Morre Maria Della Costa (1926-2015): atriz e empreendedora
Para muitos, Maria Della Costa significa apenas um teatro localizado nas imediações da Praça 14 Bis, em São Paulo. Forçando um pouco mais a memória, outros vão associar seu nome ao de uma das mulheres mais belas que o Brasil já conheceu. O importante, porém, é ficar gravado que Maria Della Costa se consagrou como […]
Para muitos, Maria Della Costa significa apenas um teatro localizado nas imediações da Praça 14 Bis, em São Paulo. Forçando um pouco mais a memória, outros vão associar seu nome ao de uma das mulheres mais belas que o Brasil já conheceu. O importante, porém, é ficar gravado que Maria Della Costa se consagrou como uma das mais importantes atrizes do país e umas das primeiras a se caracterizar como uma empreendedora cultural.
Esse terreno tão em moda hoje em dia – o do empreendedorismo – foi desbravado por ela na década de 50. Na época, Maria e seu segundo marido, o produtor Sandro Polloni, levantaram um financiamento a perder de vista para construir o próprio teatro no então pouco movimentado bairro da Bela Vista. Projetada pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lucio Costa, a moderna sala manteve por mais de 25 anos uma programação de alta qualidade pautada pelo casal. No palco da Rua Paim, a atriz viveu seus grandes papéis, como as protagonistas de “O Canto da Cotovia” (1954), “A Alma Boa de Setsuan” (1958), “Depois da Queda” (1962) e “Bodas de Sangue” (1973). Ainda hoje em atividade, o Maria, como é conhecido na cidade, é administrado pela Apetesp há três décadas.
No sábado (24), Gentile Maria Marchioro Della Costa Polloni morreu vítima de um edema pulmonar aguado, aos 89 anos. Ela estava internada no Hospital Samaritano, em Botafogo, e foi velada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Gaúcha da cidade de Flores da Cunha, a atriz começou a carreira aos 18 anos, em 1944, e, três anos depois, fundou ao lado de Polloni o Teatro Popular de Arte (TPA). Este seria o embrião da Companhia Maria Della Costa, que, fixada em São Paulo, contribuiu – e muito – para a modernização das artes cênicas no Brasil. Em montagens conduzidas por jovens diretores, como Gianni Rato, Flávio Rangel e Antunes Filho, o grupo afastou as referências predominantemente europeias e montou textos de Nelson Rodrigues, Gianfrancesco Guarnieri e Plínio Marcos.
Mesmo que seu lugar natural fosse o palco, Maria flertou com a televisão, como grande parte de sua geração na virada da década de 60 para a de 70. Teve personagens de destaque em “Beto Rockffeler (1968), na Tupi, e, na Rede Globo, em “Estúpido Cupido” (1975) e “Te Contei?” (1978). Na década de 80, dois grandes sucessos populares marcaram suas investidas teatrais. Ao lado do ator Juca de Oliveira, ela protagonizou a comédia “Motel Paradiso” e, dirigida por Odavlas Petti, “Alice, Que Delícia”.
A estrela permanecia longe dos holofotes há mais de duas décadas. Entre 1980 e 2014, viveu em Paraty, onde manteve a Pousada Coxixo, e, depois da morte de Polloni, em 1995, decidiu se afastar de vez dos palcos. Sem filhos, Maria também escolheu ser enterrada na cidade do litoral fluminense. A reclusão alimentou Maria Della Costa como ícone do teatro brasileiro. No lançamento de sua biografia, em 2008, ela disse que nada disso foi proposital. A artista apenas perdeu o estímulo de estar em cena, em grande parte pela morte do marido e também porque já não se identificava mais com as propostas do teatro brasileiro.
Quer saber mais sobre teatro? Clique aqui.