Infância Clandestina
- Direção: Benjamin Ávila
- Duração: 112 minutos
- Recomendação: 14 anos
- País: Argentina/Espanha/Brasil
- Ano: 2011
Resenha por Miguel Barbieri Jr.
Como forma de exorcizar seu passado, o diretor portenho Benjamín Ávila juntou-se ao roteirista brasileiro Marcelo Müller — eles se conheceram na Escuela Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños, em Cuba — para criar uma história que relembra o regime militar na Argentina, entre 1976 e 1983. Escrito a quatro mãos, o drama Infância Clandestina é o representante argentino na disputa por uma das cinco vagas ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Vale lembrar: o Brasil indicou O Palhaço, de Selton Mello. Embora tenha traços autobiográficos, a trama traz licenças ficcionais. Tudo começa na chegada a Buenos Aires do menino Juan (Teo Gutiérrez Romero) e sua irmã, ainda bebê. Eles estavam em Cuba e, em 1979, atravessaram a fronteira entre o Brasil e a Argentina, rumo à capital portenha, passando-se por filhos de um casal daqui. Já na casa do tio Beto (Ernesto Alterio), reencontram seus pais verdadeiros, Cristina e Horacio (Natalia Oreiro e César Troncoso). O trio faz parte do movimento revolucionário Montoneros e quer combater o regime na base da luta armada. Assim como os adultos, Juan precisa viver na clandestinidade e mudar de nome. Vira Ernesto e, aos 11 anos, entre a tensão constante e as preocupantes notícias diárias, ele encontra o primeiro amor ao lado de Maria (Violeta Palukas), sua colega de escola. O iugoslavo Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios e o sueco Minha Vida de Cachorro, ambos de 1985, foram referências para que Ávila realizasse seu primeiro longa-metragem de ficção. Fica mais evidente, contudo, uma comparação com o nacional O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006). Tal qual no belo trabalho de Cao Hamburger, o ponto de vista da era de chumbo vem de um protagonista mirim e, mesmo com a presença dos conflitos políticos, sobressaem no enredo as dores emocionais do garoto, aqui vivenciando um cotidiano movido a mentiras, fugas e mortes. Para coroar o trabalho de Ávila e Müller, o longa-metragem conquistou, na semana passada, dez troféus no Prêmio Sur, o principal da Argentina, incluindo melhor filme, direção e roteiro. De narrativa sóbria e com emoções autênticas, a fita tem alguns momentos previsíveis, mas o roteiro de Müller é redondinho. O trunfo, porém, está na força encontrada pelo realizador ao retomar amargas lembranças em seu registro genuíno. Estreou em 07/12/2012.