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Alexandre de Gusmão, que dá nome à praça em Cerqueira César, ganha livro sobre seu papel na história do país

Estadista do século XVIII foi responsável por boa parte do atual traçado do mapa do Brasil

Por Guilherme Queiroz
12 mar 2021, 06h00
busto de Alexandre de Gusmão
Escultura na Praça Alexandre de Gusmão, sem identificação, na praça que leva o mesmo nome, localizada no Jd Paulista (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Responsável por boa parte do atual traçado do mapa do Brasil, o escritor e poeta Alexandre de Gusmão (1695-1753) é tema de um livro lançado pela Editora Record em fevereiro. A obra é de Synesio Sampaio Goes Filho, 81, ex-embaixador em Bogotá, Lisboa e Bruxelas e estudioso da história da diplomacia brasileira.

capa do livro Alexandre deGusmão (1695-1753): o Estadistaque Desenhou oMapa do Brasil e, ao lado, foto de seu autor, synesio sampaio
Lançamento (à esq): “Alexandre de Gusmão (1695- 1753): o Estadista que Desenhou o Mapa do Brasil” (224 páginas, R$ 59,90, Record). Livro do embaixador Synesio Sampaio Goes Filho (à dir), 81 anos, membro da Academia Paulista de Letras e estudioso da história da diplomacia brasileira (Reprodução/Academia Paulista de Letras/Divulgação)

Gusmão, que também dá nome a uma fundação do Ministério das Relações Exteriores, foi homenageado na capital paulista em 1995 com um busto na praça que leva seu nome, localizada atrás do Parque Trianon, na região da Avenida Paulista. A placa de identificação da obra, há tempos desaparecida, representa um pouco do apagamento da figura histórica, esquecida durante mais de um século.

Alexandre cresceu em Santos, no litoral paulista, e foi para Portugal aos 13 anos, na companhia de um dos seus doze irmãos. Estudou teologia na Universidade de Coimbra e, depois, direito na Universidade Sorbonne, na França, onde despontou para a diplomacia quando foi convidado para ser secretário do então embaixador em Paris, com 19 anos. Após ocupar um posto em Roma, onde fez amigos poderosos como o cardeal Lambertini (que viraria posteriormente o papa Bento XIV), o santista tornou-se secretário do rei em 1730 e entrou no círculo de confiança da autoridade máxima. “Durante todo o reinado de dom João V, quem mandava era o gabinete íntimo do rei”, diz o autor.

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Em 1750, Gusmão deixou sua marca na história brasileira: foi o principal articulador do Tratado de Madri, que redefiniu as fronteiras entre a América portuguesa e a espanhola, mudando o então ultrapassado Tratado de Tordesilhas, de 1494. O chamado Mapa das Cortes, que o leitor vê na imagem abaixo, foi elaborado pelo estudioso e serviu de base para o acordo: o traçado definido na época representa dois terços do atual território brasileiro. “Ele deu a base fundamental, o resto foi o Império e o Barão do Rio Branco (1845-1912), que realizaram acertos relativamente pequenos”, explica o escritor. O nome de Gusmão não consta no documento. “Quem assinou foi um nobre que ocupava o cargo que seria hoje o de ministro das Relações Exteriores.”

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mapa das cortes, com traçado proposto para a fronteira brasileira
Mapa das Cortes: elaborado por Gusmão (Divulgação/Divulgação)

Em meio à insatisfação da aristocracia, irritada por receber ordens de um nativo da colônia e com a morte de dom João, Gusmão saiu do governo com desafetos, como o Marquês de Pombal, e morreu doente, em 1753, sem reconhecimento. “O Rio Branco foi um dos primeiros que deram o devido valor a ele quando estudou a questão das fronteiras. Ele descobriu um exemplar do Mapa das Cortes em uma biblioteca de Paris”, explica o estudioso Goes Filho.

O livro do diplomata começa com um momento histórico da colônia, quando Portugal extraiu rios de ouro de Minas Gerais, e depois passa pela vida e a atuação política do brasileiro. A obra foi um pedido da Fundação Alexandre de Gusmão, braço cultural do Itamaraty, durante o governo Temer, e entregue em 2019 na gestão Bolsonaro.

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A publicação, no entanto, foi vetada, porque o prefácio foi escrito por Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro do governo Itamar Franco, que já teceu críticas ao chanceler Ernesto Araújo. “Não concordei que tirassem o Rubens, um grande conhecedor da história diplomática. Queriam publicar sem o prefácio. Foi um mal que me fez bem. Depois que saiu na imprensa, as editoras me procuraram, e agora a obra vai ter mais circulação”, cutuca o autor.

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Publicado em VEJA São Paulo de 17 de março de 2021, edição nº 2729

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