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Novembro Azul promove cuidados com a saúde masculina no Brasil

Jornalista se inspirou em Outubro Rosa para criar a campanha dedicada ao câncer de próstata e outras doenças; pacientes relembram suas experiências

Por Humberto Abdo
Atualizado em 12 nov 2020, 11h14 - Publicado em 12 nov 2020, 10h22

Dedicada à prevenção do câncer de próstata e aos cuidados com a saúde masculina, a campanha Novembro Azul surgiu das mãos da jornalista Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida. Inspirada pelo Movember, proposta criada na Austrália com o bigode como “símbolo” do movimento, a versão brasileira aposta na analogia ao Outubro Rosa, que defende o controle e conscientização do câncer de mama — mas a influência feminina vai além dessa semelhança no modelo da campanha. “Incentivamos que o homem seja protagonista da própria saúde em vez de terceirizar obrigações como as marcações de consultas, normalmente feitas pela esposa”, diz Marlene. “É algo que ocorre com frequência.”

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O instituto, fundado por Marlene há doze anos, foi resultado de sua própria vivência com um amigo que faleceu de câncer de próstata. “Durante o tratamento, em sua fase final, ele sugeriu uma organização com olhar para a população masculina e deixou um estatuto indicando como ela poderia ser”, relembra. “Passei dois anos olhando para aquele material até criar um portal de conteúdo sobre saúde masculina, cuja audiência cresceu cada vez mais.”

Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida. (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Enquanto o internacional Movember investe majoritariamente em doações para pesquisas, a iniciativa de Marlene busca divulgar informações sobre saúde cardiovascular, câncer e saúde do homem a partir de métodos de prevenção, diagnóstico e tratamentos disponíveis. “O câncer de pênis é nosso foco este ano”, conta. “É uma questão de higiene básica, simples de resolver, mas no Brasil ainda temos 1 600 amputações por ano.”

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“Só fui procurar um médico com a ajuda da minha mulher, de tanto ela insistir”, recorda-se o zelador Carlos Mazzuca, 66, diagnosticado com câncer de próstata em 2018. Com dificuldade para urinar e acordando várias vezes para ir ao banheiro, Mazzuca desistiu de ir a duas consultas médicas antes de finalmente visitar um especialista. Após testes iniciais, foi constatado que ele estava com aumento da próstata e o exame de toque retal identificou alguns nódulos. “Era um câncer em estágio muito avançado. Dei sorte porque felizmente não tinha chegado à bexiga”, comemora. “Discutimos qual seria o tratamento e ele me apresentou alternativas: uma delas seria retirar a próstata, mas optei pelo bloqueio androgênico de testosterona e 40 sessões de radioterapia.”

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“O câncer na próstata está relacionado ao sedentarismo e à obesidade“, resume o doutor Marcelo Vieira, coordenador da clínica do Programa de Atenção Integral ao Homem. “Se puder ter boa alimentação, evitar produtos com gordura animal e fazer exercícios, já ajuda a prevenir.”

Segundo o médico, todo homem acima de 50 anos deve se consultar com um urologista. “Se a pessoa tiver parentes de primeiro grau com casos de câncer ou se for da raça negra, que tem maior incidência dessa doença, aconselhamos fazer os exames a partir dos 45”, complementa.

“Os homens são machistas ao falar de próstata, a primeira coisa que vem à cabeça é ‘pô, vai ter que passar pelo toque retal'”, admite Carlos. “E não é sempre isso, quando você procurar um urologista ele vai fazer uma série de perguntas e montar seu prognóstico para saber quais exames serão necessários.”

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“Hoje é difícil um homem dessa faixa etária ter preconceito com exame retal”, contrapõe Vieira. “Mas eu não obrigo pacientes a fazerem… Converso e explico por que só o PSA não é suficiente, por exemplo: porque até 20% dos cânceres de próstata não são detectados nesse tipo de exame e porque a taxa de cura é alta quando a doença é diagnosticada na fase inicial.”

“Precisei de ajuda psicológica quando recebi o diagnóstico e comecei o tratamento”, acrescenta Carlos. “Passei a não dormir direito, tinha crises de choro… Acabei superando o problema depois que comecei a me informar, frequentar ambulatórios para tomar o bloqueio de hormônio e encontrar pessoas em situações parecidas ou piores, casos de quem não conseguia nem caminhar.”

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Para divulgar casos como o de Carlos e derrubar os estigmas envolvendo a doença e o exame, cujo procedimento dura apenas alguns segundos, Marlene espera fortalecer as ações deste Novembro Azul nas plataformas digitais. “Quando começamos a campanha, passamos por grandes perrengues porque algumas pessoas nem queriam pegar folhetos de orientação na rua, reagiam com agressividade”, revela. “Hoje isso mudou, embora o exame ainda seja motivo de piada em algumas ocasiões.”

Casos de superação

No Brasil, a campanha aborda a saúde masculina de modo geral, incluindo prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, como a de Cláudio Teixeira, 72. Após cuidar durante seis meses da esposa, paciente de um linfoma no cérebro, ele recebeu o diagnóstico de estenose aórtica, um estreitamento da válvula responsável pelo fluxo de sangue do coração até a aorta. “Comecei a sentir falta de ar ao subir uma ladeira, coisa que nunca senti antes, e procurei um cardiologista. Com exames, descobrimos essa ‘cristalização’ na válvula aórtica”, conta. Antes de passar por uma operação cirúrgica, Cláudio ainda chegou a contrair a Covid-19 e precisou obedecer a quarentena. “Me internei em julho e agora fiquei pleno, antes o sangue que bombeava (no coração) era muito reduzido.” Após a recuperação, ele passou a frequentar a academia e fazer caminhadas. “Tem que ter uma boa alimentação, não fumo, evito doces, refrigerantes… Essa formação de cristais é algo causado por sedentarismo”, afirma.

Benny Coquito, diagnosticado com câncer de cólon retal em 2015. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Paciente em tratamento de câncer de cólon retal, Benny Coquito, 56, foi diagnosticado em 2015 após notar um sangramento. Depois de passar por três cirurgias e tratamentos de quimioterapia e radioterapia, hoje vive apenas com o uso de quimioterápicos. “Atrapalha um pouco a minha mobilidade porque preciso usar uma bolsinha o tempo todo, o que já me pregou algumas peças, e hoje em dia não posso nadar, por exemplo, algo que sempre gostei de fazer”, lamenta.

Como voluntário do CVV, no início da pandemia ele notou as tendências a quadros de depressão pela situação de isolamento e teve a ideia de realizar pequenos shows na varanda de casa. “Como toco violão e gosto de cantar com meu filho mais velho, comecei a cantar na janela e passei a transmitir por lives no Facebook”, diz Benny, que trabalhou com rádio e TV por mais de três décadas. “Cheguei a manter a rotina de apresentações por 120 sem parar.”

 

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