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A rota dos vitrais: as obras da Casa Conrado

Conheça as peças fabricadas por essa empresa que completa 120 anos

Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualizado em 5 dez 2016, 19h33 - Publicado em 18 set 2009, 20h26

Nem o martelo de 1955 para testar o reflexo nos joelhos dos pacientes, nem a foto de dom Pedro II visitando o hospital em 1886. As relíquias que mais se destacam no prédio da Beneficência Portuguesa, na Bela Vista, em meio à recém-aberta exposição que comemora seus 150 anos, são 48 vitrais. Em especial os 33 que cobrem, desde os anos 50, três paredes do Salão Nobre. Eles compõem o acervo de mais de cinquenta conjuntos instalados em São Paulo pela Casa Conrado. A empresa foi fundada em 1889 pelo alemão Conrado Sorgenicht (1835-1901), que havia desembarcado no país catorze anos antes, depois do fim da Guerra Franco-Prussiana. Pela primeira vez, produziam-se vitrais nacionais como os que eram importados da Europa e haviam iluminado o período da Idade Média. Originária do Oriente no século X, essa técnica minuciosa ganharia espaço nos principais prédios públicos, igrejas e mansões paulistanos ao longo dos últimos 120 anos.

É o caso do Mercado Municipal, da Catedral da Sé e da Sala São Paulo, com vitrais executados ou restaurados pelos três homens de mesmo nome que ligaram a história da família à da capital paulista. O patriarca não desenhava. Importava os vidros coloridos e os colava com um filete de chumbo conforme o desenho de artistas convidados, seguindo a técnica difundida nas igrejas góticas de seu país. Foi um de seus herdeiros, o também alemão Conrado Sorgenicht Filho (1869-1935), quem realmente exibiu talento artístico e impulsionou a vidraria. Os painéis com ilustrações rurais que colorem o Mercadão, no centro, desde 1932 foram feitos por Conrado Filho após uma viagem pelo campo para fotografar referências. Por abrigar os soldados que lutavam na Revolução Constitucionalista, o mercado sofreu com vidros quebrados por tiros e teve sua inauguração adiada para o ano seguinte.

Entre os anos 20 e 30, a arte em vitrais viveu seu primeiro auge na cidade. O quase monopólio da Casa Conrado se deveu, em parte, a uma parceria com o engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo. Além de ilustrar os vitrais do Mercadão, Conrado Filho executou as obras do Palácio das Indústrias, de 1924, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e da mansão da Avenida Paulista hoje conhecida como Casa das Rosas, ambas de 1934. O segundo pico de encomendas veio nas décadas de 50 e 60, já sob o comando de Conrado Adalberto Sorgenicht (1902-1994), neto do fundador e único dos três Conrado nascido em São Paulo. Ele levantou os vitrais da Beneficência e da Faap, com 58 obras de diferentes artistas – entre eles Tarsila do Amaral, Carybé, Lina Bo Bardi, Portinari e Tomie Ohtake – que começaram a ser instaladas em uma parede de vitrais com 230 metros quadrados a partir dos anos 50.

“A obra preferida de meu avô era A Veneração de São Vicente, reprodução do pintor português Nuno Gonçalves, que está na Beneficência”, conta a artista plástica Regina Lara Silveira Mello, neta de Conrado Adalberto. “Essa é uma arte cara, demorada e que está em extinção. Cada metro quadrado custa entre 3?000 e 3?500 reais.” Também vitralista, Regina é professora da Universidade Mackenzie e ensina sobre a história dos vitrais. “Meu avô quase morreu de desgosto quando a Igreja Nossa Senhora do Brasil substituiu seus originais por réplicas de acrílico”, diz. Regina prepara o guia dos vitrais de São Paulo, ainda em busca de patrocínio. Entre as surpresas da publicação está o mais antigo dos 600 trabalhos da Casa Conrado catalogados no Brasil: uma rosácea da Igreja Luterana, na Avenida Rio Branco, no centro, datada de 1908. Conrado Adalberto teve apenas uma filha, Iolanda, mãe de Regina, que se casou a contragosto do pai aos 16 anos. Por isso, pouco antes de sua morte, o terceiro Conrado não quis que ela assumisse a empresa e a repassou à sua secretária. Hoje, a outrora mais importante fábrica de vitrais da cidade funciona com apenas seis funcionários em um escritório em M’Boi Mirim. Vive de restaurações, como a que faz dos vitrais do Teatro Municipal, e da fama do passado glorioso.

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