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São Paulo nas Alturas

Por Raul Juste Lores Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Redator-chefe de Veja São Paulo, é autor do livro "São Paulo nas Alturas", sobre a Pauliceia dos anos 50. Ex-correspondente em Pequim, Nova York, Washington e Buenos Aires, escreve sobre urbanismo e arquitetura
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As intervenções artísticas na capital da Albânia que são lição para São Paulo

Hoje primeiro-ministro do país, o artista Edi Rama foi prefeito e convocou amigos para colorir e transformar a cidade sem obras bilionárias

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 fev 2021, 01h00
Foto de um prédio em Tirana, Albânia
Capital da pequena Albânia, no Leste Europeu, Tirana ganhou fachadas coloridas sobre a arquitetura soviética: autoestima (AGF/Getty Images)
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São Paulo já se acostumou a suas centenas de conjuntos habitacionais cinzentos, incolores há cinquenta anos, quando surgiram no auge do BNH. Com viadutos e vias expressas da mesma cor, não é difícil imaginar o efeito psicológico de se encarar uma paisagem quase soviética todos os dias. Quem diria que uma pequena capital do Leste Europeu, que conseguiu deixar a aridez do comunismo para trás, mata de inveja a Pauliceia no quesito colorido.

Com 900 000 habitantes, pouco maior que São Bernardo do Campo, Tirana, a capital da Albânia, se lambuzou nas cores, graças a um prefeito artista plástico, Edi Rama. Quando chegou ao poder, em 2000, a cidade parecia em ruínas. Apenas 78 postes de iluminação funcionavam na cidade toda. Sem dinheiro para grandes obras, ele convocou outros amigos artistas e começaram a fazer intervenções em prédios públicos, residenciais, avenidas. “Não era minha arte, era uma ação política”, descreveu. “Teve um efeito em cadeia, de brincar com a imagem, mas também de orgulho dos moradores.” Ele ficou onze anos na prefeitura e, desde 2013, é o primeiro-ministro do país (que fica ao norte da Grécia).

Um idoso caminhando nas ruas de Tirana
Prédios reformados: composições abstratas em alta (Luis Dafos/Getty Images)
Prédios pintados com arco-íris
Conjunto “arco-íris”: próximo a uma rede de padarias importante da cidade (Justin W Flory/Wikimedia Commons)

Professor de artes, é filho de um escultor que precisava seguir o realismo soviético em sua obra. Viu a destruição de 2 000 igrejas e mesquitas no auge da ditadura de Enver Hoxha, nos anos 1960, e a arte moderna ser proibida quando o país passou da órbita soviética para a chinesa. Com 2 metros de altura, virou jogador de basquete, o que lhe permitiu viajar e estudar na França. Só voltou após a queda do regime, nos anos 1990. O legado de Rama é visível por toda a parte. “A cidade passou a respirar novamente”, explica Alma Gerxhani, que toca com Eva Kushova o Visit Tirana (@visit_tirana), de incentivo ao turismo na cidade.

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Uma nova ofensiva artística foi feita por Rama em 2003, quando realizou a Bienal de Artes de Tirana. Entre seus organizadores estavam o curador inglês Hans Ulrich Obrist e o artista albanês Anri Sala, que expôs em 2017 e 2018 no Instituto Moreira Salles daqui. Um fruto da bienal foi a expansão da reforma de fachadas, agora com propostas assinadas pelos ilustres Olafur Eliasson e Dominique Gonzalez Foerster. Outro desdobramento foi a realização de um média-metragem por Sala chamado Dammi i Colori. A obra, que documenta poeticamente a revolução colorida, é hoje parte do acervo do Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York.

Fachadas verde e laranja da capital da Albânia
Sem medo de ousar: arquitetos e artistas do mundo inteiro passaram a visitar Tirana (Thomas Trutschel/Eye Ubiquitous/Getty Images)

Tirana continua a capital de um país pobre, mas ganhou outra cara, além de estar em alta na arquitetura contemporânea. O japonês Sou Fujimoto deixou sua marca por lá em 2013, no Pavilhão Nuvem. O escritório belga 51N4E remodelou em 2017 a Skander beg Square, que voltou a ser ponto turístico. Os eslovenos Sadar + Vuga foram selecionados para desenhar uma nova sede da Suprema Corte. Já há quem compare a cidade albanesa à Berlim do início dos anos 1990, pelos preços baratos e atração de artistas. Sem obras bilionárias, Tirana entrou no mapa criativo.

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Faixadas de prédio da capital da Albânia
Faixadas coloridas: arquitetura colorida sem investimentos bilionários (Brunella Saccone/Don't rest your head/Instagram)

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Publicado em VEJA São Paulo de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725

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