Os artistas e músicas que estão em alta no TikTok
Alcançando milhões de usuários do aplicativo, Kawe, Tarcísio do Acordeon, entre outros nomes, viram suas carreiras guinarem
KAWE: O improviso que bombou
Foi no susto que Kawe, 21 anos, gravou o clipe de MDS. a ideia mesmo era registrar Iluminado. “Cheguei e a produção tinha chamado modelos e alugado lanchas. Nada a ver com o tema da música”, conta. Para não perder a produção, descolou a composição que estava guardada. Lele JP, que faz uma participação, improvisou mais alguns versos para finalizar. “Foi um bololô.” Deu certo. O clipe passou das 44 milhões de visualizações no YouTube e o som virou sensação no TikTok. são mais de 2 milhões de vídeos, incluindo o da Maísa e da Luísa Sonza, e o cara chegou a ocupar o primeiro lugar no Spotify. Do bairro Terceira Divisão, na Zona Leste, ele comemora a conquista em meio à pandemia. “De onde eu venho, ninguém acreditava que poderia acontecer. Quebrei com esse pensamento.”
Como começou na música?
Primeiro foi no funk ostentação e o consciente, que é mais perto do que faço hoje. Fiquei mais próximo do rap depois, por causa das batalhas de rima. Criei no meu bairro a Batalha na Praça, porque era muito longe ir em outras. No fim, me encontrei no trap, porque posso falar sobre ostentação, mas inspirar com as músicas de superação.
Sua família apoiou?
Muito. Trabalhava com o meu pai, que me emprestava dinheiro para gravar as paradas. Eu pagava aos poucos. a minha mãe compartilha tudo que eu faço. Eles são nota 1 000. Tenho esse privilégio. Vi muitos caras não terem esse apoio e perder a referência.
O que inspira nas suas composições?
Sempre procuro colocar o que vivi ou o que estou vivendo. Tive a minha fase de sonhar e, agora, vivo no sonho, tem a conquista, a superação, a luta. São lados que eu posso contar.
MDS se difere das outras músicas. Tem um ambiente de balada, aglomeração, drogas. Que cena é essa?
Queria fazer uma coisa de festa, de rave, para a galera curtir. Como eu disse, tudo o que canto eu vivo ou já vivi. Essas fases de bala, MD, essas paradas, passei por elas muito tempo atrás. Eu era doidinho. Hoje não faço mais nada. Não bebo, não uso drogas, não fumo, graças à Deus. Mas passei por algumas experiências, então, tenho minhas referências.
Curtiu a coreografia da música no TikTok?
Demais. Aprendi e faço.
O som traduz o desastre ou uma surpresa: Oh, no!. Acompanhado dele, os vídeos costumam ser divertidos, mesmo quando o personagem filmado tenha se dado ligeiramente mal — como aquele tombo que a gente leva e dá risada mesmo assim. O trecho saiu na música Remember (Walking in the Sand), do grupo The shangri-las, formado nos anos 60. O produtor capone fez um remix e, em seguida, Kreepa, outro artista, resgatou a faixa para o sample, sucesso no app com mais de 11 milhões de registros.
O desafio de Buss It, da rapper Erica Banks (foto), que tem mais de 2,4 bilhões de visualizações na plataforma, é a transição. Os vídeos começam com a faixa Hot in Herre, do Nelly, normalmente com a pessoa mais à vontade. A cena corta para ela descendo até chão com visual bem diferente e Buss It na trilha. Iza foi uma das que entraram na brincadeira e seu post tem mais de 3 milhões de curtidas.
MC Kekel já é conhecido nas paradas, principalmente depois que levou o romantismo para o funk com o hit “O Bebe”, ao lado de Kevinho, e “Amor Verdadeiro”, com MC Rita, ambas de 2018. No TikTok, a turma resgatou essa última, que soma mais de 24 000 vídeos. Outra queridinha é “Quem Mandou Tu Terminar (Tô Bonito Tô Né?)”, que tem cerca de 42 000 registros, e a novidade “Nervosinha”, subindo na contagem. O próprio cantor se rendeu às brincadeiras: seu perfil tem 1,8 milhão de seguidores, com vídeos que chegam a atingir mais de 500 000 visualizações.
TARCÍSIO DO ACORDEON: A vez da sanfona
O forró sempre esteve na vida de Tarcísio Souza, 27 anos, de Campos Sales, no Ceará. Aos 10, pediu um acordeão para o pai. “Ficava o dia todinho com a sanfona, era meu brinquedo”, diz. Veio o apelido: Tarcísio do Acordeon. O cara despontou no TikTok com duas faixas, MeiaNoite (Você Tem Meu WhatsApp) e Esquema Preferido, em parceria com o DJ Ivis. Ambas figuraram entre as cinco mais tocadas do Spotify.
Esperava a repercussão?
Sucesso nenhum. As plataformas tocam mais funk, bregafunk, sertanejo. Não tinha forró, que sempre foi discriminado. Espero que abra espaço não só para mim, mas para outros artistas do segmento. A vontade é igualar ao sertanejo
Como sente ao fazer sucesso na pandemia?
A gente não sentiu ainda a emoção do público. Fico feliz porque a música entrou nas plataformas de maneira muito orgânica, não colocamos dinheiro. A conquista maior é essa. Ser reconhecido sem gastar. Ver crianças e adultos cantando é muito legal. Imagina um artista estourar e não poder tocar? Sucesso na pandemia é isso: ter paciência.
Você tocou para outros artistas. Como foi encarar a carreira-solo?
Morei em São Paulo quando estava com um projeto de pé de serra. Era bom, mas era só aquilo. Tocava nos bares de Osasco, de Barueri. Foi complicado, fui humilhado e na maioria das vezes sobrava só 50 reais de cachê. Meu pai sempre falou para fazer um projeto meu, maior. Voltei e fiz as composições sobre sofrência, porque todo mundo se identifica. É da vida real. Lançamos música Sofrer por Morena, gravada por Vitor Fernandes, que fez sucesso aqui no Nordeste, e as coisas começaram a acontecer.
“Por onde que tu anda? Qual é o nome do seu novo amor? Ainda mora no interior?” As perguntas fazem parte da música X, de Ana Gabriela, e a brincadeira no TikTok é responder a elas todos os meses do ano para ver se alguma das alternativas muda. A turma começou a onda em dezembro e o trecho da faixa já contabiliza 110 000 vídeos. Com músicas pop suaves e românticas, a cantora lançou seu disco de estreia, Ana, no ano passado.
+Assine a Vejinha a partir de 6,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 10 de fevereiro de 2021, edição nº 2724