Profissão Fotógrafo
Resenha por Jonas Lopes



Apesar da célebre rivalidade, muitos
aspectos aproximam Brasil e
Argentina. Um deles é explorado na
primorosa mostra Profissão Fotógrafo, em
cartaz no Museu Lasar Segall. Composta
de 45 imagens em preto e branco, a
montagem recorre à produção de Hildegard
Rosenthal (1913-1990), suíça radicada em
São Paulo durante grande parte da vida, e
do argentino Horacio Coppola, hoje com
103 anos. Os registros traçam comparações
entre a capital paulista e Buenos Aires na
virada da década de 30 para a de 40 do
século passado, e as semelhanças entre elas
chamam atenção. Ambas as cidades surgem
como metrópoles em expansão, abertas
ao progresso industrial, à arquitetura
modernista e ao burburinho das multidões.
Após estudar na França e na Alemanha,
Hildegard chegou com sua Leica ao Brasil
em 1937, acompanhando o noivo judeu que
fugia dos nazistas. Tornou-se uma pioneira
de nosso fotojornalismo, graças ao
olhar apurado para o dia a dia de tipos
paulistanos — operários, moças passeando,
vendedores, torcedores de futebol. Coppola
começou a fotografar em 1927. Cinco anos
depois, foi estudar na famosa escola
alemã Bauhaus, na qual permaneceu até o
fechamento da instituição pelos nazistas,
em 1935. Daí sua preferência por ressaltar
as formas geométricas e funcionais de
edifícios, vitrines e outdoors de endereços
portenhos como a Plaza de Mayo, a Calle
San Martín e o bairro da Boca. Ainda
assim, também se dedicou aos personagens,
da mesma forma que Hildegard nunca
negligenciou a arquitetura (cenários do
nosso centro, a exemplo da Praça da Sé
e do Edifício Martinelli, aparecem em
suas fotos). O grande acerto da exposição
foi conseguir combinar as principais
qualidades dos dois.