Caetano Dias – Blau Projects

Resenha por Julia Flamingo


Ecoa no sertão nordestino o som melódico e por vezes estridente da rabeca. Espécie de violino mais rústico, o instrumento, que chegou por aqui junto com os portugueses, logo virou denominador comum de festas e rituais na região. Para recriar a história da Guerra de Canudos (1896-97), o artista baiano Caetano Dias usa então a própria rabeca como protagonista de um vídeo homônimo no qual um músico andarilho percorre o interior da Bahia. A obra faz parte da mostra Céu de Chumbo, que revisita a história do confronto entre o Exército brasileiro e os integrantes do grupo liderado pelo religioso Antonio Conselheiro. Nas mãos de Dias, as referências são atualizadas e é possível refletir sobre as condições da mesma região. O artista volta ao tema da rabeca na série Mulatos, composta de releituras do objeto feitas de aço, vidro e mármore. Para representar a ruína de Canudos, ele retrata a si mesmo em performances que remetem a imagens impactantes de destruição e extermínio. No trabalho fotográfico Entre Terras e Águas, por exemplo, apresenta a profecia de Conselheiro — “O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Empunhando um regador azul, espalha pelo mar a terra da hoje pacata cidade de Canudos. Ao lado, com os pés e parte das pernas enterrados, joga sobre o solo a água do mar.