Obra conta a história social e econômica de São Paulo entre 1850 e 1950
O período-chave para o crescimento do estado e da capital paulista pela chegada dos imigrantes
O século que fez toda a diferença para que a região passasse a ser a potência que é. Esse é o miolo do livro História Econômica e Social do Estado de São Paulo, 1850-1950 (90 reais; Imprensa Oficial), do economista brasileiro Francisco Vidal Luna e do historiador americano Herbert S. Klein. Atrás do Rio em grande parte dos indicadores produtivos no século XIX, São Paulo acabou responsável por cerca de 40% da produção agrícola e industrial do Brasil em 1940. Com isso, a população também cresceu a passos largos. Para se ter uma ideia, só na capital, ela saltou de 25 000 habitantes, em 1850, para 2,2 milhões, em 1950. No estado, esse número foi de 500 000 para 8 milhões.
Desde a descoberta do ouro em Minas Gerais, anos antes, São Paulo teve o privilégio de estar posicionado em local estratégico, ponto de referência para o escoamento da riqueza do interior da nação. Quando a produção de café se espalhou pelo planalto da província, idem. Isso rendeu, inclusive, mudanças demográficas drásticas. A região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, por exemplo, que tinha 37% da população da província em 1836, passou a abrigar apenas 3% dos paulistas em 1950. O povo foi para o interior e ajudou a aumentar a produtividade do estado, com mais da metade da produção mundial do grão em 1910 (cerca de 10 milhões de sacas).
Comandada pela burguesia, a região também teve o mérito de investir em infraestrutura. Uma amostra disso foi a rápida ampliação da malha ferroviária. Construída em 1867, a linha férrea entre Jundiaí e Santos foi essencial para que os insumos chegassem com rapidez ao porto e alavancou o meio de transporte por aqui, amplamente desenvolvido na década seguinte. A influência foi tão grande que o estado era informalmente dividido com base no caminho das ferrovias, como Baixa Sorocabana, Mogiana, Central, Capital, Litoral Sul.
O livro foi publicado internacionalmente pela Universidade Stanford em 2018 e pela Imprensa Oficial, por aqui, em 2019. Trata-se do segundo volume de uma trilogia que começou abordando o intervalo entre 1750 e 1850 e terminará com o recorte entre 1950 e os dias de hoje (esse último ainda está em produção). O período de tempo contido no volume recém-lançado é recheado de mudanças estruturais no Brasil, como a abolição da escravatura, a proclamação da República, a política do café com leite, a era Vargas e o crescimento industrial do país. Tudo isso colaborou para que o epicentro econômico da nação mudasse e saísse do Rio de Janeiro.
A pesquisa para o livro, que levou um ano e meio, foi feita em censos, documentos alfandegários, anuários estatísticos e trabalhos acadêmicos. Luna e Klein, que já assinaram mais de uma dezena de obras juntos, demoraram mais um ano e meio para escrevê-lo — e de um jeito inusitado. O economista redige em português. O americano, fluente na nossa língua, traduz para o inglês, tira o excesso de “economês” e inclui a sua parte.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 23 de outubro de 2019, edição nº 2657.