A Ira do Narciso
- Direção: Yara de Novaes
- Duração: 100 minutos
- Recomendação: 18 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Canções de Roberto Carlos, como Desabafo e A Distância, embalam a entrada do público na sala. À direita do palco, o ator Gilberto Gawronski lança olhares para quem chega. O som desaparece, e ele conta como recebeu do dramaturgo uruguaio Sergio Blanco o monólogo A Ira de Narciso, que, em minutos, começa a interpretar. O personagem é o próprio autor. Convidado para uma conferência em Liubliana, na Eslovênia, Blanco se instala em um hotel e aproveita um período vago para vasculhar um aplicativo de paquera. O sexo casual com um rapaz em sua suíte corre como planejado e, depois da despedida, Blanco pega no sono. Na madrugada, porém, ele enxerga uma mancha de sangue no carpete e se envolve em um obsessivo jogo de interrogações pelos quatro dias seguintes. O dramaturgo constrói um suspense raro. O tormento do protagonista induz o público a um instigante quebra-cabeça. Direto, provocativo, natural, Gawronski tira o máximo proveito da metalinguagem e domina a atenção até o surpreendente desfecho. Vale tudo em nome da arte? A parceria de Blanco com Gawronski garante que sim, em uma narrativa nada óbvia e repleta de viradas incomuns. Participação de Murillo Basso. Direção de Yara de Novaes (100min). 18 anos. Estreou em 12/4/2018.