Portugal Portugueses
Resenha por Julia Flamingo
Assinada pelo angolano Yonamine, a impressionante obra O Pão Nosso de Cada Dia é composta de aproximadamente 3 000 pães. O assistente do artista trouxe para São Paulo torradeiras e chapas de metal customizadas para gravar nas fatias imagens de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola desde 1979. Antes de serem expostas, elas ficaram um tempo ao ar livre. Assim, ganharam aspecto de fresquinhas — a vontade de comer uma delas é quase incontrolável. Por trás, há uma provocação política, que denuncia a opressão e a corrupção do líder. O trabalho está entre as 200 instalações, fotografias e vídeos da pujante exposição Portugal Portugueses, em cartaz no Museu Afro Brasil. Concebidas por quarenta artistas com diferentes relações com o país luso, as obras traçam um panorama da produção contemporânea. Muitas trazem temática relacionada à colonização — como é o caso do banco coberto por arame farpado, de Rui Calçada Bastos. Outras peças são voltadas para a cultura e a memória portuguesas, a exemplo de Coração Independente Vermelho #3, da renomada Joana Vasconcelos. Feita com talheres de plástico avermelhados, a instalação é acompanhada por fados, em gravações de Amália Rodrigues. Não perca ainda as esculturas de vidro de José Pedro Croft, o ensaio fotográfico Ruínas, de Orlando Azevedo, e as pinturas hiperrealistas de Michael de Brito, com retratos de costumes. Até 8/1/2017.