12ª edição da SP-Arte é marcada pelo novo setor de design
O espaço com 23 galerias no terceiro andar do Pavilhão da Bienal indica que a feira segue tendência mundial
A 12ª edição da feira SP-Arte abre suas portas nesta quinta (7) para o público. Quem não pretende investir em obras pode encarar o evento como um grande museu: ali estão mestres da arte moderna e os mais destacados artistas da arte contemporânea. Com um time de 140 galerias que não se configura muito diferente dos últimos anos, a grande novidade da edição é o setor dedicado ao design. São 23 estandes reunidos no terceiro andar do prédio projetado por Oscar Niemeyer.
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A incorporação do comércio de mobiliários marca uma SP-Arte atualizada. Setores do tipo já fazem parte da Art Basel, por exemplo, a maior e mais importante feira de arte contemporânea do mundo, há mais de dez anos. A ArtRio, feira que acontece anualmente no Pier Mauá, no Rio de Janeiro, implantou o setor em sua 4ª edição, há dois anos.
Fernanda Feitosa, diretora do evento em São Paulo, já ensaiava a criação do setor há algumas edições. Nos últimos anos, alguns lounges do pavilhão eram mobiliados pela Ovo e Marton Estudio e seu discurso já indicava a vontade de trazer de vez estas e outras galerias para a feira. Porém, pairavam dúvidas sobre a iniciativa de misturar o design – que preza a funcionalidade das peças – com a arte. “Logo decidi que seria uma ótima ideia”, diz Fernanda.
Para o designer Humberto Campana, da famosa dupla Irmãos Campana, as áreas andam de mãos dadas. “A grande criação deste século é o hibridismo”, diz ele. Ao lado de Fernando Campana, apresenta mobiliários da série Cangaço, além de outros móveis inéditos no estande da Firma Casa. Para a dupla, o novo setor foi muito bem-vindo: ajuda a mudar a concepção tradicional de que o mobiliário é apenas um objeto prático e útil.
“Assim como a arte, o design pode ser engajado e provocar estranhamento ou encanto naquele que o admira”, explica Fernando. Trabalhando juntos há mais de 35 anos, os irmãos têm como pilar fundamental fazer a ponte entre as duas áreas. Em 1994, foram os primeiros designers brasileiros a expor no MoMA, em Nova Iorque – antro da arte contemporânea mundial, que já tem um núcleo dedicado ao design há mais de oitenta anos.
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O gaúcho Hugo França, outro designer aclamado internacionalmente, vende na feira seus marcantes bancos feitos de troncos caídos, os quais ele intitula de “escultura-mobiliária”. “Prezo tanto pela funcionalidade como pela estética”, explica. Espalhados por todo o Instituto Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, seus bancos se confudem com as obras de arte contemporânea que os cerca. Cinco “esculturas-mobiliárias” foram vendidas durante a abertura da SP-Arte, na última quarta (6).
O design também é assunto em outras galerias da cidade que acabam de inaugurar novas mostras por ocasião da feira. Além do atelier do Hugo França, onde está em cartaz a mostra Linha Negra, com peças assinadas pelo próprio artista, a ArtEEdições Galeria também se entregou à tendência. A exposição Design Moderno: uma Vertente Brasileira, reúne mobiliários assinados por Lina Bo Bardi, Abraham Palatnik, Joaquim Tenreiro, Zanine Caldas, entre outros renomados. Com curadoria de Jayme Vargas, apresenta móveis de coleções particulares, muitos dos quais carregam aspectos das artes plásticas. Peças de Joaquim Tenreiro, por exemplo, um dos nomes centrais do mobiliário moderno brasileiro, são totalmente artesanais.
Vargas também assina os textos do recém-lançado livro Desenho da Utopia (R$ 140), com ensaio do fotógrafo Ruy Teixeira. Peças de design que fazem parte de acervos pessoais são fotografas nas casas dos próprios colecionadores e ao lado de outras peças contemporâneas.