Artistas convidadas expõem obras sobre natureza na CASACOR
Regina Parra, Juliana dos Santos e Bruna Mayer contam a inspiração por trás dos trabalhos expostos

A cada ano, a CASACOR explora a vocação para linguagens além da arquitetura, decoração e paisagismo. Uma das áreas com mais atenção é a arte. Neste ano, com a mudança para o Parque da Água Branca e o tema socioambiental, três artistas convidadas expõem obras permeadas pela natureza: Regina Parra, Juliana dos Santos e Bruna Mayer.
Com trabalhos na coleção do Masp e individual na Pinacoteca em 2023, a paulistana Regina Parra traz ao evento “Aterradora Liberdade”. A instalação, feita para a ocasião, é uma escultura de neon com as palavras do título. A inspiração veio de “A Paixão Segundo G.H.” (1964), de Clarice Lispector, que fala sobre como pode ser assustadora a sensação de liberdade.

“Estava na minha cabeça há um tempo, queria que fosse na natureza”, conta. Regina avalia que a expressão ganha outro sentido quando é apresentada em meio à vegetação. “O sentido de aterrador pode ser de terra, ou seja, a liberdade como forma de colocar os pés no chão.” Para ela, é um convite ao mergulho e reencontro com a natureza.
O trabalho de Juliana dos Santos, também paulistana, gira em torno de uma flor comestível. Desde 2017, ela realiza uma pesquisa sobre a Clitoria ternatea, conhecida como fada-azul ou cunhã, em tupi. A artista explorou métodos até chegar ao pó da flor e à técnica do sopro. Ao aplicá-lo em um tecido, notou o surgimento de rajadas. “Ela cria padrões, tem lei própria. Ganha profundidade e volume”, descreve. “A planta tem um DNA imagético. A Clitoria é uma colaboradora.”

Para a CASACOR, Juliana criou o conjunto “Dois Tempos”, com cinco telas flutuantes, suspensas por cabos no teto. De um lado, apresenta o resultado do encontro da flor com o tecido, que se oxida com o passar do tempo e vai do azul ao amarelo. De outro, fez aquarelas, para mostrar pinturas permanentes. “Tem uma perspectiva interessante de pensar o que devolvemos para a natureza, como encerramos o ciclo”, comenta, em vista do tema da mostra. Ela protagoniza uma exposição na Pina Contemporânea em agosto.

A curitibana Bruna Mayer está com duas obras no evento: “O Avesso da Terra”, produzida para a CASACOR, e “From the Stars We Came, to the Stars We Shall Return” (2021). A primeira é composta por cápsulas de vidro em formato de rocha, com um ecossistema interior criado a partir de microrganismos obtidos no parque, que se proliferam nos recipientes e mudam de aparência com o tempo. “Meu trabalho busca dissolver fronteiras entre humano e natureza, afinal não são coisas distintas. Trago a percepção de que tudo é vida”, diz.

A segunda é uma videoinstalação que explora o cosmo de bactérias e fungos encontrados no solo de cemitérios de Berlim, mergulhando nas “galáxias”, que são as colônias formadas pelo cultivo dos microrganismos. A intenção é chamar a atenção para as semelhanças com formações espaciais.

“Há uma reflexão poética sobre para onde vamos após a morte, voltar às estrelas. Eles queriam muito apresentar esse vídeo, pois era uma síntese da proposta do ano.” Na mostra, a obra é exposta de forma inédita, projetada em todas as paredes de uma sala. “É nossa realidade, nossa verdade, não tem como fugir.” A CASACOR segue em cartaz até 3 de agosto no Parque da Água Branca.
Publicado em VEJA São Paulo de 30 de maio de 2025, edição nº2946.