Race
- Direção: Gustavo Paso
- Duração: 75 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
A solidez da dramaturgia é meio caminho andado para determinar o impacto causado por um espetáculo diante do público. Principalmente quando o tema percorre uma trilha muito difundida, como é o caso das discussões em torno do preconceito racial e da violência contra a mulher nos dias de hoje. Com o drama Race, o diretor carioca Gustavo Paso faz a segunda investida na obra do célebre autor americano David Mamet, responsável por peças como Perversidade Sexual em Chicago, e caminha a passos largos nesse debate. Em 2015, ele já havia surpreendido a plateia paulistana com sua versão nada maniqueísta para Oleanna (1992), do mesmo dramaturgo, que colocava em xeque um professor denunciado por assédio. Desta vez, o foco se amplia e incomoda mais o espectador. Montado pela primeira vez no Brasil, o texto, lançado em 2009, apresenta um homem maduro e endinheirado (papel de Clóvis Gonçalves) que procura um escritório para defendê-lo da acusação ter estuprado uma mulher negra. Inicialmente resistentes, os advogados (interpretados por Gustavo Falcão e Leandro Vieira), um deles negro, ficam seduzidos com as vantagens financeiras e criam uma tese capaz de desestabilizar a possível unanimidade entre os jurados. Cabe a uma jovem advogada (representada por Heloísa Jorge), também negra, perturbar os argumentos dos seus chefes e trazer à tona um questionamento perturbador, que vai além do racismo, da misoginia e do machismo. Principal arma do diretor, os diálogos ágeis e certeiros são muito bem explorados pelo entrosado elenco e ganham diferentes intenções no decorrer da trama. O grande mérito de Paso, no entanto, é a imparcialidade, Em nenhum momento, o espetáculo toma partido dos personagens, mesmo nas ações mais discutíveis. Dessa forma, o debate é alimentado e dispensa as verdades absolutas tão comuns em relação ao politicamente correto. Estreou em 1º/4/2017. Até 31/5/2017.