SPSonha: faltam projetos para a casa moderna (e vazia) da Vila Mariana
Concebida por Gregori Warchavchik em 1927, a construção é tratada como batata quente

Por pouco, a primeira casa moderna do país, projetada por Gregori Warchavchik em 1927, não foi demolida para virar o condomínio Palais Versailles. Seriam quatro torres de treze andares (pelo nome, a vanguarda não era o forte dos incorporadores). Depois de muita pressão da vizinhança, o imóvel foi tombado em 1984. O progresso parou aí.

Vazia desde 1977, a residência, com 12 500 metros quadrados de área verde, com paisagismo de Mina Klabin, mulher do arquiteto, é tratada como batata quente. Já pertenceu ao governo do estado e à prefeitura (deve voltar para o estado).
Nos trinta anos em que a casa esteve em mãos públicas, nenhum projeto de museu, faculdade ou centro de convivência saiu da gaveta. Provavelmente, muitos vizinhos lutavam mais contra os prédios, que lhe tirariam o sossego, do que para preservar a construção original (na tarde ensolarada do sábado 9, o chamado parque modernista estava sem visitantes, apesar de gratuito e rico em sombra).

Se um governante anunciasse uma concessão privada para permitir um café ali, haveria escândalo contra a “privatização” entre os intelectuais que assistem silenciosamente ao abandono. Se um empresário topasse adaptar a obra, com um projeto benfeito, certamente passaria pelo ritual de exigências e burocracias governamentais que fariam com que pensasse duas vezes antes de embarcar nessa. A residência continua, por enquanto, escondida por um muro altíssimo. Segundo o influente historiador Kenneth Frampton, foi a primeira casa moderna no mundo. Em outro lugar, seria um vibrante destino turístico.


Publicado em VEJA SÃO PAULO de 20 de março de 2019, edição nº 2626.