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Batalha da Aldeia: canal de sucesso dá espaço a artistas promissores

Nascido de um encontro semanal numa praça de Barueri, a empresa conta hoje com estúdio no Morumbi e mais de 3,5 milhões de inscritos no Youtube

Por Juliene Moretti Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
26 fev 2021, 01h35
Gz e Bob 13 fazendo poses para foto em seu estúdio
Gz e Bob 13, no Morumbi: planos para remunerar artistas (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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“Gosto de falar que a Batalha da Aldeia surgiu por causa de uma história de amor”, diverte-se Bruno de Sousa, 31, o Bob 13. Ele e o amigo Giovanni Zanardi, 27, o GZ, deram o pontapé inicial na criação da competição de rimas da Praça dos Estudantes, em Barueri, em 2016. Bob explica: ele trabalhava no interior como carteiro quando conheceu Deyse, sua mulher. Meses de namoro a distância depois, ele se mudou para a cidade da amada, na grande São Paulo.

Apaixonado por rap e música, achou que encontraria a cena cultural fervendo, mas se decepcionou. “Não tinha nada e comecei a entrar em depressão porque só trabalhava, gastava horas dentro do trem e não tinha lazer”, conta. Foi o cunhado que o apresentou a GZ, “boa vibe, skatista, gosta de música”. Os dois arriscaram uma estratégia. Com um caderno em mãos, circularam a praça considerada o point dos jovens procurando por interessados em brincar de fazer rimas “free style” — sem competir. “Era cheio de rodinhas de adolescentes. E tinha também muita coisa errada, com música alta, bebidas e drogas”, lembra GZ. Na primeira noite, conseguiram seis nomes e o público chegou junto. “Não era uma batalha, mas de repente, um começou a provocar o outro. A disputa foi natural”, conta. Em pouco tempo, virou tradição, toda segunda-feira, a partir das 19 horas, era a vez da Batalha da Aldeia.

A jogada para quebrar os limites da praça veio em menos de um mês de existência. Um dos participantes, Lucas Matheus, o Lucão, sugeriu a criação de um canal no YouTube. “Já existiam algumas iniciativas fora do estado e vimos que nem a mais tradicional aqui de São Paulo, a Batalha do Santa Cruz, tinha uma representatividade nas redes”, diz Bob. “Desde então registramos todas as batalhas, as 227 delas.” Atraíram ainda mais público, passaram a receber participantes de outras cidades e chamaram a atenção da guarda municipal, que constantemente pressionava o grupo para sair dali. Eles contam que foram cerca de dez reuniões com a prefeitura para conquistar o espaço.

Já nas redes, não existia tempo ruim. O canal do YouTube registra mais de 3,5 milhões de inscritos e os vídeos costumam ultrapassar 1 milhão de visualizações. Do Carnaval do ano passado, a batalha de dois dos destaques da cena, Salvador e Kant, contabiliza mais de 5 milhões de visualizações. Outros mais antigos chegam a 9 milhões. Eles ainda abraçaram a batalha da diversidade, hoje chamada de Batalha das Venenosa (assim, sem o plural mesmo), em homenagem a uma integrante que morreu no ano passado. Há ainda um evento interestadual e um estúdio de gravação para abrigar os artistas. Na pandemia, as competições ficaram no plano virtual, com disputas ao vivo pelo Twitch. Os encontros tradicionais são às segundas, disponibilizados no YouTube. Às quartas tem a batalha com MCs ainda desconhecidos e de outros estados e duas vezes ao mês, a Batalha das Venenosa.

Grupo em sua mesa de trabalho, editando uma gravação
Estúdio no casarão: apoio para MCs que iniciam na carreira (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Há quatro meses, Bob, GZ e a trupe se mudaram para um casarão no Morumbi, a fim de estruturar melhor a empresa. O espaço, com piscina, tem ainda estúdio de edição, de gravação e mais cenários para lives. “Viemos para cá porque a maioria dos patrocinadores não ia ao nosso espaço antigo, que estava arrumado, mas era na favela”, diz GZ.

A ideia é que com a entrada de mais verbas eles consigam remunerar os participantes das batalhas semanais. “Sabemos que mais de 90% dos MCs estão nas comunidades e às vezes nem têm dinheiro para ir até os eventos. Queremos que eles tenham uma profissão e consigam viver da arte deles, seja na música, seja dando palestras sobre o assunto”, diz GZ. “O rap e as batalhas são marginalizados porque as pessoas não conhecem. Mas para o indivíduo entrar na disputa, ele estuda muito — história, matemática, cultura geral —, e o melhor, desvia dos caminhos errados”, completa Bob.

Ringe de MMA com grande público em volta do octógono. No centro, dois rappers com microfones e juizes
No ringue: celebração de aniversário em 2019 foi com MMA (Pedro Fratore/Divulgação)

DE OLHO NA CENA

Quem são os MCs que estão em destaque na Batalha da Aldeia

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Publicado em VEJA São Paulo de 03 de março de 2021, edição nº 2727

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