#SPSonha: formandas projetam prédios para recuperar espaços no centro
Yasmine Pimenta Lopes e Carolina Carvalho criaram prédios para a economia compartilhada

Por muito tempo, as faculdades de arquitetura sofreram da síndrome de Brasília: alunos criavam bairros do zero, conjuntos habitacionais em superquadras e projetos públicos grandiloquentes (sem calcular o orçamento). O tempo de fartura acabou, e é estimulante ver as propostas viáveis dos alunos de arquitetura e urbanismo da Belas Artes. Duas delas me chamaram a atenção: ficam em terrenos desperdiçados no centro, cercados de boa oferta de transporte público, e são de jovens arquitetas a poucas semanas de receber o diploma (o Clube do Bolinha da arquitetura já é pretérito).
No espírito da época, e aproveitando as regras do novo Plano Diretor, elas sugerem prédios para a economia compartilhada, com relação convidativa com a calçada. Os dois edifícios têm coworking e coliving — afinal, as formandas pertencem a uma geração que dificilmente terá um emprego das 9 às 18 horas (nem deseja), que é mais nômade que seus pais e avós, e que não vê a compra de carro como prioridade.

No lugar de um imóvel baixinho no Anhangabaú, formado apenas por três pavimentos, bem deteriorado, com as inevitáveis garatujas do pixo, Yasmine Pimenta Lopes (orientada pelo professor Ivanir Neves Abreu) sugere o edifício Colecto. Teria entradas pelas ruas Formosa e Xavier de Toledo, junto à sempre degradada Ladeira da Memória, “arborizada, mas isolada pelo alto muro da estação de metrô Anhangabaú”, descreve. Tem “grande fluxo, onde as pessoas passam, mas não permanecem”. Restaurante e biblioteca estariam na entrada pelo vale, e uma galeria de lojas pela Xavier de Toledo, vizinha à saída da estação.

No terreno de 1 012 metros quadrados, haveria quatro andares para escritórios compartilhados e espaço residencial nos dois últimos andares. Entre eles, um vão para ser usado como ponto de encontro. “A ideia é trazer fluxo para a região também à noite, aumentando a vigilância e a sensação de segurança”, justifica. Uma das inspirações dela é o coworking Civico, na Rua Virgilio de Carvalho Pinto, em Pinheiros.

Sua colega Carolina Carvalho (orientada pelo professor Ed Lucchini Jr.) escolheu uma área ainda mais acidentada, onde hoje agonizam um estacionamento e uma escadaria, com 2 000 metros quadrados, em declive, entre os viadutos Major Quedinho e Nove de Julho, chegando na parte de baixo à avenida homônima e à Rua Álvaro de Carvalho. Ela propõe uma torre de dezoito andares também de uso misto. Nos três diferentes térreos, dependendo do acesso pelos viadutos ou pela avenida, ela instalou equipamentos de uso público, de lanchonete a biblioteca, salas para palestras e bicicletário.

No 3º e no 4º pavimentos, Carolina calculou que caberiam 143 estações de trabalho mais salas de reuniões, de jogos (chamada de “descompressão”) e copa. Também haveria um andar aberto, de integração entre moradores e o pessoal dos escritórios, com academia, espreguiçadeiras e área verde (a nova geração parece finalmente valorizar o paisagismo). Do 6º ao 18º, cinco apartamentos por andar, com cozinha, área de serviços e salas compartilhadas — para jovens que preferem uma localização inspiradora a imóveis grandes e isolados.

Atenção, investidores: idade não é documento na arquitetura. David Libeskind tinha 26 anos quando projetou o Conjunto Nacional. Carlos Lemos tinha 25 quando começou a pilotar a filial paulista do escritório de Oscar Niemeyer. Ele tocou a execução do Copan. O arquiteto João Kon lançou prédios aos 21.