Eu Eu Eu José Lewgoy

- Direção: Cláudio Kahns
- Duração: 96 minutos
- País: Brasil
- Ano: 2011
Resenha por Miguel Barbieri Jr





Talvez o grande público conheça José Lewgoy (1920-2003) apenas por seus trabalhos mais marcantes — as chanchadas da Atlântida ou as novelas da Rede Globo. A intenção do diretor paulistano Cláudio Kahns, contudo, é ir um pouco mais afundo na filmografia desse grande ator no documentário “Eu Eu Eu José Lewgoy”. Em seu segundo longa-metragem — o anterior, “Mamonas para Sempre”, sobre o grupo Mamonas Assassinas, chegou às telas em junho —, Kahns preferiu deixar de lado intimidades e relacionamentos e concentrar-se na carreira de Lewgoy. Sabe-se, porém, que ele saiu aos 15 anos de Veranópolis, a 160 quilômetros de Porto Alegre, para tentar a vida como tradutor na capital gaúcha. No cinema, estreou apenas em 1949, com “Carnaval no Fogo”, produzido nos estúdios da Atlântida. A partir daí, não parou mais. Vieram o primeiro contato com a estrela Tônia Carrero, no filme “Perdida pela Paixão” (também conhecido como “Quando a Noite Acaba”, de 1950), e os personagens de destaque de “Aviso aos Navegantes”, “Amei um Bicheiro” e “Matar ou Correr”. Em 1954, Lewgoy se mandou para a França com míseros 500 dólares no bolso. Permaneceu lá dez anos — trabalhando como ator. Na volta, foi “rejeitado” pelos diretores do cinema novo, mas nem por isso deixou de brilhar em “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Ele somou 100 filmes e 23 novelas em mais de cinco décadas. Embora formado em artes dramáticas pela Universidade Yale, pisou pouquíssimas vezes num palco. Parte da fita traz registros preciosos, como cenas do longa francês “S.O.S. Noronha”, de 1958, e de novelas dos anos 70, a exemplo de “Anjo Mau”, “O Rebu”, “Nina”, “Dancin’ Days” e “Feijão Maravilha”. Entremeados às imagens, há depoimentos dos atores Walmor Chagas e Anselmo Duarte, dos escritores Luis Fernando Verissimo e Millôr Fernandes, e dos cineastas Guilherme de Almeida Prado (“A Hora Mágica”) e o alemão Werner Herzog, com quem Lewgoy fez “Fitzcarraldo”. “O Judeu”, de 1996, mostrou-se um de seus últimos bons desempenhos. O biografado falava inglês, francês, italiano e espanhol. Não parecia ter preconceitos com papéis — transitava da chanchada à pornochanchada, do cinema marginal ao comercial, dos vilões (sua especialidade) aos tiozinhos bonachões. Era rabugento e tinha cara de zangado, na opinião de alguns amigos, e faz uma tremenda falta para seus parentes de Veranópolis, que lembram de suas esporádicas visitas à cidade dirigindo um Fusquinha vermelho. Estreou em 25/11/2011.