Fados
- Direção: Carlos Saura
- Duração: 88 minutos
- País: Portugal/Espanha
- Ano: 2007
Resenha por Miguel Barbieri Jr






Depois de revisar o tango e as sevilhanas, o diretor espanhol dá sua interpretação da música portuguesa através de depoimentos e apresentações de Chico Buarque, Caetano Veloso e Cesária Évora, entre outros. O diretor espanhol Carlos Saura tem 77 anos e uma filmografia direcionada ao estreito casamento de cinema e música. Suas pesquisas na área já renderam frutos nos cancioneiros espanhol (Flamenco, de 1995) e no argentino (Tango, de 1998). Portugal entra agora na rota com o curioso Fados. Saura não pretende ser didático e, sem grandes pretensões, distancia seu longa-metragem do documentário convencional. Tampouco interessa a ele recorrer à manjada fórmula do show gravado.
Antes de mais nada, Fados é um musical (o oitavo na carreira do cineasta) indicado para quem gosta de… fados. Trata-se de uma seleção enfileirada de melancólicas canções portuguesas em diversas roupagens. Elas são apresentadas por gente da velha-guarda e por astros da nova geração. Para mostrar a presença do ritmo além-mar, a produção buscou nomes em ex-colônias, como Brasil (nas vozes de Caetano Veloso, Chico Buarque e até Toni Garrido) e Cabo Verde (Lura). Há também a influência do gênero em releituras de hip hop e morna, a típica canção cabo-verdiana.
Toda rodada em estúdio, a fita alça voo alto quando veteranos entoam versos saudosistas conquistando, assim, o coração da plateia. É o caso do grande cantor Carlos do Carmo, de 70 anos e idealizador do projeto. Suas interpretações para Fado da Saudade e Um Homem da Cidade, com imagens de Lisboa projetadas numa tela, são de molhar de lágrimas a alma. Ainda faz bonito a octogenária Argentina Santos em Vida Vivida. Ricardo Ribeiro, Ana Sofia Varela, Cuca Roseta e Mariza (moçambicana criada em Portugal e uma das principais fadistas da atualidade) dão a resposta para quem acha que o ritmo está só ligado ao passado. Mas no quesito homenagens o filme fica em saldo devedor. Alfredo Marceneiro (1891-1982) ganha um tributo modernoso no rap do NBC, SP & Wilson e a diva Amália Rodrigues (1920-1999) aparece em uma chocha apresentação. Descontando-se esses deslizes, o musical de Saura dá um saboroso caldo verde.