ouro do metrô, ainda em fase de planejamento, e a abertura de outros estabelecimentos por ali. A The Related Companies, que financiou as obras do Hudson Yards, também tem participação nesse projeto. “Parece que o Parque Global terá uma relação melhor com o espaço urbano no que diz respeito a seus vizinhos”, diz Nabil Bonduki, arquiteto e urbanista da USP. “O que não elimina o fato de seguir a mesma perspectiva de elitização desse pedaço.”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 28 de agosto de 2019, edição nº 2649.

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