Orgia ou De Como os Corpos Podem Substituir as Ideias

- Direção: Luiz Fernando Marques
- Duração: 120 minutos
- Recomendação: 18 anos
- Ano: 2015
Resenha por Dirceu Alves Jr.





Nos anos 60, o dramaturgo argentino Tulio Carella passou um período no Recife como professor da Universidade Federal de Pernambuco. Deixou a mulher em Buenos Aires e, no Brasil, se encantou pela diversidade de raças e estilos de vida, mergulhando na homossexualidade. Essas memórias estão relatadas no livro Orgia, Os Diários de Tulio Carella, Recife, 1960, que inspirou os integrantes do Teatro Kunyn, dirigidos por Luiz Fernando Marques, a criarem o drama itinerante. Batizada de Orgia ou De Como os Corpos Podem Substituir as Ideias, a montagem começa em um apartamento nas redondezas da Avenida Paulista. Por lá, o grupo de espectadores é apresentado à história, como se fosse um convidado da festa de despedida de Carella (interpretado por Ronaldo Serruya, Paulo Arcuri e Luiz Gustavo Jahjah), que está de malas prontas para o Brasil. No ápice naturalista, todos tomam vinho, degustam linguiças, ouvem música e conversam sobre literatura. O trajeto até o Parque Trianon, onde se desenrola o espetáculo, equivale à viagem do protagonista. Atores e público, munido de aparelhos de MP3 para ouvir as falas, se confrontam com o desconhecido e se surpreendem, inclusive, com a rotina da rua e do próprio parque. Nesse diálogo inesperado, a direção mostra as descobertas do estrangeiro no Brasil. Serruya, Arcuri e Jahjah circulam entre as vias e arvoredos e contracenam com mais 10 atores, misturados aos frequentadores do Trianon sem uma identificação muito clara. Em um dos melhores momentos, uma folia carnavalesca simboliza a orgia e, em seguida, um cordão repressivo conduz o público em fila ao porão onde o protagonista foi torturado, acusado de contrabandista de armas e comunista. Em um raro exemplo de equilíbrio entre dramaturgia, interpretações e invenção, o Teatro Kunyn realiza a proeza de provocar diferentes perfis de espectadores e trazer à tona histórias que parecem longe do descarte. Estreou em 10/7/2015. Até 18/10/2015.