“Jardim de Inverno”: um drama para quem gosta de teatro em sua essência
Marco Antônio Pâmio dirige Andréia Horta e Fabrício Pietro em versão do romance "Revolutionary Road", de Richard Yates

Foi apenas um sonho. Essa perfeita síntese batizou em português o filme dirigido por Sam Mendes com base no romance Revolutionary Road, de Richard Yates. Os personagens defendidos nas telas por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio ganham os palcos com Andréia Horta e Fabrício Pietro, também adaptador do texto, agora chamado de Jardim de Inverno.
A encenação, concebida pelo diretor Marco Antônio Pâmio, dialoga com a década de 50, época em que vive o casal April e Frank, moradores de um subúrbio americano. Ambos levam uma rotina tranquila, criam dois filhos e mantêm uma relação amistosa com os vizinhos.
Frank lida com a burocracia em seu trabalho, e April tenta reviver o desejo de ser atriz em um grupo de teatro do bairro. Entediados, eles se percebem em uma situação-limite. A mulher, então, propõe um plano ousado: largar tudo e passar uma temporada na Europa.
+ Leia sobre “As Crianças”, em cartaz no Sesc 24 de Maio.
Andréia imprime com sutileza a instabilidade emocional de April, assim como Pietro usa a insegurança de Frank em seu benefício para garantir uma identidade ao desafiador personagem. A rigorosa direção de Pâmio recorre a poucos elementos cênicos e encontra comunicação, principalmente por ele não ter tido medo de adotar uma estética conservadora.
O espetáculo, num primeiro momento, é um raro exemplo convencional, que extrai efeitos do mínimo — e nesse quesito reside sua grande qualidade. Trata-se de um drama como os de antigamente para quem gosta de teatro em sua essência, aquele que remete aos clássicos. Faz isso, inclusive, ao reservar bons momentos ao extenso time coadjuvante, que inclui Erica Montanheiro, Martha Meola, Ricardo Ripa, Luciano Schwab, Aline Jones, Julia Azzam, Lucas Amorim e Iuri Saraiva, destaque na pele do mais difícil dos personagens (120min). 14 anos. Estreou em 11/10/2019.
+ Teatro Raul Cortez. Rua Doutor Plínio Barreto, 285, Bela Vista. Sexta, 21h30; sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 50,00. Até o dia 17. Nesta sexta (1º), os ingressos custam R$ 20,00.