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Por Raul Juste Lores
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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Marieloisa, o edifício remanescente dos “predinhos de rendas” dos anos 40/50

Esse tipo de imóvel foi desestimulado por políticas de governo; reformadas pelo designer Gabriel Valdivieso, unidades estão para alugar em Santa Cecília

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
29 jan 2021, 02h02

Até os anos 1940, dois terços da população paulistana moravam de aluguel. Como não havia nem caderneta de poupança, muito menos investimentos em bolsa, muita gente poupava construindo “predinhos de rendas”. Com várias unidades, todas para locação. Como boa parte dos paulistanos tampouco tinha economias suficientes para a “casa própria”, existia uma vasta demanda para tanto edifício de aluguel. Os preços eram competitivos: havia excesso de oferta e as leis à época favoreciam o adensamento. Até minúsculos terrenos conseguiam abrigar predinhos com vinte, trinta unidades.

Parte interna de Marieloisa. Escadas e a frente de uma das portas dos apartamentos
A família do designer Valdivieso voltou a investir e a atualizar o prédio (Raul Juste Lores/Veja SP)

O Marieloisa, na Alameda Glete, Santa Cecília, é um temporão desse formato, que foi desestimulado por diversas e simultâneas políticas públicas. Da lei do inquilinato de Vargas à política automotora de JK, passando pelo BNH dos militares, os estímulos focaram na casa própria em áreas distantes, onde o metro quadrado é barato. Terrenos pequenos e centrais viraram estacionamentos — exigências como recuos dos quatro lados e área permeável inutilizaram esses espaços para habitação.

Erguido nos anos 1950, o Marieloisa permanece para locação nas mãos da mesma família até hoje. A poucos metros do Minhocão (aberto posteriormente, em 1971), ele sofreu a degradação com a vizinhança da obra malufista.

Por sorte, um dos herdeiros do imóvel é o designer de interiores Gabriel Valdivieso, de 39 anos. Quando a família decidiu restaurar o prédio e retirar os últimos inquilinos, Valdivieso tomou as rédeas da empreitada. Ele, que já trabalhou no Rosenbaum Design e fez muitas reformas, caprichou na pesquisa, na transformação dos apartamentos (inclusive acústica) e nos dois espaços comerciais no térreo (ocupado com exposições das galerias Central e Leme, mas ele espera selecionar algo permanente que coloque “olhos na rua” por ali).

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Quarto do Marieloisa: camas e mesinhas
Investimento duradouro: o Marieloisa já nasceu para locação, algo desestimulado por políticas governamentais (Raul Juste Lores/Veja SP)

Se o original não se trata de um projeto de vanguarda, como era comum naquela década, Valdivieso reconhece que os materiais eram muito bons e o prédio não precisava de nenhuma reforma arrasa-quarteirão. Uma das regras dos edifícios exclusivos para locação era ser um investimento que não se deteriorasse rapidamente — o proprietário ficaria com aquele bem por décadas. Também ajuda que uma geração de jovens com discurso alternativo, mas de alta renda, tenha redescoberto a Santa Cecília, com seu mix de usos, vida de rua e calçadas ativas (vários predinhos desse formato estão na Luz, no Bom Retiro, no Bixiga e nos Campos Elíseos, sem a mesma sorte).

O imóvel não era tombado, então Valdivieso não precisou lidar com a burocracia governamental, que pode levar um ano para aprovar uma mudança de cor; nem, tampouco, ficou na mão de síndicos ou proprietários amantes do improviso e do barateamento tosco (quando não é tombado, fazem as piores das mutilações, sem pudor). Critério com liberdade produziu esse belo resultado, algo ainda tão difícil nesta terra. Os 24 apartamentos de 35 a 46 metros quadrados estão disponíveis para locação. Que inspire outros.

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Escultura de Rodrigo Sassi
Obra de Rodrigo Sassi, da Central Galeria, no térreo do Marieloisa (Raul Juste Lores/Veja SP)

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Publicado em VEJA São Paulo de 03 de fevereiro de 2021, edição nº 2723

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