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Aventuras no litoral: o diário de bordo de João Lara Mesquita

Jornalista lança site sobre expedição de dois anos pela costa brasileira

Por Mariana Barros
Atualizado em 1 jun 2017, 18h23 - Publicado em 22 nov 2011, 12h45

Com uma ideia na cabeça e uma câmera a bordo, o jornalista João Lara Mesquita, 56 anos, lançou-se na costa brasileira para registrar o estado de conservação dessa faixa litorânea descoberta meio milênio atrás. No veleiro Morgan, de 46 pés, ele e sua equipe esmiuçaram os tesouros e os problemas ambientais percebidos ao longo do percurso, que se estendeu também por rios da Amazônia, indo do Oiapoque ao Chuí, num total de quase 10.000 quilômetros, e levou dois anos até ser concluído, entre 2005 e 2007.

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As aventuras por entre enseadas, baías, ilhas e comunidades caiçaras originaram o programa “Mar sem Fim”, exibido pela TV Cultura naquela mesma época. Desde quinta-feira passada, as 45 horas de filmagem que compõem a série podem ser revistas no site do Mar Sem Fim, misto de blog, memória de expedições e extenso banco de imagens. “É um amplo levantamento sobre o assunto, repleto de surpresas agradáveis e outras nem tanto”, diz Mesquita.

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Em São Paulo, segundo ele, estão algumas das praias mais bem conservadas da viagem, sobretudo no sul do estado. “São as joias da coroa do litoral”, afirma, destacando a Praia da Jureia, na Estação Ecológica Jureia-Itatins, entre as cidades de Peruíbe e Iguape. No momento, a região discute um projeto de lei do governo estadual que pretende remover dez das doze comunidades de moradores instaladas na área preservada. A boa iniciativa enfrenta forte resistência, pois resultaria na expulsão de cerca de 200 famílias dali. “As pressões econômicas e demográficas sobre esses refúgios são cada vez maiores, tornando cada vez mais difícil a luta por sua manutenção”, acredita.

Ambiente - João Lara Mesquita -2244
Ambiente – João Lara Mesquita -2244 ()

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O Morgan percorreu outros trechos paulistas onde a natureza reina absoluta. É o caso de Cananeia, próximo à divisa com o Paraná. A Ilha do Cardoso, situada no município, guarda flora e fauna riquíssimas, com botos e onças pintadas dando as caras. Situação semelhante ocorre na Ilha de Montão de Trigo, entre as enseadas de Bertioga e São Sebastião. Cerca de vinte famílias sobrevivem da pesca de subsistência, afastadas do agito do Litoral Norte.

Bonete, Ilhabela - 2244 - Ambiente
Bonete, Ilhabela – 2244 – Ambiente ()
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Outro ótimo exemplo pode ser visto na Praia do Bonete, no sul de Ilhabela. Sem energia elétrica e com ingresso apenas por trilhas, ela é de difícil acesso, o que impede sua superlotação. “O acesso complicado garante a ordem”, diz o ambientalista Carlos Roberto Nunes, do Instituto Ilhabela Sustentável. “Qualquer lugar onde se abre uma estrada se transforma em alvo da especulação imobiliária e logo fica apinhado de carros”, acrescenta, relembrando os estragos provocados nos anos 80 com o asfaltamento da Rio-Santos.

Essa preocupação fez com que a construção de uma passarela na trilha de 14 quilômetros que vai do centro de Ilhabela ao Bonete fosse embargada por órgãos ambientais. Eles temem que a obra leve à criação de uma rota para automóveis e acabe com a tranquilidade do local. Na última segunda (14), porém, a prefeitura do município, após obter autorização, reiniciou o projeto. “Mas vamos continuar controlando por lá o acesso de veículos”, promete o prefeito Toninho Colucci.

Ubatuba - Ambiente - 2244
Ubatuba – Ambiente – 2244 ()
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Infelizmente, como constatou a expedição Mar sem Fim, os paraísos bem preservados estão virando uma exceção. Flagrantes de problemas ocorreram em boa parte da viagem: fazendas irregulares de camarão, resorts instalados na areia, costões ocupados por casas de veraneio e esgoto jogado ao mar. Nesse último quesito, embora os índices de poluição da água em São Paulo muitas vezes se mostrem preocupantes, o estado exibe bons indicadores de saneamento. “Há investimento”, afirma Mesquita. “Na Riviera de São Lourenço, por exemplo, embora a orla tenha sido descaracterizada com prédios de dez andares à beira-mar, existe um tratamento de dejetos exemplar.”

Mais grave é a ocupação desordenada ao longo das rodovias que levam às praias. Em São Sebastião, que reúne pontos turísticos muito procurados pelos paulistanos, como Maresias, Barra do Sahy e Juqueí, casebres sem nenhuma infraestrutura na beira do asfalto abrigam famílias numa área onde a Mata Atlântica deveria ser preservada. Estima- se que 22.000 pessoas vivam em favelas na região — eram 5.000 dez anos atrás. Nas últimas duas décadas, o crescimento da população na cidade foi de 117%, resultando em 74.000 moradores atualmente. “A falta de cuidado com a vegetação não é exclusividade nem de pobres nem de ricos”, aponta o ambientalista Nunes. “Todos são responsáveis pelos danos.” Em morros de Ubatuba, no Litoral Norte, a cobertura original foi substituída por pinheiros, árvores sem relação com as espécies nativas. Já na Praia de Guaecá, também ao norte, o desflorestamento provocou erosão no topo das encostas.

São Sebastião - Ambiente - João Lara Mesquita - Favela - 2244
São Sebastião – Ambiente – João Lara Mesquita – Favela – 2244 ()
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Músico, fotógrafo e jornalista, João Lara Mesquita incorporou a função de defensor ambiental com o passar dos anos. De 1982 a 2003, período em que esteve à frente da Rádio Eldorado, do grupo Estado, que tem sua família como acionista, liderou campanhas pela despoluição do Rio Tietê, pelos cuidados com o lixo e pela preservação da Mata Atlântica. Logo após sair da emissora, deu início à jornada de contorno da costa brasileira. Em seguida, foi a vez de partir para mares mais distantes. Em outubro de 2009, zarpou do Rio Grande do Sul rumo à Antártica. A expedição tinha o objetivo de pesquisar o impacto do aquecimento global sobre os oceanos. Elefantes-marinhos, focas, baleias e pinguins apareceram ao longo da jornada, transformada em programa de televisão pela Rede Bandeirantes.

A caixa “Mar sem Fim — Viagem à Antártica”, lançada neste mês, contém três DVDs com registros da aventura. A partir de abril, João Lara, como é mais conhecido, vai refazer o percurso pelo litoral brasileiro para verificar o que melhorou e o que piorou desde a última visita. Em maio, a TV Cultura deve exibir os primeiros episódios da viagem, com duração prevista de um ano e meio.

 

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