“O Rio”: a intimidade suspeita de Jez Butterworth
Nelson Baskerville dirige e protagoniza o drama do autor inglês no Teatro Anchieta
Profícuo expoente da dramaturgia inglesa, Jez Butterworth ainda é pouco conhecido nos palcos paulistanos. De sua obra, Zé Henrique de Paula montou Mojo em 2007, e seu mais recente trabalho, The Ferryman, é sucesso em Londres. O drama O Rio, escrito em 2012, surpreende o espectador por causa de uma intrigante estrutura narrativa capaz de fundir o intimismo com doses de suspense.
Um homem maduro (interpretado por Nelson Baskerville) chega a sua casa de veraneio ao lado da nova namorada (papel de Virginia Cavendish). É a primeira vez que a moça aparece por lá, e ela ganha estímulos para seguir um roteiro rígido em relação aos atrativos do lugar. A cena seguinte dá início ao quebra-cabeça engenhosamente tramado por Butterworth. Agora, a visitante é representada pela atriz Maria Manoella, e situações semelhantes referentes à propriedade são anunciadas.
O protagonista contracena, então, alternadamente com Virginia e Manoella e, aos poucos, o público decifra conflitos daquele homem resistente e, muitas vezes, de atitudes suspeitas. Também diretor, Baskerville constrói uma encenação diferente daquela a que está habituado, como nas peças Carmen, A Vida e Luis Antonio — Gabriela. A estética realista é reafirmada na casa cenográfica criada por Marisa Bentivegna ou em detalhes, como o peixe preparado e consumido pelos atores.
O mesmo vale para as interpretações. Virginia reforça a insegurança da personagem, enquanto Manoella transita entre a firmeza e o incômodo. Como ator, Baskerville é convincente, principalmente ao realçar a ambiguidade e, por fim, a fragilidade. Luciana Caruso completa o elenco na cena final (80min). 14 anos. Estreou em 19/1/2018.
+ Teatro Paulo Eiró. Avenida Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro. Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 20,00. Até 24 de março.