Genet, o Poeta Ladrão
- Direção: Sérgio Ferrara
- Duração: 80 minutos
- Recomendação: 18 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
A principal qualidade da encenação criada por Sérgio Ferrara para o drama Genet, o Poeta Ladrão, escrito por Zen Salles, é ser francamente interessada no público gay. As tentativas existem na cena local. Poucas produções, no entanto, saem do armário a ponto de assumir a pretensão de cativar essa plateia sem cair em opções discutíveis. O óbvio ponto de partida gira em torno do escritor, poeta e dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986). Interpretado com expressividade por Ricardo Gelli, Genet, homossexual assumido, foi morador de rua, presidiário, militante político e um dos mais instigantes nomes da literatura do século XX. Já rende história por si só. A dramaturgia de Zen Salles, entretanto, ganha valor ao usar os personagens criados por Genet para melhor explicá-lo. Já na primeira cena, vem a citação da montagem de O Balcão, dirigida por Victor Garcia e produzida por Ruth Escobar, que se tornou emblemática em 1969 por desafiar a ditadura militar. O bordel, principal cenário da peça, atravessa todo o espetáculo, assim como a inclusão de fragmentos de Querelle de Brest, transformando o marinheiro e michê (representado pelo ator Felipe Palhares) um personagem fixo da trama. Em meio ao elenco de nove atores e uma atriz (Gabriele Lopez), outro destaque fica para Nicolas Trevijano na pele do travesti Divina. Longe do óbvio e carregado de fragilidade, o ator equilibra as contradições do papel e consegue fazer a melhor ponte entre o universo de Genet e a violência que atinge os homossexuais ainda no século XXI. Com Fransérgio Araújo, Nicolas Trevijano,
Rogério Britto, Felipe Palhares e outros. Estreou em 17/10/2013. Até 12/2/2015.