ONG em Cotia promove crowdfunding para criar nova sede
Lar de<strong> </strong>230 bichos resgatados, entre leões, onças e outras espécies, Rancho dos Gnomos<strong> </strong>promove vaquinha de 1,2 milhão de reais
Ainda filhote, o leão Darshan foi dado pelo circo ao dono de um frigorífico de uma cidade na região metropolitana do Espírito Santo. Após o negócio falir, o proprietário deu no pé. O felino viveu durante treze anos em uma sala desativada. Por causa do piso escorregadio de azulejos, da alimentação improvisada pelos vizinhos e da falta de sol, desenvolveu graves problemas, principalmente na coluna, suavizados com acupuntura.
O burro Zebrito andava por aí pintado de zebra. Seu dono ganhava dinheiro com as fotos que os curiosos tiravam com a mascote. A tinta tóxica demorou três meses para sair e causou danos permanentes em sua pele. Encontrada acorrentada em uma oficina em São Paulo, a macaca Chiquinha era vítima de estupros. Gritava ao ver homens se aproximando, comportamento tranquilizado com a ajuda de florais e reiki.
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Essas são algumas das histórias comoventes dos aproximadamente 230 animais domésticos, exóticos e silvestres acolhidos e tratados pela ONG Rancho dos Gnomos. A entidade fica em um terreno de 34 000 metros quadrados em Cotia, a 35 quilômetros da capital. Os habitantes vieram de circos e zoológicos desativados ou foram vitimados por desmatamento, queimada, atropelamento, maus-tratos, tráfico, rituais e rinhas.
Encontram-se ali doze leões, seis onças pardas, quatro bichos- preguiça, seis veados, uma lontra, 110 cachorros e gatos, entre outras espécies. Fundada há mais de duas décadas, a instituição se banca por meio de doações, vindas majoritariamente de seus mais de 1 000 associados. A operação custa 60 000 reais por mês. Só de comida, entre ração, vegetais, frutas e carne, são 3 000 quilos.
No início das atividades, a sede se mostrava um paraíso no meio da mata. Com o crescimento urbano, entretanto, apareceram os problemas de insegurança e barulho. Por isso, Silvia e Marcos Pompeu, criadores do grupo, procuraram por muito tempo e encontraram um terreno de 180 000 metros quadrados em Gonçalves, cidadezinha de 4 000 habitantes em Minas Gerais. Ali, poderiam ser construídos recintos renovados e em maior quantidade. Nos últimos tempos, a ONG precisou recusar um elefante e um urso por falta de espaço.
Para tornar o sonho realidade, falta, porém, o principal: dinheiro. O casal arriscou alto em um crowdfunding, uma espécie de vaquinha virtual. Sua meta é amealhar 1,2 milhão de reais. Se alcançada, ela se configurará como a maior arrecadação do tipo já realizada no país. A campanha dura sessenta dias e termina em 5 de junho. Diversos famosos apoiaram a ação e a divulgaram pelo Facebook, a exemplo da atriz Gabriela Duarte, da modelo Ellen Jabour, da apresentadora Sabrina Sato e do cantor Jorge Vercillo.
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Até a última quarta (29), o valor alcançado chegava a cerca de 175 000 reais. É comum essas plataformas ficarem com uma porcentagem para divulgar o projeto. Neste caso, o site Kickante embolsa 12% da quantia se o objetivo for alcançado e 17,5% caso o total resulte menor do que o esperado. Também está à venda o terreno de Cotia, cuja renda ajudará a construir o novo local.
O Rancho dos Gnomos se denomina um santuário. “Não estamos abertos à visitação pública, não visamos ao lucro e não queremos a reprodução dos animais em cativeiro”, afirma Pompeu, que se diz contra a existência dos zoológicos. “Basta nos colocarmos no lugar dos bichos quando encarcerados para ver como a situação é estressante.” Eles tentam devolver à natureza todos aqueles em condições para isso.
Em 2013, por exemplo, fizeram a soltura de 128 araras e papagaios em Mato Grosso do Sul. No caso dos cães e gatos, procuram adotantes. O restante vive na instituição até o fim da vida. Há nove funcionários contratados para dar uma mão no dia a dia do espaço. Veterinários e voluntários prestam assistência.
A história da instituição começou em 1991, quando Pompeu e Silvia se mudaram para o sítio do pai dela. Ela era jornalista, ele, funcionário público. Não tinham nenhuma afinidade especial com bichos. Por influência de um amigo, ele levou uma cabra para casa. Logo depois, ficaram sabendo de um congresso de proteção animal e decidiram participar. “Vivíamos a nossa vidinha em uma bolha”, conta ele. “Mas aí descobrimos os rodeios, a indústria da pele, os abatedouros…”
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Hoje, eles fazem o estilo zen e adotaram o veganismo, ou seja, não comem nada de origem animal, de carne a mel e ovos. Atendem 24 horas por dia os pedidos da Polícia Militar, do Ibama, dos Bombeiros e de outras instituições que levam espécies resgatadas até eles. Os novos moradores têm o nome antigo mudado, para deixarem o passado de sofrimento para trás. “Temos um compromisso com os bichos”, afirma Silvia. “Queremos lhes proporcionar sempre o melhor, é a nossa missão.”