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Museu da Língua Portuguesa: as novidades da reabertura em 31 de julho

Terraço é uma das surpresas da visita

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 jul 2021, 06h00
foto da fachada do museu da língua portuguesa durante o dia
Fachada renovada do Museu da Língua Portuguesa (GOVESP/Divulgação)
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“Nosso grande desafio foi reinventar o Museu da Língua Portuguesa para as pessoas que já o conheciam”, diz em tom entusiasmado o carioca Hugo Barreto. Ele foi um dos curadores responsáveis por repensar as atrações apresentadas na instituição, que tem sua reinauguração marcada para o dia 31. Isso, cinco anos e sete meses depois do incêndio que destruiu dois terços do prédio histórico, que, em 1946, já tinha sofrido com as chamas. “Com quinze anos de diferença, fiz uma visita ao mesmo tema, o nosso idioma”, afirma a também curadora Isa Ferraz, que esteve à frente da concepção do museu à época de sua abertura, em 2006, e também atuou em sua reconstrução agora, concluída em dezembro de 2019.

foto aérea de chamas consumindo a estrutura do museu da língua portuguesa, em 2015
Incêndio do museu e reconstrução: dois terços da estrutura foram engolidos pelas chamas (Bombeiros do estado de São Paulo/Fotos Públicas/Veja SP)
imagem aérea do terraço do museu da língua portuguesa sendo restaurado
(Rovena Rosa/Agência Brasil/Divulgação)

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Isa segue nessa função sozinha, contratada pela organização social IDBrasil Cultura, Educação e Esporte, que vem gerindo o espaço cultural desde 2012 e também é responsável pelo Museu do Futebol desde 2008. “Desde o fim das obras, dois anos atrás, estávamos prontos para abrir, mas a pandemia nos atrasou”, explica o português João Marques de Cruz, CEO da EDP, empresa de energia que é a mais importante patrocinadora da reforma, ao custo de 85 milhões de reais. Em meio ao frenesi da reinauguração aqui na capital, em 6 de julho, a sede da empresa em Lisboa foi alvo de buscas em investigação fiscal pela Autoridade Tributária e Aduaneira do país ibérico. A companhia nega problemas.

Com exclusividade, VEJA SÃO PAULO visitou o museu em 18 de junho e conferiu o que há de novo na instituição. “Fizemos ajustes no método, a fim de trazer novas abordagens, no conteúdo, nos aprofundando mais em alguns assuntos, e em questões relacionadas à diversidade, o que vai além dos sotaques e pensa o vocabulário específico de grupos ligados ao rap e ao funk, por exemplo”, descreve Isa.

Uma das seções-novidade é a Nós da Língua. Trata-se de uma instalação incrustada na parede, na qual é possível ver, por meio de vídeos e outros materiais, como é o nosso idioma em outros países onde ele é oficial. Leia-se Portugal, mas também Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Timor Leste e São Tomé e Príncipe. Participaram do desenvolvimento desse ambiente o escritor moçambicano Mia Couto e a artista portuguesa Grada Kilomba, entre outros. A atração Laços de Família, que também não existia na versão original do museu, é uma espécie de árvore etimológica da língua portuguesa, luminosa e bidimensional.

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Apesar do caráter cronológico, a Laços é diferente da linha do tempo que traz a história do português falado no Brasil, que é mais detalhada e agora se abre também à escrita da pichação, vista em fotos. Há espaço para a música dos Racionais MC’s, ouvida em um trecho da instalação, e à verve criativa do músico Arnaldo Antunes, que fecha a sequência com um objeto inédito, de sua autoria, semelhante a um vaso com letras em alto-relevo. Falares, que era um mapa interativo, é agora um bosque de telões em tamanho real, onde se exibem depoimentos de pessoas de todo o país. Somos banhados nessa estação por palavras conhecidas ou não, a depender de onde se nasceu e mora.

Para os mais apegados, um alento: a Grande Galeria continua lá, mas com o nome de Rua da Língua, e outra proposta, menos didática e mais artística, mais próxima da poesia concreta. Pelo telão de mais de 100 metros de comprimento é possível ver obras de Guto Lacaz, Rosângela Rennó, além do poema Cidade, City, Cité, do mestre Augusto de Campos. A luminosidade das projeções toma o espaço de forma delicada, prende ao que é visto e coloca o visitante num estado de deslumbramento.

Além da exposição permanente, há a mostra temporária Língua Solta, com curadoria de Moacir dos Anjos, e obras de nomes da cena contemporânea, como Dalton Paula, Lia Chaia e Paulo Nazareth. No fim da visita, sente-se um incômodo: a falta de uma homenagem ao bombeiro Ronaldo Pereira da Cruz, que perdeu sua vida combatendo o incêndio na instituição.

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Quanto às alterações estruturais no prédio, o projeto da reconstrução tem a supervisão de Pedro Mendes da Rocha. O profissional é um antigo conhecido da instituição. Ele e o pai, o renomado Paulo Mendes da Rocha (1928-2021), transformaram a área administrativa da Estação da Luz no Museu da Língua Portuguesa. “Algumas ideias vêm daquela época, como o terraço, que agora terá um café e será aberto ao público e contará com um elevador de acesso direto, o que promoverá sua independência em relação ao resto do museu”, diz Rocha. Ele conta ainda sobre a colocação do telão retrátil no auditório, que apresentará um vídeo inédito de Carlos Nader e receberá grupos a cada quarenta minutos. “Essa estrutura suspensa funcionará como uma passagem, mais orgânica, para outro ambiente, a Praça da Língua (com projeções de imagens e vídeos no teto).” O arquiteto salienta os cuidados que foram tomados com a segurança. “Seguimos todas as recomendações ordinárias, de prevenção, combate e alarme de incêndio. Por determinação do Corpo de Bombeiros, instalamos sprinklers (espécie de chuveirinho acionado pela presença de fumaça ou pelo aumento de temperatura no ambiente)”, reforça.

foto do terraço revitalizado do museu da língua portuguesa
Terraço: aberto ao público, com elevador de acesso direto (Instagram/EDP/Veja SP)

Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, s/nº, portão 1, Bom Retiro. Terça a domingo, 9h às 18h (bilheteria fecha às 16h30) (40 pessoas por vez). 20 reais (inteira), 10 reais (meia). Grátis aos sábados. Ingressos: sympla.com.br. Os tíquetes ainda não estão disponíveis.

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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de julho de 2021, edição nº 2746

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