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Somos todos reféns em São Paulo

Levantamento exclusivo mostra que 71% dos entrevistados se sentem amedrontados na cidade

Por Daniel Bergamasco [com reportagem de Flora Monteiro, Ricky Hiraoka, Nathália Zaccaro e Pedro Henrique Araújo]
Atualizado em 27 dez 2016, 17h55 - Publicado em 24 fev 2012, 23h50

Mesmo com carro blindado e segurança particular, o fotógrafo André Schiliró diz que transita pelas ruas de São Paulo em estado permanente de alerta. “Não uso relógio, não ostento grifes, não mostro nada”, conta. “Apesar de todos esses cuidados, não consigo relaxar.” Apresentadora de programas de culinária na TV, Palmirinha Onofre também vê o crime limitar seu dia a dia. “Adoraria ir ao Mercado Municipal comprar frutas e verduras frescas, mas morro de medo do centro”, afirma. Já o maestro Júlio Medaglia admite que não fica tranquilo nem quando está encastelado no próprio lar. “E olha que minha casa parece uma prisão, com muro alto de ferro, agente de segurança e câmeras, por causa de repetidas tentativas de invasão”, descreve ele, morador do Morumbi, bairro marcado pela explosão de roubos a residências no ano passado.

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Relatos como esses fazem parte do cotidiano da metrópole, onde o medo restringe possibilidades de ir e vir, a partir de um temor justificado não só pelas ações criminosas que se tornam notícia, mas muito especialmente pelas experiências individuais. Segundo uma pesquisa do Departamento de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Abril Mídia, feita para VEJA SÃO PAULO, que ouviu 1.978 paulistanos entre os dias 6 e 15 deste mês, 76% dos entrevistados já foram abordados por ladrões e 81% tiveram parentes vítimas de algum tipo de delito. As respostas que mais impressionam no levantamento, contudo, se referem a questões subjetivas. Só 17% afirmam se sentir seguros andando de dia pelas ruas. À noite, o porcentual é de míseros 2%. Triste consequência: quase metade, 49%, já cogitou se mudar daqui por se sentir ameaçada.


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Estatísticas de diversos tipos respaldam tal sensação. Se por um lado os homicídios caíram 48% desde 2006, a taxa hoje é de nove por 100.000 habitantes, pouco mais do que a da Cidade do México (8,4). Além disso, houve no período uma escalada de 93% nas mortes em assaltos e um aumento de roubos (4%). Uma das ações que mais chamam atenção no momento são os arrastões em condomínios e mansões de bairros nobres. No último dia 14, por exemplo, uma quadrilha com cerca de dez integrantes invadiu um prédio em Higienópolis e assaltou seis apartamentos. Até a noite da Quarta-Feira de Cinzas, nenhum dos bandidos havia sido preso. “São criminosos armados de forma mais pesada, com fuzis, metralhadoras e outros equipamentos de guerra, em busca de imóveis com muito dinheiro ou bens valiosos guardados”, afirma Antonio Ferreira Pinto, secretário de Segurança Pública de São Paulo.

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Na tentativa de conter a ação dos bandidos, a indústria particular de segurança ganhou um corpo impressionante em São Paulo. Hoje, o número de vigias privados na cidade (113.626, segundo o sindicato da categoria) é o triplo do de policiais militares (35.000). O faturamento do setor de proteção eletrônica saltou de 256 milhões para 420 milhões de reais entre 2006 e 2010. A metrópole ficou conhecida internacionalmente como a capital mundial dos veículos blindados, com uma frota que chega a impressionantes 50.000 unidades à prova de bala. Só no ano passado, 5.725 desses carros ganharam as ruas. O número é maior do que a soma de toda a produção em 2011 de México (2.300), Venezuela (1.800) e Colômbia (1.400), países tradicionalmente férteis em clientes para esse mercado. Em nossas ruas, a blindagem vem deixando de ser exclusiva de modelos mais caros, como Mercedes e Audi. Hoje em dia, até alguns carros mais populares, como Gol e Saveiro, contam com o reforço, conforme mostra uma das histórias ao longo da reportagem, nas quais moradores da cidade narram como experiências pelas quais passaram, ou o medo do que pode acontecer, se tornam um transtorno diário na vida deles.

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METRÓPOLE EM ALERTA

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Pesquisa exclusiva ouviu 1.978 moradores da cidade

76% dos entrevistados já foram abordados por assaltantes

81% tiveram pessoas da família vítimas de alguma violência

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71% consideram a metrópole insegura

57% sentem-se mais seguros quando estão longe daqui

49% já pensaram em deixar São Paulo por causa da criminalidade

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38% acham que a falta de segurança é o maior problema da cidade

FONTE: LEVANTAMENTO DO DEPARTAMENTO DE PESQUISA E INTELIGÊNCIA DE MERCADO DA ABRIL MÍDIA, COM 1.978 ENTREVISTADOS, REALIZADO ENTRE OS DIAS 6 E 15 DE FEVEREIRO

 

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Vítima recorda o roubo a apartamentos de seis famílias de seu prédio, em Higienópolis, na terça (14) ( / “Minha casa foi o QG do arrastão”, afirma dentista)
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Cabeleireiro da presidente teve o apartamento roubado na Aclimação ( / Celso Kamura: “Após o ‘rapa’, adeus ao dúplex”)
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Estabelecimento no Capão Redondo, na Zona Sul, foi roubado sessenta vezes em 2011 ( / Rotina em posto de gasolina: dia sim, dia não, um assalto)
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Número de mortes em assaltos cresceu 93% desde 2006 ( / Chef Nicolas Dornaus foi morto após tentativa de roubo em Interlagos)

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