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Roberto Alvim: “Bolsonaro me dará a possibilidade de fazer algo grande”

O diretor fala de sua conversão ao conservadorismo, da ligação telefônica que recebeu do presidente e diz que vai mudar a história do teatro brasileiro

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 17 jan 2020, 11h52 - Publicado em 16 jun 2019, 00h05
Roberto Alvim, diretor teatral e dramaturgo, na sede do teatro Club Noir, na rua Augusta, em 2010. (Dedoc/Veja SP)
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O diretor carioca Roberto Alvim, hoje com 46 anos, despontou nos palcos paulistanos no fim da década de 2000. Ao lado de sua mulher, a atriz Juliana Galdino, ele fundou a Cia. Club Noir em 2006 e beirou a unanimidade nos anos de 2010 com espetáculos marcantes, como Tríptico Samuel Beckett e Leite Derramado, que sempre vinham seguidos de enormes elogios de artistas e formadores de opinião.

Em setembro de 2018, o encenador decepcionou muitos dos seus admiradores ao anunciar seu apoio ao então candidato Jair Bolsonaro, eleito, no mês seguinte, presidente da República. Desde lá, Alvim afirma que tem sido alvo de ofensas e boicotes. A sede do Club Noir, na Rua Augusta, precisa ser entregue até o dia 25. Não é a primeira vez que Alvim e Juliana ficam mal das pernas diante do aluguel e anunciam o fechamento das portas, mas, dessa vez, sem o apoio de amigos ou de financiamento coletivo, a situação parece irreversível.

Segundo Alvim, porém, no dia 13, aconteceu um milagre. Ao sair da missa matinal, ele percebeu duas ligações perdidas de um número desconhecido no seu celular. Bastou retornar ao chamado para ouvir a voz do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista, por e-mail para VEJA SÃO PAULO, Alvim fala, entre outras coisas dessa conversa com Bolsonaro. E avisa que não teria tempo para réplicas porque, nos próximos dias, mergulharia em um ritmo de trabalho muito pesado, em Brasília.

Você se arrepende de ter declarado apoio ao presidente Jair Bolsonaro? 

E alguém pode se arrepender de escolher Deus e a verdade em detrimento de Satã e da mentira?

O que você diria a um artista que tenha a intenção de assumir um posicionamento político semelhante ao seu?

Eu direi que ele terá que atravessar um deserto, mas Deus nunca abandona seus filhos.

Você fala em saída do armário rumo ao conservadorismo. O que foi essa “saída do armário”?

Primeiro, eu me converti ao cristianismo. Essa foi a base a partir da qual me tornei conservador. E, por desdobramento inevitável, passei a apoiar politicamente a direita, encarnada em Jair Bolsonaro. Antes, eu era um esquerdista, propagador da agenda progressista. Estava cego e acreditava nas mentiras com que me bombardearam a vida inteira.

Em 2017, você descobriu um tumor benigno no intestino, certo? O medo de morrer, com um filho pequeno, mexeu com você e pode ter interferido nessa guinada?

A doença que quase me matou permitiu que a misericórdia infinita de Deus se manifestasse em minha vida. Seus caminhos parecem tortuosos para nós, mas seu plano é perfeito. Tive uma segunda chance, assim como Paulo, Jair Bolsonaro e o Brasil.

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Você decidiu votar em Bolsonaro por suas ideias políticas ou por seus princípios de sociedade, moral e família?

Seu slogan de campanha já diz tudo o que é realmente preciso que se diga: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Na quinta, dia 13, você publicou nas redes sociais que recebeu um telefonema do presidente Jair Bolsonaro. Como foi essa conversa? O presidente tem referências de seu trabalho? 

Homem sensível, nobre e justo, eleito democraticamente por quase 58 milhões de brasileiros, o presidente Bolsonaro me dará a possibilidade de fazer algo grande e belo, visando redefinir a cultura brasileira. É uma missão de vida, para a qual venho me preparando desde que comecei no teatro, há quase 30 anos. E vou cumpri-la, em nome da dignificação da arte e para a glória de Deus eterno.

Você vem de uma família católica?

As orações permanentes de minha mãe me livraram do ateísmo e do satanismo e ajudaram a me reconduzir aos braços de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Desde quando você é um praticante e que igreja você costuma frequentar?

Frequento a missa diariamente, às vezes duas vezes por dia, desde 2017. Vou na Igreja do Calvário, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia e na Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

O seu filho, Theo, de 11 anos, foi batizado?

Meu filho foi batizado, é óbvio.

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Juliana Galdino, sua mulher, também vem de uma formação católica ou descobriu a religião com você?

Só Juliana pode responder isso a você.

De que forma a religião interferiu no seu teatro? 

Tudo o que faço é “Ad Majorem Dei Gloriam”.

 A classe artística, em grande parte, é alinhada à esquerda. Ao apoiar Bolsonaro você devia ter consciência de que estava indo contra uma corrente. Esperava uma reação tão surpresa e crítica de seus colegas?

Confesso que levei um susto diante de tanto ódio, intolerância e brutalidade. A classe teatral brasileira não hesitou em se juntar em bando para me linchar. Perdi todos os meus amigos e colegas de trabalho, mas agora percebo que foi um livramento. Ganhei minha alma de volta.

Você afirma que seu espetáculo Aurora foi suspenso pelo Sesc. Seria mesmo um boicote ou mais um dos tantos projetos que eles podem ter interrompido ou congelado por conta da crise?

Foi um boicote, uma perseguição deliberada, um ataque específico à arte e ao pensamento. Qualquer outra justificativa é pura e simplesmente mentira, ainda que eu não possa provar legalmente.

Por que você acha que seu último espetáculo, Todos os que Caem, estreado em março no Sesc Campo Limpo, não foi interrompido ou cancelado?

Porque já estava marcado e acordado plenamente antes que eu manifestasse publicamente o meu apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

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Mas você manifestou apoio ao atual presidente em setembro…

Sim, mas depois, covardemente, voltei atrás. Procurei o Sesc, entre outros artistas e curadores de festivais, e disse que eu não apoiava o candidato Bolsonaro, que tinha apenas me solidarizado com o episódio do atentado à sua vida. Tive medo na época. Hoje, eu me envergonho disso.

A ocupação do Sesc Campo Limpo, uma unidade bastante afastada da área central, para o espetáculo Todos os que Caem pode ser considerada como uma represália? 

De maneira alguma. Foi maravilhosa nossa temporada por lá. Enchemos o teatro e demos oficinas de dramaturgia e atuação, com resultados incríveis, inclusive para os moradores da região.

Quando você diz que é chamado de homofóbico e racista que tipo de acusações são feitas, o que argumentam?

São pessoas da classe teatral. Alguns eu conheço, outros não. Não apresentam argumento algum, argumentam nada, a não ser meu alinhamento com o presidente Bolsonaro e com o filósofo Olavo de Carvalho. A esquerda cria suas próprias narrativas, desvinculadas da realidade, e repete suas mentiras infinitas vezes, para ver se elas acabam colando. Na minha página na rede social Facebook, estão postadas as printagens de uma série de acusações falaciosas que me fazem, tais como nazista, fascista, propagador de discurso de ódio e até racista. Um alto funcionário do Sesc, inclusive, foi um dos primeiros a encetar essa campanha violentíssima de assassinato da minha reputação.

Por outro lado, você pode ter ganhado alguns aliados. A atriz Regina Duarte, por exemplo, teve algum contato com você?

Eu me tornei próximo da Regina Duarte, que tem me ajudado muito e com quem falo quase todos os dias. Além dela, o ator Carlos Vereza também se tornou um amigo.

Sempre pairou uma unanimidade em torno de seu nome, com admiradores fervorosos, alguns que sempre o consideram ou consideravam ídolo e referência, um público fiel e acolhida da imprensa. Como você imagina seu teatro daqui para frente sem esses seguidores?

Haverá muito mais espectadores para meus espetáculos, muito mais do que jamais houve. Os antigos admiradores da minha obra se mostraram tão falsos quanto nota de 3 reais… Perdê-los foi uma graça de Deus.

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Sem o Club Noir e talvez com mais dificuldades para levantar suas produções, o que você pensa em fazer?

Vou mudar a história do teatro brasileiro.

Foi eleitor de Lula e de Dilma Rousseff em eleições passadas?

Votei em Lula e em Dilma, sim. Eu era um esquerdista até 2016, como disse anteriormente.

Como você se sente ao ouvir que o presidente Jair Bolsonaro, para citar duas declarações polêmicas, se diz admirador do coronel Brilhante Ustra e considera a decisão do STF que criminaliza homofobia como “equivocada”?

Considero maravilhosa a coragem desse homem, um mártir e um herói nacional, em dizer a verdade, por mais dura e difícil que seja. E concordo com ambas as declarações.

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